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Paulo Henrique Arantes

Jornalista há quase quatro décadas, é autor do livro "Retratos da Destruição: Flashes dos Anos em que Jair Bolsonaro Tentou Acabar com o Brasil". Editor da newsletter "Noticiário Comentado" (paulohenriquearantes.substack.com)

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Ao lhe dar livro sobre generais americanos, Mourão humilha Braga Netto

Braga Netto desaparece ao lado das lendas militares

Braga Netto (Foto: Fernando Frazão / Agência Brasil)

Malu Gaspar nos dá conta, em sua coluna n’O Globo, de que o general Hamilton Mourão visitou seu homólogo Braga Netto, que está preso no Comando da 1ª Divisão do Exército. E levou-lhe um presente, o livro The generals – American Military Command from World War II to Today (“Os Generais: O Comando Militar Americano da Segunda Guerra Mundial e Até Hoje”, em tradução livre). A obra perfila os generais-heróis americanos George Patton, George Marshall e Douglas MacArthur.

Mourão, hoje senador, possivelmente sem querer demonstrou a Braga Netto sua pequenez diante de três militares que honraram a farda e seu país, os Estados Unidos, a despeito de contestações que se façam a todos que têm a guerra como campo de exercício profissional.

Se em algum dia da vida Braga Netto se inspirou nos três generais americanos, esqueceu deles quando ajudou a arquitetar um golpe contra seu próprio país, ou mesmo quando comandou a malfadada intervenção militar no Rio de Janeiro, na qual as Forças Armadas foram usadas no papel de polícia. Um dos resultados foi o assassinato da vereadora Marielle Franco.

O lendário general Patton ganhou fama por seu estilo agressivo e discursos inflamados. Foi um dos comandantes mais eficazes e polêmicos do Exército dos Estados Unidos. Liderou o 7º Exército na invasão da Sicília e depois o 3º Exército na libertação da França e no avanço sobre a Alemanha. Era considerado um gênio da chamada guerra de movimento, respeitado pelos resultados e criticado pelo temperamento explosivo.

O general Marshall foi chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Era um organizador nato e estrategista genial. Nunca comandou tropas em combate direto, mas foi o arquiteto da vitória aliada. Coordenou a mobilização de milhões de soldados e planejou as grandes ofensivas aliadas. Depois da Guerra, foi secretário de Estado e idealizador do Plano Marshall, responsável pela reconstrução da Europa. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1953 e é lembrado como um dos maiores estadistas-militares da história americana.

Douglas MacArthur, por sua vez, tinha perfil ambicioso, teatral e carismático. Foi figura dominante no Pacífico. Conduziu a campanha de reconquista das Filipinas e aceitou a rendição do Japão em 1945, país do qual comandou a ocupação e onde iniciou reformas democráticas. Na Guerra da Coreia, obteve vitórias rápidas, mas foi destituído pelo presidente Truman após desentendimentos sobre a condução do conflito. Apesar de controverso, é considerado um herói nacional por muitos e teve papel decisivo na geopolítica asiática do pós-guerra.

Braga Netto desaparece ao lado dessas três lendas militares. Tendo ocupado ao longo da carreira diversos cargos de chefia e comando, deslustrou sua biografia ao se tornar ministro da Casa Civil e depois da Defesa do governo de um capitão malvisto na própria caserna e pouco preocupado com a soberania do país, pois sempre em genuflexão perante outra nação, os Estados Unidos. Não satisfeito em compor um governo abertamente antidemocrático, participou com protagonismo das articulações para derrubar um governo legítimo e legalmente eleito e empossado. Está preso preventivamente por isso, e deverá ser condenado.

Que o presente que recebeu de Hamilton Mourão sirva para acordá-lo para a  verdadeira e única vocação militar: defender seu país contra o inimigo externo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.