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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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Aham, Cláudia, senta lá!

Nova presidente da Capes, Cláudia Mansani Queda de Toledo (Foto: Reprodução/Twitter)
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Por Carla Teixeira 

A imprensa tem dado, dia a dia, os capítulos da novela que tomou conta da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), responsável pelo desenvolvimento do Sistema Nacional de Pós-Graduação. A última entrevista concedida por sua atual presidente, Cláudia Mansani Queda de Toledo, ao jornal O Globo, foi o estopim da recente crise às vésperas do natal.

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Cláudia classificou como “insurgência” e “deserção” a atitude dos coordenadores e colaboradores que pediram afastamento de suas funções. Eles denunciaram a existência de uma pressão interna para mudar o sistema de avaliação da pós-graduação e ampliar o ensino à distância.

Na entrevista, Cláudia afirmou que “resistir à EAD no Brasil, um país com 213 milhões de habitantes, é uma atitude antidemocrática e pouco pluralista, que resiste à socialização da informação e do conhecimento”. Ao tratar sobre o valor das bolsas de pesquisa, sem reajustes há 8 anos, apresentou um dado que indicava a necessidade de R$ 1,3 bilhão para a atualização de acordo com a inflação. “Quem não quer aumentar o valor das bolsas? Mas precisa ter dinheiro”.

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Depois de perder cinco minutos do meu dia lendo esse festival de besteira, a primeira coisa que me ocorreu foi a imagem da Xuxa verde com sincera impaciência mandando um “Aham, Cláudia, senta lá!”. A Xuxa não se referia à Cláudia na CAPES, mas no atual contexto cabe bem.

O Ensino à Distância defendido pela Cláudia na CAPES como uma pretensa ação “democrática” e “pluralista” é na verdade um recurso mercadológico que enxerga a educação como um negócio para a obtenção de lucro. Interessa às instituições privadas - como a que ela detém – e não possui qualidade equiparável ao ensino presencial.

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Honestamente - e a Cláudia da Xuxa poderia concordar -, defender o acesso democrático e plural à educação de qualidade demanda a imediata restituição do orçamento para a educação. A ampliação das políticas de permanência estudantil, a valorização da formação docente e técnica, o aumento do número de vagas e instituições, em todos os níveis, e o fortalecimento da rede pública e gratuita de educação municipal, estadual e federal.

Ao indicar a impossibilidade de reajuste do valor das bolsas de pesquisa, Cláudia não menciona que “a falta de dinheiro” é fruto de uma decisão política. O orçamento aprovado para 2022 é um verdadeiro escândalo(!). A Saúde ficou com R$ 4,6 bilhões, a Educação com R$ 3,6 bilhões e a Defesa com R$ 8,8 bilhões (pode isso, Arnaldo?). Como nos revelou Darcy Ribeiro, “a crise da educação no Brasil não é uma crise, é um projeto”. O nosso trabalho é combater esse projeto.

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As reações da comunidade acadêmica à entrevista foram contundentes e imediatas. Mais pesquisadores deixaram suas funções, somando 138 renúncias. No dia 24 de dezembro, o mesmo jornal publicou reportagem sobre uma carta enviada ao Ministério da Educação (MEC), assinada por 30 dos 49 coordenadores de área da CAPES. Eles pedem a saída de Cláudia, pois “não há condições mínimas” de trabalho sob a “égide da atual presidência” classificada como “inadequada” e “desrespeitosa”.

Foi cogitada uma renúncia coletiva, mas chegou-se à compreensão que os coordenadores devem permanecer em seus cargos para “impedir ou dificultar um eventual, e potencialmente maior, desmanche do sistema de avaliação da CAPES”. (Passe a virada do ano com essa, Cláudia!)

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Apesar do desagradável sentimento de consternação em pleno natal, não temos sequer o direito à surpresa. Toda essa tragédia já estava anunciada. Cláudia, afinal de contas, é desqualificada para o cargo que ocupa.

Indicada para a presidência da CAPES em abril de 2021, seu nome foi considerado um “retrocesso”. Cláudia não possui perfil acadêmico, visão política científica ou credibilidade da comunidade e instituições nacionais e estrangeiras. Não demonstra conhecimento em outras áreas além da sua especialidade ou coordenou importantes projetos científicos que tenham formado recursos de alto nível.

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Ao que consta, o atual ministro da educação e o “terrivelmente evangélico” ministro do STF são os mais altos recursos humanos formados pela instituição da qual Cláudia é proprietária e reitoria, e onde também adquiriu o título de Doutora no programa de pós-graduação (PPG) que coordenou. Convém ressaltar que este PPG foi impedido pela CAPES, em 2017, de receber novos alunos por não corresponder ao desempenho mínimo exigido pela avaliação.

A formação endógena da Cláudia seria o suficiente para ela ir sentar, mas tudo o que é ruim sempre pode piorar. Essa ladainha de ensino à distância, falta de orçamento e deserção são cortinas de fumaça para esconder as demoníacas intenções de desorganização e privatização da educação brasileira, principalmente da pós-graduação. Aquilo que a imprensa chama de “crise na CAPES” é sintoma dos sucessivos ataques contra a educação pública, a rede federal de educação e o sistema nacional de pós-graduação.

O último gatilho foi a entrevista sagazmente publicada para ser esquecida às vésperas das festas do fim de ano. Qual o quê! Levou como resposta imediata mais renúncias e um pedido, encaminhado ao MEC e ao Congresso Nacional, para que deixe a presidência da CAPES. Que Natal! Em 2022 tem mais. Ao fim e ao cabo, se a certa altura manter a dignidade se tornar mais importante que garantir seus interesses, Cláudia sempre poderá seguir o conselho da Xuxa.

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