CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
blog

Acabou caindo a ficha

A cultura, assim como o pé, também tem sua fisionomia própria, entre os inúmeros criadores

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Somente quando o próprio calo aperta é que vemos, ou a deformação de nosso pé, ou o defeito do sapato. Como eles são confeccionados sobre fôrmas estabelecidas pela anatomia convencional de um pé supostamente universal, ficou determinado que o pé que não se acomodar no sapato seja o responsável pelo ocasional desconforto que provoca o nascimento de um calo. Sacramentou-se, então, que o defeito é do pé. Só quando se descobre que cada pé tem uma fisionomia própria, assim como os traços da pessoa, e que, portanto, não há pé exatamente igual entre os seres, até mesmo entre o esquerdo e o direito, pois em muitas das vezes um pé é atingido pela moléstia, mas outro não, só então se percebe que sejam eximidos de culpa, já que o calo não nasceu com a pessoa. Antes da industrialização dos sapatos o indivíduo ia ao sapateiro que desenhava o contorno dos pés do cidadão em um cartão e dali processava artesanalmente a confecção sem grande preocupação pois o pé, ao entrar pelo sapato, escorregava que só quiabo, e todos andavam bem, sem sofrimento, com exceção do pé-rapado que se enfiava em qualquer sapato.

A cultura, assim como este órgão do corpo, também tem sua fisionomia própria, entre os inúmeros criadores, que neste momento histórico da humanidade, e principalmente entre os países importadores das fôrmas impostas por outros experts em design dos pisantes internacionais, a moldar os pés incautos a enche-los de calos, desfigurando sua formatura óssea, mudando até seu jeito de caminhar. Os calos foram se multiplicando pelos pés, que hoje já não se sabe mais se são pés ou calos que conduzem nosso entendimento. Estabeleceu-se, com a ajuda da mídia calejada de concessões, a era das artes calônicas e o "calonialismo"cultural estratificou-se de tal forma que já nem se cobra mais a ginga de cada caminhar ou a beleza expressa a cada passo ou compasso de seu samba.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Eis que se não quando uma galera usando a internet acaba descobrindo o caminho anatômico original, de volta ao ponto de seus usuários assumirem o retorno às origens, incentivando através de cooperação mutua, a criação de antigas formas de confecção de sua própria cultura ao jeito dos antigos sapateiros, invertendo o processo, cansada de calçar os pisantes culturais calejantes. O propósito já vingou e muitos artistas, de pés descalços, uns por desistirem de caminhadas inúteis por não se adaptarem aos modelos existentes, e outros, por recusarem-se a enfiar o pé na lama. Ao ser convidado a colocar meu pé no cartão do sapateiro, sinto um alívio por estar sendo presenteado com um par de botinas, por meus amigos do Face que se dispõem a me introduzir nesta bela aventura de ajudar a construir novas caminhadas de nossa cultura. Caiu a ficha e já posso vergar-me sem susto para apanhá-la, sem sentir dores no calo.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO