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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor de “Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil”. https://noticiariocomentado.com/

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A volta de Bolsonaro desagradaria ao Estadão?

"A explicação para tais posturas é, antes de tudo, comercial"

Jair Bolsonaro e Estadão (Foto: Reuters/Ueslei Marcelino | Reprodução)

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O governo Lula, como todos os governos, deve ser cobrado pela imprensa. Não há boa prática jornalística que prescinda da fiscalização do poder, da denúncia de irregularidades, do apontamento de erros. Mas o que a mídia tradicional brasileira - jornalões quase falidos, em regra - faz neste momento é tentar reviver os tempos dos famigerados Mensalão e Lava Jato e os meses antecedentes ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff: escandalizar atos banais, distorcer dados econômicos, inverter o sentido da realidade factual para dar argumentos eleitorais a determinados grupos.

A última de O Estado de S. Paulo é comparar o trabalho de comunicação da Secretaria de Comunicação Social com as práticas do gabinete do ódio bolsonarista, “notícia” já desmentida e que o tempo apagará por inépcia. Nem se fale das entrevistas com economistas-financistas disseminando a falsa ideia de que o cuidado fiscal vem sendo desprezado, coisa que até as agências de rating desmentem. É gente que pouco se lixa para os ótimos resultados da economia em termos de emprego e renda, com inflação baixa e controlada. Gente que não quer ver na presidência do Banco Central alguém que enxergue a economia além de suas implicações monetárias.

Há ainda aqueles momentos de puro cinismo, como quando se escreve que o governo brasileiro, Lula particularmente, faz “picuinha” com Israel. Fosse assim, picuinha com Israel estaria fazendo todo o mundo civilizado, especialmente a ONU, cuja relatora para direitos humanos, Francesca Albanese, identificou “motivos razoáveis” para considerar genocídio a atuação israelense na Faixa de Gaza.

Até mesmo a total mobilização do governo em socorro ao afogado Rio Grande do Sul é alvo de tentativas de desabono, as quais alcançam até o fotógrafo oficial da Presidência da República - o ótimo Ricardo Stuckert - por falta de irregularidades graves a denunciar. Enquanto isso, o governador Eduardo Leite, bolsonarista enrustido cuja atenção ao meio ambiente está abaixo de zero, é tratado com nauseante condescendência.

A explicação para tais posturas é, antes de tudo, comercial. Os jornalões e seus desdobramentos de internet, rádio e TV precisam cevar quem os sustenta, além de manter cativa a meia dúzia de leitores que ainda lhe resta. Lula não os representa.

O que afastou os donos do dinheiro, a partir de determinado momento, do governo fascistoide passado foi ausência total de governança por parte da parelha Jair Bolsonaro-Paulo Guedes, em permanente disposição para o improviso e lances oportunistas - uma bagunça completa. Pouco lhes incomodou o negacionismo na pandemia e os ataques diuturnos à democracia, por exemplo. Já a aversão dessa gente a Lula é fruto de raízes históricas de preconceitos e temores injustificados, pois seus negócios andaram muito bem, obrigado, em todos os governos do petista. 

Em síntese, os donos do dinheiro - e por tabela os jornalões - têm motivos de sobra para detestar Bolsonaro, mas algo mais forte os afasta de Lula: o nordestino, ex-operário, definitivamente não é um deles. Alguém duvida que uma volta do capitão ao comando do país, na falta da insossa opção de uma “terceira via”, agradaria a O Estado de S. Paulo? Sorte de todos nós que tamanha tragédia não vai acontecer.

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