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Carlos Guedes

Servidor do Incra e foi presidente do órgão de 2012 a 2015

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Agronegócio, queres que te chame de latifúndio (de novo)?

Após o golpe, o discurso do agronegócio brasileiro parece ter se esvaziado, antes sinônimo de modernidade e eficiência, hoje, o pior sentido do velho latifúndio

Agronegócio, queres que te chame de latifúndio (de novo)? (Foto: Jonas Oliveira)
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Após o golpe, o discurso do agronegócio brasileiro parece ter se esvaziado, antes sinônimo de modernidade e eficiência, hoje, o pior sentido do velho latifúndio. Com o aumento dos crimes no campo e do desmatamento ilegal, a absurda proposta de legislação trabalhista rural e o criminoso relatório da CPI da Funai/Incra, com dezenas de indiciamentos de lideranças de movimentos sociais, servidores públicos do Incra, Funai e Ministério Público Federal, pessoas como Dr. Gercino José da Silva Filho, Ouvidor Agrário Nacional e Presidente da Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo, só nos resta a constatação de que o agronegócio desistiu de seu discurso do progresso e assumiu a barbárie.

Nos governos Lula e Dilma, Incra e Funai assumiram o papel necessário de mediar as diferentes identidades do rural brasileiro. De um lado, uma agricultura altamente inserida nos mercados, e que contribui para os resultados econômicos do país; de outro, diferentes perspectivas de homens e mulheres das florestas, beiras de rios, campos, que exigem sair da invisibilidade e serem reconhecidos como são: quilombolas, indígenas, povos e comunidades tradicionais. Agricultores familiares e sem-terras que reivindicam políticas públicas capazes de lhes garantir autonomia e, sobretudo, serem reconhecidos por seus saberes e tradição e não apenas por sua inserção na dinâmica de mercado. São brasileiras e brasileiros sim, mas são mais que isso. De 2003 até o golpe de 2016, foram destinados mais de 20 milhões de hectares para áreas de reforma agrária e territórios quilombolas e mais 18 milhões de hectares para unidades de conservação de uso sustentável e terras indígenas. Esse reconhecimento não inviabilizou a expansão do agronegócio. Ao contrário, neste mesmo período (entre as safras 2002/2003 e 2015/2016) a área plantada de soja aumentou quase 15 milhões de hectares. A dimensão dos números comprova a possibilidade de uma coexistência que não rejeita as contradições e tensões do rural, mas confirma cada uma dessas identidades, sem negar os conflitos, e reconhece o Estado Brasileiro como um mediador democrático e respeitador das liberdades e direitos, independentemente da condição econômica e política das partes.

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O que se vê após o golpe é a negação do discurso de modernidade que o agronegócio impunha para defender sua legitimidade. Em vez de reconhecer a mediação, decreta o aniquilamento dos diferentes dele e autoriza a execução primitiva de quem não pensa ou age de maneira semelhante. Hoje, o desmatamento ilegal cresce em proporções há muito não vistas. No lugar de aprimoramentos nas políticas públicas, há perseguição sórdida de servidores públicos por meio das estruturas do próprio Estado, TCU, Congresso Nacional ou sindicância nos órgãos. Em vez de respeitar tratados internacionais como o Acordo do Clima firmado em Paris em 2015, aposta-se em novas fronteiras agrícolas por meio da retomada do desmatamento especulativo em áreas já destinadas.

Basta! Os adoradores e defensores da modernidade do campo e seus seguidores na burocracia, na academia e os financiados pela grande mídia têm obrigação de vir a público e exigir deste governo ilegítimo que se mexa para estancar a barbárie. Os ministros da Justiça e da Agricultura devem fazer o que não tiveram coragem até agora: expressar um posicionamento claro e adequado à função de agentes do Estado Brasileiro para intimidar a brutalidade e colocar as perseguições e acusações sem fundamento no local de onde não deveriam ter saído: da lata do lixo da história.

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