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Luiz Eça

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Acordo nuclear: muitas pedras no meio do caminho

Os EUA sabem que não existe programa nuclear militar iraniano. Mesmo assim, Obama, Kerry e Hagel (secretário da Defesa) não deixaram de dar declarações duras, insistindo na importância das sanções, da opção militar sobre a mesa etc

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De repente, Obama telefona para Rouhani e sai feliz da conversa, falando em mudanças muito positivas no Irã.

E Kerry, o secretário de Estado, vai além, dá até prazos para se chegar a um acordo na questão nuclear: 3 a 6 meses, imagine! Basta que o Irã prove que seu programa atômico não é mal intencionado, tem apenas objetivos pacíficos.

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Nada mais assustador para Netanyahu, que só sossegará se ver seu odiado Irã de rastros.

Ele lembra 2011, quando aconteceu um caso de igual gravidade, Obama falando num Estado palestino, com base nas fronteiras de 1967.

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Furioso, Netanyahu voara para Washington, onde invadiu a Casa Branca, passou um sabão em Obama, fechando seu périplo com uma recepção de herói no Congresso, sob as palmas vibrantes de senadores e representantes, enquanto Obama se desculpava na conferência da AIPAC (maior lobby judaico nos EUA): fora mal-entendido, de 1967 para cá muita coisa mudara, nas negociações haveria que respeitar essas novas realidades...As fronteira de 1967 seriam mera base de discussões.
Netanyahu pensava repetir a história.

Mas isso costuma acontecer.

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Na reunião com Obama, de 2013, o presidente americano falou que os EUA permaneciam inflexíveis diante do Irã, as sanções não sairiam fácil e os ataques militares permaneciam sobre a mesa... e seu caso de amor com Israel era cada vez mais profundo.

Mas delimitar uma linha vermelha com clareza, dar prazo para o Irã atender às exigências dos aliados, acenando com represálias militares muito concretas, como o israelense queria... nada.

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Netanyahu ainda foi à ONU. Clamou que Rouhani era um lobo em pele de cordeiro, que os iranianos continuavam os mesmos fanáticos ferozes, empenhados em destruir Israel e o Ocidente. Garantiu que com seu programa de mísseis balísticos intercontinentais, o Irã poderia jogar bomba nucleares em Nova Iorque daqui 3 ou 4 anos.

Não impressionou.

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Os EUA sabem que não existe programa nuclear militar iraniano, conforme relatórios de suas 16 agências de inteligência e até do Mossad.

A IAEA (Agência Internacional de Energia Atômica) nunca acusou o Irã de estar desviando urânio enriquecido para fins diferentes de usos pacíficos.

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Mesmo assim, Obama, Kerry e Hagel (secretário da Defesa) não deixaram de dar declarações duras, insistindo na importância das sanções, da opção militar sobre a mesa etc.

Afinal, é preciso abrandar a fúria anti-Irã dos congressistas, comprometidos em massa com os interesses de Israel.

Justo agora que o conflito com o Irã parece encaminhar-se para uma solução diplomática, o senador Lindsey Grahame e o representante Trent Franks vieram com um projeto de lei, autorizando o presidente a atacar o Irã sem ouvir o Congresso.

Mas, o Israel Party não ficou nisso.

Lei existente fecha o mercado americano a quem importar petróleo do Irã, admitindo, porém, certas exceções, de acordo com permissão (waiver) do presidente dosa EUA.

A Casa dos Representantes aprovou um projeto, reduzindo o volume de petróleo iraniano cuja importação é permitida por países como China, Índia e Japão.

As reduções seriam gradativas até fechar totalmente as torneiras de petróleo do Irã para o exterior no prazo de 1 ano.

O que representaria uma bomba no clima de entendimento que está se criando.

Para ser lei, esse projeto terá de ser aprovado também pelo Senado.

Como pensa seriamente na possibilidade de paz com o Irã, Obama apelou e conseguiu que os senadores adiassem sua discussão para depois de 15- 16 de outubro, data da reunião entre o Irã e as grandes potências para discutir a questão nuclear.

A qual, aliás, não vai ser nada fácil.

Certamente, Rouhani aceitará assinar os novos protocolos do Tratado de Anti-Proliferação Nuclear, abrindo totalmente instalações nucleares iranianas à fiscalização da IAEA. Ele já deu a entender que faria isso.

Espera-se que as grandes potências aceitem o direito do Irã enriquecer o urânio (que, por sinal, é legal), limitando-o, porém, a 3,5% - muito longe dos 90% necessário para se construir uma bomba atômica.

Mas, e quanto ao urânio enriquecido a 20%, que o Irã usa na produção de isótopos para tratamento de câncer?

