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Dom Orvandil

Bispo Primaz da Igreja Católica Anglicana, Editor e apresentador do Site e do Canal Cartas Proféticas

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A tragédia humana e moral dos pelegos

Eles também atuam na venda distorcida das imagens de bondade dos patrões. "Argumentam" que melhoramentos de salários e de condições de trabalho podem ser resolvidos conversando pessoalmente com os patrões, sem pressões e greves.

Operários da Honda trabalham em linha de montagem de motocicleta na Zona Franca de Manaus, AM, um dos principais polos industriais do Brasil. (Foto: Dom Orvandil)
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Prezada amiga Helliana Tenuta, Cuiabá, MT

Desenvolvi aqui um texto intitulado “O muro é o lugar dos covardes e eticamente miseráveis” (para minha alegria publicado pelo grande site Brasil 247, com elevado número de acessos), preocupado com a apatia assumida por muitas pessoas, que tentam confortar-se na falsa morada do muro da “neutralidade”.

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Essa apatia reveste-se ora pelo cinismo não assumido de algumas e ora por pura desonestidade de outras, ambas covardes – sobre covardia e coragem escrevi artigo aqui – e desleais com a realidade. Isto é, o mundo se manifesta objetivamente de um modo e elas o negam.

Reconheço que há pessoas boas, aqui lembraria o velho bispo metodista do Rio Grande do Sul, Sady Machado da Silva, um poeta e literato, que afirmava que há pessoas muito santas que buscam ser generosas com os dois lados do muro, por isso  encimam-se nele.

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Eu, porém, penso que essa santidade – que respeito – não resolve o conflito que a realidade impõe como um tsunami irrefreável.

Uma figura mais dinâmica e danosa do que o muro é a do pelego, muito usada no meio sindical, mas que amplio aqui para todos os setores da vida.

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Este símbolo veio dos meios campesinos, principalmente gaúchos, usado pelos cavaleiros para amortecer os impactos das patas dos cavalos em contato com o chão e acumulado sobre o seu lombo com muito osso. O pelego é feito de peles com lã, retiradas de ovelhas e carneiros, também usado como colchão para sestas ou até pernoites sob árvores frondosas.

A função dos pelegos é acalmar os impactos conflitivos. No ambiente de trabalho os pelegos são os trabalhadores usados para “pensar” e agir solertemente com a mente e interesses dos patrões e proprietários dos meios de produção.

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Todos continuam vivendo do trabalho e da produção, mas negam essa condição ideológica e socialmente ao serem cooptados pelos donos das empresas como canal para amenizar o ímpeto naturalmente rebelde da classe trabalhadora, composta por eles e por seus colegas.  

Os pelegos enfiados nos sindicatos e centrais sindicais espionam as organizações que defendem os interesses e necessidades de justiça trabalhista para vendê-las como informações aos patrões, sob-bajulações, na maioria das vezes.

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Eles também atuam na venda distorcida das imagens de bondade dos patrões. “Argumentam” que melhoramentos de salários e de condições de trabalho podem ser resolvidos conversando pessoalmente com os patrões, sem pressões e greves.

Para esse segmento a luta econômica de caráter coletivo não existe. São personalistas e individualistas, buscando vantagens para si e os seus.

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Neste vídeo relatei um encontro que sindicatos, centrais sindicais e intelectuais tivemos com o deputado federal Daniel Vilela, aqui de Goiás. Com algumas exceções feitas de pelegos, a maioria de nós fomos duros nas críticos contra as reformas da Previdência e Trabalhista, que os canalhas tentam impor e como agenda  do processo golpista que se abate sobre nossa democracia. Sem peleguismo, não deixamos de apelar ao deputado que escolha o nosso lado como inspiração para seu trabalho naquela nefasta comissão parlamentar e na Câmara dos Deputados.

Impressionei-me com a fala do deputado ao reagir aos discursos vindos do auditório. Um dos tópicos usados por ele como argumento em favor dessas reformas diabólicas foi o de que trabalhadores são favoráveis a essa crosta de nojeira que a elite golpista joga sobre nós. Porém, os trabalhadores mencionados por ele são de sindicatos e centrais pelegos e tidos como inimigos dos trabalhadores.

Pensei no serviço que esses infiltrados prestam ao movimento social em favor da justiça trabalhista e da democracia centrada nos interesses e necessidades de classe e da maioria de nosso povo.

No contexto de luta da classe trabalhadora, entre os que defendem os interesses de classe libertos do peleguismo, há uma variedade gigantesca de princípios ideológicos. Mas é enorme a capacidade intelectual e política de lideranças, que habilmente e com grande amplitude respeitosa,  sabe negociar e articular ganhos de interesse de toda a classe. Posso dizer que aí não há ignorantes da realidade em termos econômicos, trabalhistas e políticos.

