Após ser absolvido, o aluno da USP que violentou mulheres quer se especializar em ginecologia
A mulher não é violentada porque o homem tem hormônios. E sim porque ainda não existe igualdade de gênero em uma sociedade conivente com os sucessivos desrespeitos sofridos diariamente pela mulher
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Quando eu gravei um vídeo para o Canal Púrpura sobre castração química, fui severamente criticada pelos grupos conservadores. Eu argumentei que castração não é a solução porque a violência não está nos hormônios masculinos, mas na cultura. Falei que a punição, apesar ser obviamente importante, não tem o poder de promover uma transformação cultural, imprescindível para combater a violência de gênero. E reiterei que acho nocivo buscar respostas na aprovação desse projeto porque ele desvia a atenção da sociedade para comportamentos que constroem a cultura machista estruturante dos crimes contra a mulher. Sabemos que a incoerência mora no cotidiano.
Os homens que gritam contra esses bandidos são os mesmos que desrespeitam mulheres na rua, compartilham conteúdo íntimo não autorizado ou levantam a voz para a colega de sala. E o autor do projeto de lei é o mesmo deputado que diz que o Estado não deve investir em políticas de igualdade salarial entre os gêneros e que não contrataria mulheres com seu próprio salário, já que elas engravidam e poderiam dar prejuízo à sua empresa. Isso nos mostra que acreditar na castração acaba sendo um pretexto para muito macho não enxergar o tijolinho que ele coloca todos os dias no paredão que essa cultura representa. Eis que a comprovação vem a cavalo. O estudante acusado de praticar diversas vezes o crime em questão teve seu comportamento legitimado por uma das instituições mais respeitadas do Brasil e vai se especializar em ginecologia e obstetrícia. A USP não interferiu no destino das mulheres que serão tratadas por esse médico.
O Tribunal de Justiça de São Paulo também não. Tampouco o Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, que emitiu o registro previamente negado pelo órgão paulista. Se até o Estado tem responsabilidade na conjuntura de violência de gênero, como é que tanta gente não percebe que o problema está na própria sociedade, não no remédio injetado na veia do criminoso? Para evitar que mais esposas sejam atiradas da sacada do apartamento, vamos proibir a construção de prédios ou estudar o que está por trás dos casos de feminicídio? A mulher não é violentada porque o homem tem hormônios. E sim porque ainda não existe igualdade de gênero em uma sociedade conivente com os sucessivos desrespeitos sofridos diariamente pela mulher. Nós só vamos mudar a realidade de violência transformando a cultura que a construiu. #canalpúrpura #PurpurizeSe #feminismo #direitosdamulher #igualdadedegênero #violênciadegênero #machismo #assédio #abuso #agressão
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