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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Ao ironizar morte de D. Marisa, procuradora revela ignorância sobre realidade feminina no Brasil

A jornalista Denise Assis, do Jornalistas pela Democracia, afirma que os comentários feitos pela procuradora Laura Tessler sobre a ex-primeira-dama D. Marisa Letícia, em um grupo de mensagens da Lava Jato, mostra como ela é " frágil e desatualizada sobre a realidade feminina do país em que vive", além de "desumana, preconceituosa e machista"

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Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia - Não bastasse ter sido tachada de “incompetente” pelos colegas da Lava-Jato - embora no caso deles o rótulo tenha outro significado* – a procuradora Laura Tessler aparece nas recentes revelações de conversas da turma de Curitiba, divulgadas pelo The Intercept, como uma mulher desumana, preconceituosa e machista. 

Sua frase ao tomar conhecimento da morte da ex-primeira-dama, D. Marisa Letícia: “Ridículo… Uma carne mais salgada já seria suficiente para subir a pressão… ou a descoberta de um dos milhares de humilhantes pulos de cerca do Lula”, traz à luz a sua total falta de compostura para o cargo que exerce, além de ser altamente reveladora.

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Ao medir D. Marisa por sua régua, a Dra. Tessler mostra-se, além de tudo, frágil e desatualizada sobre a realidade feminina do país em que vive. Sem contar a sua total falta de “sororidade”, termo que não deve constar do seu vocabulário. 

O comentário sobre o excesso de sal na carne, remete (tal como o que foi feito pelo presidente relativo à Brigitte, a primeira-dama francesa), à idade de D. Marisa. E, quanto às “puladas de cerca”, Laura mostra-se ainda no século 19, quando Alexandre Dumas Filho fez sucesso com o romance “A Dama das Camélias”, em que a mocinha adoece, suspira e morre por amor (desculpem o spoiler).

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O que a Dra. Laura Tessler ignora é que a força e a formação política de D. Marisa não permitiriam para ela esse desfecho. D. Marisa enfrentou as tropas da ditadura, realizando uma passeata com centenas de mulheres e filhos de metalúrgicos pela liberdade de seus maridos e pais. Cena impensável na vida desta senhora, habitué de gabinetes. O casal “da Silva” viveu uma trajetória de luta e cumplicidade, onde não cabem cenas de traição com “the end” de morte ou mal súbito. Reserve isto para a sua biografia, Dra. Só uma mulher muito “inha” poderia supor tal epílogo.

Não fosse suficiente todo o desrespeito com D. Marisa, a Dra. Laura Tessler ainda demonstra total ignorância sobre a vida das mulheres brasileiras, que ao se verem traídas ou abandonadas por seus pares, vão à luta pela própria sobrevivência e a dos seus filhos. De acordo com números do IBGE, o total de famílias chefiadas exclusivamente por mulheres, no Brasil, nos últimos 15 anos, mais que dobrou. O número de lares com esse formato teve um crescimento de 105% e já representa 40,5% das residências do país. Eram 14 milhões em 2001 e, em 2015, somavam 28,9 milhões. Dessas, 11,6 milhões estão inseridas no chamado “arranjo monoparental”, ou seja, composição familiar de núcleo único (sem cônjuge).

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Outro aspecto distante do horizonte desta senhora Tessler, é a violência que as brasileiras enfrentam pelas ruas, país afora. Em 2018, o Atlas da Violência (Ipea/FBSP) se debruçou pela primeira vez sobre o quadro de abusos sexuais contra meninas e mulheres. Ao comparar os dados registrados pelas polícias nos estados brasileiros e no Sistema Único de Saúde, o estudo alertou que: considerando a subnotificação, estima-se que ocorram entre 300 mil e 500 mil estupros a cada ano. A mesma fonte calcula que aconteçam 135 estupros registrados por dia e ressalta que se todos os casos fossem denunciados oficialmente, isso elevaria a estimativa média para 822 a 1.370 estupros a cada dia no Brasil. Sem contar o número de vítimas femininas de assassinatos. São em média 13, diariamente.

Com toda esta tragédia diante dos olhos, Dra. Procuradora Laura Tessler, torna-se cada vez mais raro os casos de mulheres que caiam duras por uma “pulada de cerca”. Os pulos dados pelas brasileiras hoje são pelo sustento e pela preservação da vida. A senhora não tem alma e está muito demodé.

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*Laura Gonçalves Tessler é uma procuradora do Ministério Público Federal que ganhou notoriedade ao passar a integrar em 2015 a força-tarefa do MPF na Operação Lava Jato, em Curitiba. É formada em direito pela Universidade Federal do Paraná e, aos olhos dos colegas procuradores, sua incompetência se deveu ao fato de não ser enfática e incisiva nos questionamentos ao ex-presidente Lula, durante o seu interrogatório.

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