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AI-5: necessário lembrar para que não se repita

Jurista e professor Leonardo Yarochewsky relembra as arbitrariedades praticadas durante a ditadura que foram ancoradas no Ato Institucional nº 5, que completa 50 anos, e traz o tema para os dias atuais; "Destaca-se que o golpe de 1964, como tantos outros, apresentou como pretexto o combate à corrupção, as "ideologias" subversivas e a preservação dos valores morais e da família. Por tudo, notadamente, em nome do Estado democrático de direito e do respeito a dignidade da pessoa humana como seu postulado, quando, ainda, os direitos humanos são colocados em xeque, é necessário que estejamos sempre vigilantes para que a história não se repita", diz

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Durante a reunião em que foi decidida a decretação do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, o AI-5 – conhecido como o golpe dentro do golpe – dando início a um dos piores momentos da ditadura militar (1964-1985), o único a questionar e de certa forma insurgir contra as autoritárias, arbitrárias e inescrupulosas medidas foi Pedro Aleixo, vice-presidente civil do general Costa e Silva. O ministro da Justiça, Gama e Silva, relator do ato, questionou se Pedro Aleixo desconfiava da integridade do presidente em fazer uso "criterioso" do instrumento discricionário - AI-5. Prontamente o vice-presidente Pedro Aleixo respondeu: "Não tenho nenhum receio em relação ao presidente, eu tenho medo do guarda da esquina".

É certo que o dia 13 de dezembro de 1968 entrou para a história do País como um dos mais sombrios. O AI-5 autorizava o governo a decretar o recesso do Congresso Nacional, a cassação de parlamentares, a intervenção dos estados e municípios, a suspensão por dez anos dos direitos políticos de qualquer cidadão, o confisco dos bens considerados ilícitos e a suspensão do habeas corpus, entre outras medidas ditatoriais.

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Com o Ato Institucional nº 5, segundo Elio Gaspari inicia-se os "Anos de Chumbo" que vai, segundo o autor, desde 1969, logo depois da edição do AI-5 em 13 de dezembro de 1968, ao extermínio da guerrilha do Partido Comunista do Brasil, nas matas do Araguaia em 1974. De acordo com Elio Gaspari "Escancarada, a ditadura firmou-se. A tortura foi o seu instrumento extremo de coerção e o extermínio, o último recurso da repressão política que o Ato Institucional nº 5 libertou das amarras da legalidade. A ditadura envergonhada foi substituída por um regime a um só tempo anárquico nos quartéis e violento nas prisões. Foram os Anos de Chumbo". Mais adiante, prossegue o jornalista e escritor, afirmando que: "Os oficiais-generais que ordenaram, estimularam e defenderam a tortura levaram as Forças Armadas brasileiras ao maior desastre de sua história. A tortura tornou-se matéria de ensino e prática rotineira dentro da máquina militar de repressão política da ditadura (...)" Dois conceitos prevaleciam: i) concepção absolutista de segurança da sociedade – "A segurança pública é a lei suprema" – "Contra a Pátria não há direitos", informava uma placa no saguão dos elevadores da polícia paulista; ii) funcionalidade do suplício – "havendo terrorista, os militares entram em cena, o pau canta, os presos falam e o terrorismo acaba".

Ancorados pelo AI-5, prisões arbitrárias e praticas da tortura passaram a fazer parte do cotidiano do governo militar e de exceção. Assim que foi baixado o abjeto Ato onze deputados, entre eles Hermano Alves e Márcio Moreira Alves, perderam seus mandatos.

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Por meio de um decreto de 16 de janeiro de 1969, três ministros do Supremo Tribunal Federal foram aposentados compulsoriamente após decisão do Conselho Nacional de Segurança: Hermes Lima, Evandro Lins e Silva e Victor Nunes Leal. Os ministros Antônio Carlos Lafayette de Andrada e Antônio Gonçalves de Oliveira renunciaram em protesto contra as cassações e acabaram oficialmente aposentados por decreto no mês seguinte.

A cultura também sofreu duro golpe com o AI-5. Artistas, escritores e músicos rotulados como "comunistas" ou "subversivos" foram presos e outros foram para o exílio.

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Não é despiciendo lembrar que no preâmbulo do AI-5 vinha uma explicação tão absurda quanto bizarra para explicar as arbitrariedades e o autoritarismo decorrente do golpe de 1964:

"CONSIDERANDO que a Revolução Brasileira de 31 de março de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quais se institucionalizou, fundamentos e propósitos que visavam a dar ao País um regime que, atendendo às exigências de um sistema jurídico e político, assegurasse autêntica ordem democrática, baseada na liberdade, no respeito à dignidade da pessoa humana, no combate à subversão e às ideologias contrárias às tradições de nosso povo, na luta contra a corrupção, buscando, deste modo, "os. meios indispensáveis à obra de reconstrução econômica, financeira, política e moral do Brasil, de maneira a poder enfrentar, de modo direito e imediato, os graves e urgentes problemas de que depende a restauração da ordem interna e do prestígio internacional da nossa pátria" (Preâmbulo do Ato Institucional nº 1, de 9 de abril de 1964);

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Desgraçadamente, há aqueles que insistem em atropelar a história e negam o golpe de 1964, bem como as atrocidades perpetradas em nome do regime ditatorial e de exceção. O AI-5, como já dito, deu início a um dos períodos mais terríveis da história do Brasil, os chamados "Anos de Chumbo", em que a tortura – que ainda hoje é defendida por muitos – se transformou em política de Estado.

Destaca-se que o golpe de 1964, como tantos outros, apresentou como pretexto o combate à corrupção, as "ideologias" subversivas e a preservação dos valores morais e da família.

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Por tudo, notadamente, em nome do Estado democrático de direito e do respeito a dignidade da pessoa humana como seu postulado, quando, ainda, os direitos humanos são colocados em xeque, é necessário que estejamos sempre vigilantes para que a história não se repita.

Belo Horizonte, 13 de dezembro de 2018 (50 anos do AI-5).

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