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Milton Blay

Formado em Direito e Jornalismo, já passou por veículos como Jovem Pan, Jornal da Tarde, revista Visão, Folha de S.Paulo, rádios Capital, Excelsior (futura CBN), Eldorado, Bandeirantes e TV Democracia, além da Radio France Internationale

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A verdade, uma vez mais, é a primeira vítima da guerra

"Iremos entrar nas próximas semanas num patamar de elevada tensão", escreve Milton Blay

Veículos militares russos durante exercício militar na região de Rostov (Foto: REUTERS/Sergey Pivovarov)
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A citação costuma ser atribuída a Ésquilo, Philip Snowden e Samuel Johnson, mas sua verdadeira autoria é desconhecida.

"A primeira vítima da guerra é a verdade." Sabemos isso desde sempre e a guerra da informação em torno do conflito na Ucrânia não é exceção.

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Para muitos, a comunicação norte-americana deixou de ser crível sobretudo após a guerra do Iraque e da mentira  sobre as armas de destruição de massa, que a Casa Branca sabia perfeitamente não existirem. Como consequência, os governos europeus (aliados históricos dos Estados Unidos), mesmo os que se opuseram à Guerra do Iraque, perderam a credibilidade. 

Consequência: o movimento pacifista na Europa, extremamente ativo nas últimas décadas,  ainda não acordou para esta grave ameaça à paz e não saiu às ruas para pressionar Putin, ao contrário do que fez  no passado sobre Bush, no episódio da guerra no Iraque. 

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Os pacifistas estão ausentes, apesar da ameaça à paz na Europa.

Por outro lado, Putin é mestre em desinformação e utilização das redes sociais; conta com o antiamericanismo de muitos, que o vêem como um defensor da paz e da ordem internacional. Estes acusam Washington de querer envolver o ocidente numa guerra contra a Rússia. Tal afirmação, claro, é absurda, já que os americanos sabem que a Rússia não é o Iraque e que tal guerra poderia levar a um confronto de grande proporção, com armas termonucleares e ao risco de destruição da vida no hemisfério Norte. 

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Putin sabe que a Aliança Atlântica, ao menos no curto e médio prazos, não virá em defesa da Ucrânia, que nem sequer é membro da NATO. A respeito, Biden declarou, desde o início da crise, que nenhum soldado americano morreria pela Ucrâni

Tudo o que se sabe sobre a estratégia de Putin é a concentração de forças militares significativas na fronteira e a chantagem de guerra, em nome de uma revisão da ordem europeia, com o abandono da expansão da NATO para leste.

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Ora, Putin sabe que não terá uma garantia por escrito de que novos países serão integrados à Aliança. O seu objetivo então, como diz Álvaro Vasconcelos, Diretor do Instituto de Estudos e de Segurança na Europa, seria o de forçar o governo da Ucrânia, através da ameaça de guerra, a ceder em três questões sine qua non: na aspiração a ser membro da NATO; no reconhecimento de que a Crimeia é parte da Rússia; e na aceitação da independência da região separatista de Donbass. 

A essas três condições poderíamos acrescentar uma  quarta: a mudança de regime em Kiev, o que poderá acontecer se o governo de Volodímir Zelenskii capitular às exigências do Kremlin. Neste caso, o presidente ucraniano poderá ter de se demitir e o caos se instalaria no país, abrindo caminho para a instalação de um governo pró-russo. 

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Neste caso, preveem os especialistas em relações internacionais, as consequências poderiam ser devastadoras para a Europa de Leste, fragilizando as suas democracias e a integração desses países ao resto da Europa. Se Putin for bem sucedido,  as conquistas democráticas e a integração europeia do pós-Guerra Fria estariam comprometidas.

O fim dos exercícios militares na Bielorrússia, previsto para domingo 27/2, e sobretudo o que acontecerá depois representa um teste à conduta da Rússia na crise ucraniana. O terreno nunca foi tão fértil para que a Rússia consiga transformar a Bielorrússia numa espécie de linha avançada militar às portas da NATO.   

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Em contrapartida, a estratégia norte-americana para contraditar os objetivos de Putin é menos clara. Se de um lado Washington procura dissuadir uma possível invasão militar, ameaçando a Rússia com pesadas sanções, acompanhadas por um reforço limitado da capacidade militar da Ucrânia, de outro Biden alimenta o conflito, lançando alertas diários sobre uma provável invasão russa. É difícil entender a razão destes constantes alertas da Casa Branca (de que a Rússia pode invadir a qualquer momento) e a decisão de retirar o pessoal diplomático. Essa estratégia joga água no moinho russo de máxima pressão, causando danos à economia da Ucrânia.

Os Estados Unidos aceitam reabrir as negociações com o Kremlin sobre a redução de mísseis de médio alcance e sobre o controle de manobras militares no Leste da Europa, mas rejeitam pôr fim à chamada política de portas abertas da NATO ou ao estacionamento de forças militares nos países do antigo Pacto de Varsóvia, hoje membros da Aliança, como as repúblicas bálticas.

Emmanuel Macron, presidente em exercício da União Europeia, em coordenação com o chanceler alemão, tem tentado  desenvolver uma complexa estratégia: acompanha os Estados Unidos na denúncia da pressão militar russa e na ameaça que representa para a paz, mas  aceita o reconfigurar a ordem europeia e incluir garantias de que a NATO não se estenderá para o leste.

Os europeus também procuram uma saída negociada para o conflito no Donbass, com base nos acordos de Minsk, assinados pelos ucranianos no final da intervenção militar russa de 2014. Em outras palavras, a Europa está consente que o Donbass será de fato uma região quase independente – como a Abecásia, na Geórgia, depois da intervenção russa de 2008. Para França e Alemanha não há solução militar para garantir a unidade da Ucrânia, mas apenas uma solução política, que implicaria a eventual integração econômica à União Europeia e, talvez a longo prazo, a integração plena.

Putin poderá então retirar as suas tropas, dizendo que as preocupações sobre a ordem europeia foram atendidas e que o gasoduto Nord Stream II  será mantido.

O mais provável é que iremos entrar nas próximas semanas num patamar de elevada tensão, em que os dois lados vão continuar a usar os meios de hard power e em que a guerra informativa irá continuar sem restrições”, escreveu no Financial Times o analista Dmitri Trenin. “Mas, e este é um importante ‘mas’, os diplomatas vão continuar a negociar questões em que seja possível chegar a um acordo no momento, tornando o pior dos cenários menos provável”, acrescenta.

A diplomacia europeia joga aí todo o seu peso.

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