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Ribamar Fonseca

Jornalista e escritor

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Ao acusar Bolsonaro, Moro confessou a sua cumplicidade

"Sem foro privilegiado e sem o corporativismo da Justiça, que trocou por seus projetos pessoais, está sujeito aos mesmos processos a que estão expostos qualquer brasileiro, o que significa que poderá provar do seu próprio remédio, curtindo o sol quadrado", escreve o jornalista Ribamar Fonseca

Moro e Bolsonaro. (Foto: Reuters)
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Qual a  diferença entre Bolsonaro e Moro? Resposta: os olhos azuis do capitão. Os dois são como irmãos siameses, parecidos em tudo, na ambição pelo poder, no autoritarismo, na ausência de escrúpulos, na facilidade para mentir, etc. Eles são a melhor comprovação do enunciado da Física, segundo o qual “os semelhantes se atraem”. E são responsáveis, juntos, pela situação desastrosa do país. Graças a Moro, que impediu o ex-presidente Lula de concorrer às últimas eleições presidenciais, o medíocre deputado Jair Bolsonaro, admirador do torturador Brilhante Ulstra, conquistou o Palácio do Planalto e trouxe os militares de volta ao poder, agora pela via democrática.  Nada mais natural, portanto, que tivesse convidado o juiz Sergio Moro, famoso por sua atuação na operação Lava-Jato, para ser o seu ministro da Justiça, com a promessa de indica-lo para uma cadeira no Supremo Tribunal Federal.  A separação traumática dos dois, no entanto, os transformou em inimigos, após um breve período de lua de mel. Na verdade, a saída de Moro do governo começou a se desenhar aos primeiros sinais de desagrado dos filhos do Presidente, motivo porque não chegou a ser uma surpresa.

Também não foi surpresa como o ex-juiz deixou o cargo: atirando. Depois da sua criticada atuação na Lava-Jato, sobretudo após a revelação pelo site Intercept Brasil do seu modus operandi, todos ficaram sabendo que ele é capaz de qualquer coisa para atingir seus objetivos. Ao fazer graves acusações a Bolsonaro, especialmente no que diz respeito à sua tentativa de interferir nas investigações da Policia Federal e do próprio STF, Moro acabou confessando que foi conivente com as ações do capitão, aprovando-as com o seu silêncio. Só colocou a boca no trombone quando percebeu que, após a demissão de Mandetta do ministério da Saúde, era a bola da vez. E, como sempre, contando com a cobertura da grande imprensa, em especial da Globo,  deu o seu showzinho particular, apresentando-se como um herói, defensor da Policia Federal. Obviamente que o seu prestigio dentro da PF subiu às alturas, principalmente quando ele disse que precisava de uma “causa” para aceitar a  demissão do diretor geral  da corporação. Ora, o Presidente da República não precisa de “causa” para demitir quem ele quiser e nem de autorização de subordinado. Se ele  quisesse poderia, inclusive,  exonerar os dois juntos: ministro e diretor. Moro sabia disso mas, obviamente, quis fazer média com os policiais federais.

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O erro de Bolsonaro, na verdade, não estava na troca do diretor mas no motivo. Ele quer alguém que lhe seja fiel e lhe mantenha informado de todos os passos das investigações realizadas pelos federais. Os seus objetivos são: primeiro, impedir que os policiais cheguem até os seus filhos, alvos de várias acusações; e, segundo, ter em mãos informações privilegiadas que lhe permitam manipular os seus adversários políticos. Durante algum tempo Moro comportou-se como um fiel escudeiro, entre outras coisas evitando que a PF localizasse e prendesse Fabricio Queiroz, acusado de operador de supostas “rachadinhas” do então deputado Flavio Bolsonaro,  e também fez vista grossa para as criminosas fakenews que invadiram as redes sociais brasileiras, cujo ponto de partida seria o chamado “gabinete do ódio”, instalado dentro do próprio Palácio do Planalto. Não fora a CPMI das fakenews, em funcionamento no Congresso, e o inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal e até hoje os responsáveis por esses crimes estariam operando tranquilamente, sem receio de punições, atacando adversários de Bolsonaro e ameaçando autoridades, particularmente ministros da Corte Suprema. A pressa do capitão em mexer na Policia Federal deve ser porque o cerco em torno dos filhos dele está se fechando.  