Até agora, houve uma discordância nesse ponto, nas reuniões anteriores.

O mesmo aconteceu quanto ao estoque de urânio enriquecido a 20%. As potências querem que seja entregue a outro país.

Para atender às suas necessidades medicinais o Irã deveria recorrer à importação. O que criaria um problema: ficariam sem uso caríssimos equipamentos implantados no país para esse fim.

As partes também divergem a respeito do fim das sanções. Os EUA, principalmente, querem que primeiro o Irã faça sua parte, para que depois as sanções fossem tornadas sem efeito passo a passo.

Em outras palavras, o Irã teria de pagar para só depois receber.

Mesmo que a reunião prevista para 15 e 16 de outubro tenha um happy end, novos obstáculos ainda provavelmente surgirão.
Obama depende do Congresso para revogar as leis que criaram as sanções.

É verdade que ele tem poderes para considerá-las sem efeito.

Mas só temporariamente, o acordo de paz, é claro, teria de ser definitivo.

Os congressistas pró-Israel, que por enquanto são maioria, farão tudo para sabotar a paz. Tem no time deles os 3 maiores lobbies dos

EUA: as principais associações judaico-americanas, a indústria de armamentos e a indústria do petróleo.

O primeiro atua negativamente por razões óbvias: segue a orientação de Netanyahu.

O segundo porque, fracassando o acordo, a guerra será quase certa e os lucros dessa indústria subirão aos céus.

E o terceiro por estar de olho no prá lá de apetitoso petróleo iraniano.

Claro, interesses tão poderosos necessariamente influenciam a mídia corporativa, que, em geral, apoia os interesses de Israel.

Some-se a isso o medo e a má vontade do povo americano em relação ao Irã, cultivados durante décadas por uma campanha de propaganda que um jornalista americano comparou à dirigida por Goebbels contra os judeus.

Dizia-se que também no próprio Irã, Rouhani teria de enfrentar obstáculos talvez insuperáveis, por parte de Khamenei e dos políticos, radicalmente conservadores. Não é o que está acontecendo.

Apesar de Khamenei advertir a Guarda Revolucionária a não se pronunciar sobre política, seu chefe, Mohamed Jafari, criticou a boa vontade de Rouhani em relação a Obama. Para ele, precisaria ser precedida por concessões dos EUA. Disse ainda que o presidente jamais deveria ter atendido à chamada telefônica da Casa Branca, o que teria sido um "erro tático".

E o jornal Kayhan, próximo ao Supremo Líder Khamenei, expressou "horror ante a possibilidade da mão limpa do nosso presidente estar por momentos nas garras sangrentas de Obama".

Um dos assessores principais de Khamenei, Ali Akbar Nouri, defendeu Rouhani: "Alguns que a criticaram, não percebem que a viagem a Nova Iorque foi para desatar nós entre pessoas e sistemas."

E, embora o Supremo Líder tenha, em 4 de outubro, considerado inadequadas "algumas coisas que aconteceram em Nova Iorque," ele declarou enfaticamente: "Apoiamos a iniciativa diplomática do governo e atribuímos importância às suas (de Rouhani) atividades nesta viagem".

É verdade que ele também confessou não confiar nos EUA, afirmação bem menos agressiva do que as reiteradas promessas de dureza feitas a pouco por Obama e os seus secretários.

Não dou muita importância ao que as duas partes disseram: era para dar uma colher de chá à oposição das forças radical-conservadoras dos dois países.

Quanto à posição dos políticos iranianos, 230 dos 290 parlamentares assinaram uma mensagem dirigida ao presidente, elogiando sua postura "poderosa e de busca da paz".

Finalmente, Rouhani conta com o apoio do seu povo. Pesquisa em Teerã revela que 78% da população aprovou a viagem a Nova Iorque.

Apesar de ser chamado "lobo em pele de cordeiro" por Netanyahu, não há nada, nem no passado, nem nas últimas atitudes, que negue a moderação e pacifismo do presidente iraniano.

Contra a avalanche de ataques ao acordo que ele deseja, existe o momento extremamente favorável à paz.

Até o povo americano, apesar de influenciado pela maciça propaganda anti-Irã dos políticos, da imprensa e dos últimos presidentes, mostrou preferir esse caminho.

Na pesquisa da CNN/ORC International, 76%, contra apenas 21%, aprovaram negociações para solução da questão nuclear iraniana.

Daí a grande importância da reunião dos dias 15 e 16 de outubro, dos P+5 (EUA, Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha) com o Irã, para se buscar um acordo final.

Vai depender muito da moderação e boa vontade de todos.

Só nos resta repetir John Lennon: "Give peace a chance".

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