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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Alerta vermelho: montagem de uma ditadura já estaria em andamento

"Tem-se a impressão de que a perspectiva de libertação de Lula deixa todos em pânico. Por que?", questiona o jornalista Ribamar Fonseca ao analisar a situação do ex-presidente Lula. "Eles temem que, com Lula voltando ao poder, possam deixar escapar o Brasil do seu domínio, hoje inteiramente submisso com Bolsonaro na Presidência"

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Quando o vereador Carlos Bolsonaro disse, nas redes sociais, que é praticamente impossível realizar mudanças no Brasil dentro do regime democrático, provocando uma tímida reação em alguns setores de atividades, ele não estava emitindo uma opinião mas, aparentemente, transmitindo um aviso. Na boca de qualquer outro vereador a defesa da ditadura como solução para os problemas nacionais  não teria a menor importância, mas feita  por um dos filhos do Presidente da República, justo aquele que já derrubou dois ministros, fica  evidente que o tema vem sendo discutido pelo clã Bolsonaro em encontros íntimos. Consciente de que sua popularidade vem despencando de maneira acelerada, inviabilizando seu projeto de reeleição, e preocupado com a gradativa ineficiência da sua indústria de fake news, que não produz mais o mesmo resultado observado na campanha eleitoral, Bolsonaro estaria aparelhando o seu governo para a implantação de uma ditadura mascarada, mantendo a aparência de democracia com o funcionamento das instituições. Isso explicaria a sua interferência pessoal no Ministério Público, no Coaf e na Policia Federal, que lhe proporcionaria o conhecimento privilegiado da vida de todo mundo, particularmente de ministros dos tribunais superiores e de deputados e senadores.  Com acesso aos dados de cada um ele poderia controlar, com facilidade, os outros dois poderes, garantindo a homologação das suas medidas na órbita do Legislativo e do Judiciário.   

Na verdade, já se verifica hoje o desenvolvimento de ações próprias dos regimes de exceção, como o monitoramento de atividades sindicais, por exemplo. Segundo recentes notícias divulgadas pela imprensa, o Gabinete de Segurança Interna da Presidência da República, sob o comando do general Heleno,  estaria monitorando as reuniões dos sindicatos dos Correios e da Petrobrás, por meio de “arapongas”, para saber dos seus movimentos relacionados a greves. O mesmo deve acontecer com o sindicato dos caminhoneiros. Recentemente a policia invadiu uma reunião de mulheres em São Paulo. E tudo indica que já estaria em plena execução o método de espionagem, utilizado pela ditadura militar em todos os órgãos, através das assessorias de segurança interna. Não há dúvida de que tem alguém orientando o capitão-presidente a tomar determinadas medidas que possam exorcizar qualquer tentativa de apeá-lo do poder, pois há quem acredite que ele não conseguirá chegar ao final do seu mandato.  Parece visível o clima de desconfiança dentro do próprio governo que, em apenas nove meses, já perdeu aliados de primeira hora, como Gustavo Bebianno, por exemplo. Para completar, o seu partido, o PSL, está se esfacelando, com brigas internas que tendem a deixá-lo bem menor do que o número observado no inicio do mandato. E isso certamente terá reflexos negativos nas votações do seu interesse no Congresso Nacional que, ao que tudo indica, deverá derrubar os seus vetos à lei contra o abuso de autoridade. Só lhe restaria, portanto, tentar implantar um regime de força  em que não precise de ninguém para fazer valer a sua vontade.    

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Uma das peças-chave para o sucesso do plano dos Bolsonaro seria a manutenção da prisão de Lula que, segundo previsão de alguns observadores, pode conseguir a liberdade em outubro próximo. Para impedir a libertação do ex-presidente o capitão deverá aumentar a pressão sobre os ministros da Corte Suprema, cujo presidente Dias Tóffoli vem adiando seguidamente o julgamento do habeas corpus em favor de Lula e o pedido de suspeição do ex-juiz Sergio Moro, cuja atuação criminosa na Lava-Jato foi desmascarada pelo site The Infercept.  Acredita-se, no entanto, que graças à divulgação dos diálogos secretos dos integrantes da força-tarefa, que expôs a trama montada nos subterrâneos daquela operação para prender o líder petista e impedi-lo de concorrer às últimas eleições, o clima mudou no Supremo Tribunal Federal, onde já haveria uma predisposição para a aprovação da sua libertação. O ministro Gilmar Mendes, por exemplo, o único que tem tido a coragem de criticar severamente a Lava-Jato, tem emitido sinais de que tanto a suspeição do hoje ministro da Justiça como a liberdade do ex-presidente desta vez serão aprovadas pela Suprema Corte que, até agora, tem fingido desconhecer as denúncias do The Intercept.    

