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Rogério Correia

Deputado federal (PT-MG)

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A volta do trem da alegria

A reforma administrativa ataca o servidor público concursado e abre espaço para os indicados. É a volta do chamado “trem da alegria” tão comum no passado recente brasileiro

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Lido na internet: “sou servidor público, professor concursado, há mais de três décadas. Recebo R$ 2,5 mil por mês. Sou marajá?”

Pela lógica da reforma administrativa de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, esse servidor é, sim, um privilegiado.

A dupla garante que a reforma que enviaram é fundamental e vai trazer crescimento econômico. Faz assim a mesma promessa de Michel Temer para aprovar a reforma trabalhista e o mesmo juramento do atual governo quando da tramitação da reforma da Previdência. Em ambos os casos, como sabemos, as reformas foram aprovadas, aplicadas, mas a garantia de crescimento e emprego ficou só na promessa.

Tudo isso apenas faz uma maquiagem para enganar a plateia. Atacam direitos de quem ganha salário, consagram mentiras e priorizam mudanças que reforçam a desigualdade econômica, de longe o maior problema nacional. A reforma necessária, aquela que ataca os privilégios de fato, cobrando mais de quem tem mais, sobretudo dos milionários e bilionários, esta continua ignorada pelo governo Bolsonaro.

Não compre ilusões: essa reforma administrativa ataca o servidor público concursado e abre espaço para os indicados. É a volta do chamado “trem da alegria” tão comum no passado recente brasileiro. Institucionalizará o mandonismo, o puxa-saquismo e até, adivinhe, a rachadinha... Governantes de plantão montarão suas “equipes de servidores” próprios, definidos por critérios de compadrio, não mais pela impessoalidade de um concurso público aberto a todo brasileiro.

A família Bolsonaro, como se sabe, entende muito bem desse assunto.

Essa trama toda também ressalta a hipocrisia presente em certos círculos de opinião no país. Em momentos de indignação nacional, aliás justa indignação, os servidores públicos são louvados. Foi assim, para citar apenas dois exemplos recentes, no crime da Vale em Brumadinho e agora, na luta contra a pandemia.

Gente que elogiou o trabalho dos bombeiros em Brumadinho e dos trabalhadores da saúde do SUS contra o covid, mas que agora se omite com relação ao ataque aos servidores feito pela reforma de Bolsonaro. A defesa do serviço público é feita assim apenas nas redes sociais nos momentos de catarse, mas é esquecida no dia a dia.

O concurso e a estabilidade no serviço público são duas conquistas da democracia brasileira que novamente estão sob forte ataque. É essencial denunciar e lutar contra isso.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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