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Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

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A visibilidade dos “excluídos” no adeus ao papa em Buenos Aires (vídeo)

'Pessoas trans, casais heterossexuais e homossexuais ergueram bandeiras e cartazes com frases que foram ditas pelo pontífice', escreve Marcia Carmo

Dois argentinos e o Papa Francisco (Foto: Reuters I Reprodução (X/247/MarciaCarmo))

Na concentração e na caminhada da despedida do papa Francisco, neste sábado, em Buenos Aires, uma multidão de peregrinos ganhou visibilidade. Na manhã ensolarada do outono portenho, jovens que lutam contra a dependência química, reunidos na ONG Fundação Hogar de Cristo, pessoas trans, casais heterossexuais e casais homossexuais das paróquias dos bairros carentes e da periferia da cidade erguiam bandeiras e cartazes com frases que foram ditas pelo pontífice.

“Todos somos seres humanos”, dizia um deles. “A igreja deve estar nas ruas”. Eles dançaram ao som de tambores. “Nós ficamos órfãos”, disse o religioso Jorge Ganz , do bairro Inta, de Villa Lugano, na província de Buenos Aires. O sacerdote, vestido com uma batina gastada, com uma faixa nas cores da bandeira argentina e um broche com o rosto do pontífice, chegou à praça num ônibus lotado de jovens. Além das faixas e cartazes, eles trouxeram bumbos – instrumento típico das manifestações argentinas.

A concentração começou cedo na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, onde foi realizada uma missa na Catedral de Buenos Aires. Ali, Jorge Bergoglio foi arcebispo antes de ser pontífice. Quando perguntado se não estava triste com o fato de o papa não ter vindo à sua terra natal nos seus 12 anos no Vaticano, o sacerdote respondeu à reportagem: “Ele tinha muito para fazer no mundo”. Ganz trabalhou com o papa, nos tempos em que ele foi arcebispo de Buenos Aires, e acha que seu legado inclui o olhar e a atenção aos pobres - visibilizados na despedida deste sábado. Um vendedor ambulante, que se identificou apenas como Miguel, oferecia broches com o rosto do papa sorridente. “Acho que não tivemos na história um homem mais importante do que ele”, disse.

A peregrinação dos fiéis do papa começou na Praça de Maio e percorreu os pontos onde o então jesuíta e ex-arcebispo passava – hospitais, presídios e o Hogar de Cristo, que atende os jovens dependentes químicos. Quando eu já deixava a caravana, encontrei uma ex-ministra da Mulher de governos peronistas. “Ainda estou tentando entender os motivos que levaram o papa a não vir ao nosso país. Mas somos um país historicamente tão dividido… Muitos o adoramos e outros não aceitaram, nunca, suas preocupações com os excluídos e agora devem estar lamentando que ele tenha visitado dezenas de países (66, no total) menos a nossa Argentina”.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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