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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Aplausos ao nome de José Múcio fazem reverberar um passado incômodo

'Ao escolher para a pasta da Defesa o ministro José Múcio, a sinalização é a de que Lula não fará marola', escreve a colunista Denise Assis

José Múcio (Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil)
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Por Denise Assis, para o 247

Em entrevista concedida para o Gustavo Conde, da qual participei na quarta-feira (07/12), com o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, o amigo de longa data do presidente Lula foi enfático ao dizer que não podemos errar novamente. Segundo ele, o acordo feito com os militares para obter a anistia que trouxe de volta ao Brasil os exilados da ditadura e permitiu a libertação dos presos políticos, em 27 de agosto de 1979, jamais foi cumprido por eles. As esquerdas tocaram a vida sem incomodá-los, mas eles nunca jamais admitiram as graves violações dos direitos humanos cometidas no período e tampouco restituíram os restos mortais dos que sucumbiram à tortura e foram “desaparecidos”.

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Na entrevista Greenhalgh disse: “desta vez não podemos ter medo”. E acrescentou ser necessário agora penalizar de forma exemplar os que perpetraram crimes contra o estado de direito. Em sua opinião, Bolsonaro e os filhos precisam também responder pelas acusações que sobre eles pesam. “Sem medo, sem ódio, mas com justiça”, conclamou, brandindo o pulso. 

Ouvi e assenti, mas em seguida coloquei para ele a minha dúvida: “sendo o Lula um conciliador, um homem de paz e do diálogo, será que ele vai concordar com essas punições?” Conhecendo profundamente o amigo, ele parou, deu um meio sorriso e admitiu que, sim, corremos o risco de ver o novo presidente assumir, travar com afinco o combate contra as injustiças sociais, deixando passar ao largo, em nome da governabilidade, essa discussão. Até porque, convenhamos, Bolsonaro agora é um caso para a Justiça.

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Ao escolher para a pasta da Defesa o ministro José Múcio, a sinalização, talvez para decepção do amigo e advogado Greenhalgh - um homem que dedicou a sua trajetória a lutar por trazer à tona os abusos da ditadura -, é a de que Lula não fará marola. Não vai se pronunciar a respeito, mesmo tendo prometido várias vezes em seu discurso de campanha, que no dia 2 de janeiro iria revogar os sigilos de 100 anos, usados de forma abusiva por Bolsonaro, para encobrir os seus malfeitos, os dos filhos e os dos amigos. 

Foi assim que o general Eduardo Pazuello, responsável direto por milhares de mortes durante a pandemia e transgressor do regimento das Forças Armadas, acabou candidato e eleito para a Câmara dos Deputados, pelo Rio de Janeiro. Seu processo foi um dos que mereceu o sigilo.

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Tem toda razão o amigo e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh. A impunidade nos amesquinha, nos diminui e nos torna reféns do fenômeno descrito pelos acadêmicos Otávio Dulci e René Dreifuss, no início dos anos de 1980, em artigo para o livro “Sociedade e Política no Brasil pós-1964”. Eles chamaram de “síndrome da tensão-pressão” e previram que a sociedade brasileira viveria dali por diante, o arrocha e descontrai feito pelas Forças Armadas ao longo de todos esses anos. 

Eles nunca, de fato, saíram de cena. Nunca se recolheram aos quartéis. De nota em nota, de manifesto em manifesto e em seus enclaves, como a Escola Superior de Guerra (ESG), foram orientando quadros reacionários, através de cursos para segmentos formadores de opinião e de importância social, tal como os profissionais do Judiciário, sonhando com o retorno ao poder. 

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O resultado se vê, agora, quando nos deparamos cotidianamente com manchetes que nos informam: arquivado o processo de Damares Alves, arquivado o processo contra Deltan Dallagnol, a PGR mandou arquivar esta ou aquela denúncia contra Bolsonaro... São os influenciados pelos textos e cursos ali formulados.

Tudo isto para dizer que, sim, a barra pesou na campanha. O nível de agressividade que se viu pelo país provocou mortos, cujos nomes Lula deveria citar em seu discurso, pois foram os mártires da luta pela democracia, enfim conquistada nas urnas. (E até isto queriam nos negar. O resultado limpo das eleições que referendaram a nossa escolha). Sim, esses senhores fardados, convidados indevidamente para participar do pleito entraram, se esparramaram e esticaram os pés sobre a mesa da sala de visitas. Por isto a cautela, por isto os pedidos deslavados de “anistia para o papai” não tenham merecido “invertidas” competentes. Lula pisa em ovos. Múcio é o anteparo.

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Porém, são bem-vindas observações como as do colega Chico Alves (Uol): "O nome do José Múcio quer dizer que o governo Lula cede às Forças Armadas num momento em que as Forças precisavam ter um redirecionamento"...disse. Isto mostra que a indignação é elemento necessário que pode levar o ministro que agora abraça a função de distensionar na hora da “tensão” e conter quando vierem as pressões, a refletir. Resta saber para que lado ele puxará a corda.

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