Aborto, espiritualidade, tecnologia e política
Uma discussão política sobre o aborto emocional é levar casos pessoais para a arena política, que trata de assuntos coletivos. O político que entra nessa discussão envereda por caminhos tortuosos
A questão da criminalização do aborto é um tema polêmico, sempre foi debatido.
Para aqueles que defendem a descriminalização, o direito da mulher dispor livremente do seu corpo é o principal argumento de quem defende que o Estado afaste a punição a quem o pratique ou auxilie.
Por outro lado, todas as religiões negam o direito da mulher de interromper a gestação, já que trata-se de uma vida sob os cuidados de outra vida, que é uma dádiva divina.
Todavia, todas as religiões admitem o livre arbítrio e estabelecem que todos irão responder no mundo espiritual pelos erros praticados.
Para o ateu não há um Ser Superior e nem vida após a morte, se sentido livre para praticar todo e qualquer ato, sem restrições espirituais.
O Estado, na necessidade de assumir a responsabilidade pelo aborto, o descriminalizou em certas circunstâncias, como a gestação resultante de estupro ou a que ponha em risco a vida da gestante.
Mesmo esses abortos autorizados por lei se deparam com uma infeliz dificuldade: o médico tem que ser um ateu, já que a interrupção da vida é condenada por todas as religiões e o Estado não pode obrigar um profissional a agir de encontro as suas convicções religiosas. Mas, sempre há um profissional ateu para proceder o aborto.
A Igreja Católica definiu que a vida se inicia com a concepção, ou seja, quando o espermatozoide fecunda o óvulo, e este começa a se multiplicar, iniciando-se a construção e o desenvolvimento de um ser humano.
Nesses dois casos: gravidez resultante de estupro e aquela que põe em risco a vida da gestante, o aborto é tutelado pelo Estado, não cabendo mais nenhuma discussão política sobre o assunto.
Veio, então, a tecnologia.
Hoje, há instrumentos como preservativos, medicamentos como anticoncepcional feminino, anticoncepcional masculino, pílulas do dia seguinte que provocam a descamação do útero e não permite que o espermatozoide fecunde o óvulo e até medicamentos abortivos.
Tanto é que o coquetel administrado à vítima de estupro não permite a concepção, o que livrou o médico da contradição ética de interromper a gestação posteriormente.
Evidentemente, há casos que os pais ou padrastos são os criminosos e, quando o estupro é descoberto pelas autoridades, a vítima já tem filhos ou está grávida do criminoso, mas trata-se de um aborto tutelado pelo Estado, todavia, são raros os casos que a própria vítima consente com o aborto.
Resta, então, a questão do aborto emocional.
Aborto emocional é aquele em que a mulher primeiramente admitiu a possibilidade de continuar com a gestação, todavia, com o desfazimento da relação com o parceiro, e sem o consentimento dele, resolve interromper a gravidez, seja por ódio, vingança, desilusão, falta de apoio familiar ou qualquer motivo de cunha pessoal.
Deve o Estado proteger esse tipo de aborto? É claro que não.
Como já disse, há medicamentos que podem interromper a gravidez até os 3 messes e a mulher interessada os tem à disposição.
Acredito que nenhum médico que socorrer irá denunciar, pois apenas socorreu.
É uma decisão de cunho pessoal.
Uma discussão política sobre o aborto emocional é levar casos pessoais para a arena política, que trata de assuntos coletivos. O político que entra nessa discussão envereda por caminhos tortuosos, uma seara propícia a ataques moralistas e, nesse caso do aborto emocional, vai sair perdendo para quase a totalidade dos eleitores religiosos e até de grande parte daqueles que se dizem ateus.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