O fato é que as acusações de Moro a Bolsonaro, que escandalizaram o país, podem servir não apenas para destituir o capitão da Presidência da República mas, também, para levar o ex-juiz à cadeia, porque ele é tão culpado quanto o outro. Esse esforço da Globo em transformar Moro em herói, como fez quando ele comandava a Lava-Jato, só funcionou num primeiro momento, ao impacto das acusações. Passados alguns dias, porém, com as emoções voltando ao seu leito normal, já é possível observar-se a extensão das responsabilidades do ex-juiz nas ações do Presidente. Resta saber agora apenas como se dará a punição de ambos: se através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigue com profundidade a atuação dos dois ou, então, a aprovação do impeachment de Bolsonaro, que já conta com cerca de 25 pedidos na Câmara dos Deputados. Ou, então, através da renúncia do capitão, o que parece mais difícil, ou a cassação da chapa presidencial  pelo Tribunal Superior Eleitoral. Apenas neste caso haveria novas eleições, pois nos outros o vice Mourão assumiria o governo.  

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De qualquer modo, parece que os dias de Jair Bolsonaro na Presidência da República estão contados. Afora os seus fanáticos seguidores, que praticamente tem orgasmos quando ele fala em matar, já existe um consenso em todos os setores de atividades para a sua saída do Planalto. A maioria do povo brasileiro, segundo as pesquisas, já o quer fora do governo, o que deve acontecer ainda este ano, em meio à guerra contra o coronavirus. Com a sua queda os seus filhos, que se revelaram  os seus maiores adversários com as crises que provocaram, estarão sujeitos às penas da lei, mais precisamente à prisão,  e tudo leva a crer que todos os três também perderão seus mandatos. Com Moro não será muito diferente. Sem foro privilegiado e sem o corporativismo da Justiça, que trocou por seus projetos pessoais, está sujeito aos mesmos processos a que estão expostos qualquer brasileiro, o que significa que poderá provar do seu próprio remédio, curtindo o sol quadrado. Afinal, essa fama de paladino do combate à corrupção não passou de publicidade, já que à frente do Ministério da Justiça não prendeu nem o Queiroz.  A corrupção , na verdade, nunca  acabou,  embora o aparentemente ingênuo governador Romeu Zema, de Minas Gerais, tenha declarado recentemente que Bolsonaro “acabou com a corrupção no país”, uma declaração vergonhosamente bajulatória.  

Os juristas Pedro Serrano e Eugênio Aragão também são de opinião que Moro é cúmplice de Bolsonaro e, portanto, deve igualmente responder pelos crimes de que acusou o Presidente. A pergunta que muitos se fazem, agora, é: para onde Moro vai? Para o Supremo não tem mais jeito. Em principio ele teria emprego garantido em alguns governos, como secretário de Justiça e Segurança, mas os seus possíveis empregadores deverão pensar duas vezes antes de convidá-lo, porque assim como ele grampeou Bolsonaro poderá fazer o mesmo com eles. Depois do que ele fez  com o Presidente, que o levava para todo lado como troféu, vai ser difícil conquistar a confiança de algum governador, a não ser que queiram correr riscos. Uma opção para ele poderia ser o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com quem trabalhou de braços dados para derrubar Dilma, prender Lula, eleger Bolsonaro e destruir as grandes empresas nacionais da construção civil. Até porque se for para lá poderá escapar das possíveis penas a que está sujeito. A sua primeira grande derrota deverá ser a anulação da condenação injusta de Lula, com a provável aprovação da sua suspeição pelo Supremo Tribunal Federal, cujo processo será julgado nos próximos dias. Afinal, quem planta colhe.  

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