Ainda existe, porém, quem acredite que se depender desse Supremo que está aí, com a maioria dos ministros nomeados pelos governos petistas, Lula vai apodrecer na prisão, como deseja o presidente Bolsonaro. E justificam seu ceticismo lembrando que ele não consegue uma decisão favorável a nenhuma das suas dezenas de ações, embora magistrados e juristas do mundo inteiro reconheçam que a sua condenação foi uma farsa, uma manobra política para impedi-lo de concorrer nas últimas eleições presidenciais, o que faz dele um preso político. Todo mundo, até bandidos, consegue a liberdade mediante habeas corpus, mas o ex-presidente não, parecendo haver uma determinação dentro do Judiciário, em todas as instâncias,  para que ele jamais obtenha a liberdade. Por que? Já não conseguiram o que queriam, a derrubada do PT do poder e a eleição de Bolsonaro? O que ainda querem?  Matá-lo?  Que força oculta poderosa é essa que intimida a Suprema Corte, a ponto de leva-la  à realização de escandalosas manobras, como adiamento ou inversão da pauta, para evitar qualquer possibilidade de beneficiá-lo? E quando, por um descuido, alguém abre uma brecha para permitir a sua liberdade, todos se mobilizam, de imediato, para fechá-la, como foi o caso do HC concedido pelo desembargador Favretto, no Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, e a liminar do ministro Marco Aurélio Mello mandando libertar todos os presos condenados em segunda instância. Tem-se a impressão de que a perspectiva de libertação de Lula deixa todos em pânico. Por que?

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Aparentemente eles temem que o maior líder popular deste país possa mobilizar o povo e retornar ao poder, novamente retirando grande parte da população da linha de pobreza, reabrindo as oportunidades de estudo e emprego para os mais pobres, retomando o crescimento, restaurando a soberania do Brasil e recolocando-o entre os principais atores  do cenário mundial. Se isso é muito bom para o nosso pais, quem poderia ser contra? A resposta é óbvia: os maus brasileiros, os bolsonaristas, os exploradores do povo e os Estados Unidos. Ninguém tem dúvidas de que o governo norte-americano esteve e está por trás de todos os acontecimentos que culminaram com a destituição da presidenta Dilma Roussef, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro. Mas – perguntariam os tolos e vira-latas – por qual motivo? Porque os norte-americanos sempre desejaram apossar-se das riquezas naturais do Brasil, especialmente o petróleo, e Lula se tornou o principal obstáculo às suas pretensões. E mais: no governo do petista eles, os norte-americanos, ficaram muito preocupados com a aproximação do Brasil da Russia e da China, sobretudo depois da criação do BRICS, o que os levou a planejar a executar o golpe de 2016, com a valiosa colaboração da mídia e dos tucanos,  depois do fracasso da tentativa de tomar o poder, pela via democrática, nas eleições de 2014.  Eles temem que, com Lula voltando ao poder, possam deixar escapar o Brasil do seu domínio, hoje inteiramente submisso  com Bolsonaro na Presidência.    

O capitão-presidente, em apenas oito meses de governo, já causou mais prejuízos ao Brasil do que o seu antecessor, Michel Temer, em dois anos no Planalto, onde chegou após o golpe  que destituiu a presidenta Dilma Rousseff. Os dois são submissos a Tio Sam (certamente por isso Temer continua em liberdade, apesar das graves acusações sobre sua atuação no porto de Santos), mas Bolsonaro o superou ao se tornar uma cópia piorada de Donald Trump, imitando-o até no comportamento agressivo, brigando com todo mundo dentro e fora do país. Só falta pintar o cabelo de amarelo e aumentar o topete.  Após uma perlenga imbecil e desnecessária com o presidente francês Macron, a quem acusou de tentar interferir em nossa soberania – como se em algum momento tenha pelo menos se importado com ela – Bolsonaro agrediu gratuita e cruelmente a ex-presidenta chilena Michelle Bachelet, ao elogiar o assassinato do seu pai pela ditadura de Pinochet, o que provocou reações contundentes no Brasil, no Chile e em outros países.  Bachelet ocupa, atualmente, o cargo de Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, o que deixa o capitão em situação bastante difícil para fazer o discurso de abertura da Assembléia Geral  das Nações Unidas, um privilégio concedido ao Brasil que virou tradição naquele organismo.  Como seria a sua recepção naquela assembleia, que reúne as nações do mundo do inteiro? As vaias não são improváveis.

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Certamente com receio que isso possa acontecer, Bolsonaro, talvez aconselhado pelos que pensam por ele, programou sua cirurgia para o período que antecede a reunião, de modo a ter uma justificativa para não comparecer ao evento. Com sua ausência ele se subtrairá ao constrangimento e evitará uma nova vergonha para o Brasil. Será melhor para ele e para o país que permaneça em “convalescença”. E aproveite esses dias para pensar – se  é que tem cérebro para isso – meditando sobre o seu comportamento grosseiro e impróprio para um chefe de Estado que, ao invés de se preocupar em encontrar soluções para os problemas nacionais, prefere agredir e  ofender mulheres, como Michelle Macron e Michelle Bachellet, grosseria imitada de maneira subserviente pelos seus auxiliares, entre eles o ministro da Economia Paulo Guedes, o que evidencía o nível desse governo. Bolsonaro, na verdade, conseguiu enquadrar  todos os seus auxiliares e apoiadores, incluindo os seus filhos, silenciando-os de repente. Hoje, quando não falam para bajulá-lo, repetindo suas grosserias, ficam calados, como os generais de pijama e o seu guru, o astrólogo Olavo de Carvalho. Até o vice-presidente Hamilton Mourão, antes tão falante, o que lhe garantiu maior espaço na mídia, hoje se mantém mais discreto, evitando pronunciamentos. Percebe-se, porém, sem muita dificuldade, que de tantos fakes espalhados pelo país o capitão-presidente e os integrantes do seu governo  acabaram se convencendo das próprias mentiras: Bolsonaro diz que está “reconstruindo” o país e Guedes garante que são grandes os “avanços”. Como teria dito Confúcio: “Uma mentira dita mil vezes vira verdade”.  

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