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Rodrigo Abel

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Antologias – Camaradas, cadê a agenda?

Por qual razão é que somente em momentos de crise, como a que atravessamos no Brasil, nos debruçamos a desenvolver novas cifras, roteiros e estratégias? Às esquerdas e aos setores humanistas do capital só lhes restam ousar na busca por uma nova prática política

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Por qual razão é que somente em momentos de crise, como a que atravessamos no Brasil, nos debruçamos a desenvolver novas cifras, roteiros e estratégias? A grande verdade – pelo menos a minha, é que nos últimos anos sofremos deste mal chamado sonolência teórica, preguiça investigativa. É como se o “nunca antes visto na história deste país” fosse o retumbante mundo das inovações sociais, simbólicas e comportamentais. O universo da prática, do fazer agora, do passado como solução teórica presente, dominou nossas mentes por este longo período de hibernação.

A nossa capacidade inventiva, adormecida ou até mesmo reprimida pelas “velhas” oligarquias do “saber”, nos fez e faz pagar um alto preço agora. O reflexo disso  encontra-se em nossa incapacidade de compreensão do novo neoliberalismo, da crise democrática para além do “golpe”,  e das relações produtivas do capitalismo moderno.

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Neste floreio, é atual trazer para a tela Antônio Gramsci e os seus apontamentos sobre a sua militância no Partido Socialista Italiano – PSI.

 

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De um lado do PSI estavam os reformistas, os quais teórica e taticamente privilegiavam  os pequenos ganhos da classe trabalhadora  em detrimento da organização da vontade politica da transformação, colocando-se objetivamente a reboque dos liberais burgueses. E de outro, os maximalistas[1] – formavam a ala mais radical do PSI, que defendiam o programa máximo, terminando por cair em uma posição de expectativa  e de passividade ao esperar a “grande crise”, a “grande catástrofe” que poria fim ao capitalismo e implantaria automaticamente o socialismo (Coutinho, Carlos Nelson, Civilização Brasileira 2011, O Leitor de Gramsci).

 

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É neste cenário agudo de impasses que a esquerda democrática brasileira se encontra.  Se a travessia por um lado pode significar uma caminhada ampliando as condições reformistas sob a vigilância permanente das “elites” – produtivas e financeiras, cuja recente experiência brasileira ainda é objeto de valoração;  há, por outro lado, uma nova secção militante vibrante, porém desorganizada teoricamente e arredia ao sistema político partidário atual.

É desta síntese dialética, mesmo parecendo irreconciliável, que surgirá novos caminhos para as esquerdas democráticas.

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Em uma de suas obras[2] Hegel nos lembra que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes, condição esta aperfeiçoada por Marx na afirmação sobre “farsa” e  “tragédia”. Este velho verbete significa dizer que as condições históricas de 2002 – eleição de Lula, cujo rebatimento se fez sentir em toda a América Latina e no ocidente desenvolvido,  não surgirá pelo simples efeito contrário ao avanço do neoliberalismo e do aprofundamento das políticas de supressão das garantias sociais como alguns acreditam. A “reunião” de condições objetivas que conjugam formulação política, programática, densidade estrutural das representações e coesão dos atores sociais não estão postas, e dificilmente estarão dadas em 2018.

Ao tempo que o final do século XX e inicio do XXI foi marcado pela derrota “simbólica” do neoliberalismo, cuja implementação radical não produziu os benefícios do “Welfare State”, a esquerda,  mesmo que hegemônica do ponto de vista das representações – governos, não logrou êxito duradouro em sua agenda, sendo incapaz em aprofundar as reparações seculares produzidas pelo capitalismo.

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Estamos certamente diante de um novo tempo histórico. As forças do capitalismo moderno, ativas e morfologicamente vivas,  historicamente sempre se reinventaram. Este novo ciclo neoliberal que se apresenta, não se utiliza mais da derrotada narrativa do “estado mínimo”, tão pouco se dispõe em avançar radicalmente sob as ruínas daquilo que sobrou do Estado ainda não privatizado. O núcleo estratégico desta nova ordem está centrado no aprisionamento definitivo da democracia e do estado liberal ocidental.

Este novo “arquipélago” neoliberal aposta na completa desregulamentação do capital, investindo na palavra “trabalho” como forma de  lhe conferir um novo e valorado campo ético a ser explorado. É desta ideia globalizada pela busca do capital produtivo que está o seu nefasto poder de desestruturação das democracias nacionais.

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Em 2013, por exemplo, o patrimônio dos fundos de investimento no mundo era de 72,32 trilhões de dólares, e o dos fundos de pensões 59,23 trilhões. Juntos, controlavam 131,55 trilhões, equivalente a 75,5% do PIB mundial. Para Bauman[3], isso significa dizer que a mobilidade adquirida por “pessoas que investem” sem domicílio, deu nova liberdade ao capital, não havendo diferenças entre questões domésticas ou externas, distituindo assim o espaço local como moderador das relações produtivas. É da unidade entre rentistmo e produção que emerge este neoliberalismo “repaginado”, e que avança sob as bases morais da democracia liberal capitalista.

A aliança entre rentismo e produção está devidamente ilustrada na recente literatura da nova face do capitalismo. Há muito mais coisas comuns do que se possa parecer quando empresas como a Mitsubishi – indústria automotiva,  ou Bristol Myers Squib – indústria farmacêutica,  fecham suas posições no Brasil e nos EUA. Ambas decisões atendem estratégias ditas “globais” de onde e como rentabilizar aos novos senhores do capital – fundos de investimento, sem considerar os efeitos sociais nefastos de sua ação.

Às esquerdas e aos setores humanistas do capital só lhes restam ousar na busca por uma nova prática política, cuja essência passa pela ampliação dos cânones democráticos, pela compreensão das novas relações produtivas do capitalismo moderno e, sobretudo, por um novo ativismo estatal que possa delimitar o campo de atuação deste novo neoliberalismo.



[1] Eles encarnam a idéia límite do socialismo: querem o socialismo total.

[2] G. W. F. Hegel, Preleções sobre filosofia e história. Terceira parte. Berlim, 1837. Werke, v.9

[3] Zygmunt, Bauman, Zahar, Globalização e as Consequencias Humanas

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