Os pelegos são enorme prejuízo para eles e para a classe trabalhadora como um todo, além de não serem da total confiança da classe dominante. Penso que a filósofa francesa Simone de Beauvoir define muito bem o conteúdo e a prática dos pelegos, embora use outra terminologia: “o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos”.

Talvez “coxinhas” seja um conceito muito próximo do de pelegos. Ambos são trabalhadores cúmplices dos opressores.

A pequena diferença é que os coxinhas são os confusos apaixonados que defendem as piores soluções para o País e são marcados por clamorosa ignorância da realidade, mas brigam como se a conhecessem  com domínio teórico. Os pelegos, por sua vez, atuam como quinta coluna entre os seus iguais com o objetivo de enganá-los e enrolá-los ganhando vantagens como puxa sacos patronais.

Tenho experiência com três setores institucionais, onde vejo com dor a “militância” dos pelegos-coxinhas.

Um é o da docência, onde me deparo com professoras e professores, que são trabalhadores, mas que defendem cega e surdamente os proprietários dos meios de produção e do capital. São estupidamente violentos e indignos de confiança. Geralmente  se colocam a favor de projetos nacionais conservadores, neoliberais e de direita. Vazios do conhecimento da realidade discursam autoritariamente sem escutar seus colegas que pensam alternativamente.

Informes de intelectuais engajados na luta sindical e política dizem do elevado número de professores públicos e privados exercendo o vergonhoso papel da traição de classe. Muitos das universidades públicas, que tinham seus coros arrancados por faculdades e universidades privadas, uma vez aprovados em concursos, ao receberem salários melhores alienam-se se tornando pelegos-coxinhas, totalmente “desclassificados” – desligados das entidades e até repulsivos às suas classes trabalhistas representativas.

Julgam-se intelectuais, mas suas fontes são as mais bolorentas, idealistas, academicistas e negativas possíveis da realidade.

Muito triste essa traição!

Outra corrente eivada de pelegos é o jornalismo, onde me deparo 24 horas diárias com vendidos e vendidas que fabricam informações extremamente destrutivas da verdade, do direito, da justiça e da realidade, ajudando aeticamente os seus patrões, empresários das comunicações, na delapidação do Brasil e de nossa democracia.

Esses pelegos talvez não avaliem o mal que ajudam os seus patrões a fazerem na manipulação de todo um povo, dando parto  aos golpes e a manobras tinhosas contra o sentido coletivo e cidadão da democracia.

Finalmente, outra coluna de pelegos que nega a realidade, revestindo suas posturas de falsa neutralidade e de misericórdia é no ambiente religioso.

Na minha juventude, em plena ditadura, atuei predominantemente na sociedade, sempre valorizando muito o rádio, o jornal e a tv, fui dedurado, preso e condenado à prisão pela  lei de segurança nacional – ideologia do imperialismo como a define o Padre José Comblin no seu maravilhoso livro “A Ideologia da Segurança Nacional” – graças a cristãos de minha e de outras igrejas. Dominados pelo discurso opressor, embora frequentadores de igreja, negaram a lealdade ao irmão em Cristo e me entregaram ao cadafalso prenhe da dor das torturas e do medo da morte violenta. E assim aconteceu com muitos em toda a América Latina, traídos por pastores, padres, bispos e cardeais. Na Argentina alguns padres e bispos foram arrastados aos tribunais após derrubada a ditadura para prestar contas à justiça pelos crimes que ajudaram a praticar contra inocentes e patriotas, de quem discordavam sem conhecer sua realidade e inspirações. No Brasil a Comissão da Verdade se deparou com uma realidade monstruosa de participação cruel de pastores, padres e bispos na dedoduragem de pessoas que foram torturadas, aleijadas e mortas nos porões do DOI-CODI e do DOPS, verdadeiras milícias terroristas da ditadura. Alguns pregaram e celebraram em suas igrejas e depois foram às prisões torturar e, ironicamente, distribuir Bíblias para os supliciados.

Choco-me profundamente com cristãos que nada sabem de Jesus e sua história da opção preferencial pelos pobres, injustiçados e oprimidos de todas as formas. São verdadeiros pelegos-coxinhas infiltrados em igrejas ou até igrejas inteiras se prestando à tarefa de demonizar o povo, os diferentes e, principalmente, os lutadores que se entregam à fé na humanidade que geme e sonha por sociedade mais justa.

Como os pelegos-coxinhas de outros campos os cristãos que assim “pensam”, creem e agem negam o mundo dos poderosos conflitos de classe e se alienam da realidade.

Esses três e todos os segmentos se assemelham como pelegos e são ruins porque não conversam sério, não se unem, não abrem espaços para a divergência fraterna e são perigosos porque violentos, manipulados, fracos e traiçoeiros. Mais hoje ou mais amanhã suas facas são espetadas impiedosamente nas costas de seus irmãos de viagem e de luta, tudo com base no personalismo e nos interesses pessoais imediatos.

Fazem parte inexorável da banda que passa em direção do abismo das sombras e do lixo da história.

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