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Marlon Marques

Mestre em História Social Pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Membro do Laboratório de Economia e História (Lehi) e do Núcleo de Estudos sobre Capitalismo, Poder e Lutas Sociais (Necap)

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Argentina nas urnas: o que a disputa presidencial dos portenhos anuncia para o próximo período eleitoral brasileiro

Junto a uma enxurrada de capital transnacional, a desinformação e as fake news ganharam espaço mesmo em uma das sociedades mais escolarizadas do continente

Alberto Fernández, presidente da Argentina (Foto: ARN/captura de vídeo/reprodução)
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O processo eleitoral argentino anda a todo vapor e o mundo está de olho para acompanhar o que vai acontecer no país com a segunda maior economia da América do Sul. No dia 13 de agosto os hermanos devem ir às urnas e definir, nas Prévias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (PASO), em qual coligação desejam votar e quem serão os candidatos presidenciais, provinciais e legislativos das eleições gerais.

Ao que tudo indica, na disputa pela presidência do lado peronista e governista, o candidato será Sergio Massa, atual ministro da economia e que já ocupou a presidência da Câmara dos Deputados e a prefeitura da cidade de Tigre. Já na coalizão de direita, Juntos por el Cabio, cujo a liderança mais emblemática continua sendo Mauricio Macri, o ex-prefeito de Buenos Aires, Horacio Larreta, deve ser o presidenciável. Pela extrema-direita na coligação La Libertad Avanza, o nome de Javier Milei, conhecido como Bolsonaro argentino, aparece em destaque. Na esquerda trotskista e sindicalista os nomes de Myriam Bregman e Gabriel Solano são os mais prováveis.

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Diante desse cenário complexo, uma pergunta que chama atenção é: como esse desenho eleitoral da Argentina pode afetar nas eleições brasileiras do próximo ano? Lembremos que há alguns meses atrás a vitória do presidente Lula e de outros líderes da esquerda no continente trouxeram a expectativa de uma reedição da onda rosa, ou de algo muito similar. 

Porém, a previsão se esfarela ao observar, por exemplo, a falta de um presidenciável na Argentina que se posiciona como herdeiro, ou ao menos parceiro do kirchnerismo, demonstrando assim o esgotamento do modelo inclusivo daquele período. Basta ver que os mercados comemoraram a união do bloco peronista entorno da candidatura de Sergio Massa. Os especuladores fizeram subir para os níveis mais altos desde março os títulos da dívida externa do país. A diretora da empresa Management & Fit, em Buenos Aires, resumiu o sentimento do empresariado: “Cristina perdeu poder e hoje todas as candidaturas viáveis são muito pró-mercado".

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Esse quadro de rejeição à esquerda começou a ser pintado logo que Macri perdeu as eleições. A reação rápida da direita causou a Alberto Fernández uma grande derrota já no pleito de 2021, em que perdeu a maioria no congresso, isso impôs a ele uma situação inédita, pela primeira vez desde 1983 a coalizão peronista teve de estabelecer alianças com a oposição para aprovar leis.

Soma-se a isso o papel destacado desempenhado pelo extremista de direta Javier Millei, que aposta em teses negacionistas sobre o aquecimento global, a dominação mundial pelo marxismo cultural e a ameaça LGBTQIA+ às famílias tradicionais argentinas. Ele acredita, por exemplo, que as pessoas deveriam ter a “escolha” de vender seus próprios órgãos ou filhos, pois essa é uma parte ainda não explorada pelo mercado e os pobres deveriam ter esse tipo de direito. Sua solução para a crise inflacionária que atravessa o país também é estapafúrdia, defendendo a dolarização completa da economia modelo que gerou perda de poder de compra, restrições fiscais severas e expansão da pobreza no Equador. 

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Explorando o desgaste das estruturas políticas tradicionais da Argentina, Javier Milei se posicionou como outsider, mesmo exercendo o cargo de deputado e foi impulsionado pelos canais de televisão, jornais e a internet. Amigo próximo de Eduardo Bolsonaro, ele participa de uma aliança transnacional da extrema-direita que tem dirigentes como Donald Trump, José Antonio Kast e Rafael Aliaga. 

Fato é que junto a uma enxurrada de capital transnacional, a desinformação e as fake news ganharam espaço mesmo em uma das sociedades mais escolarizadas do continente. Por isso Milei cumpriu um papel chave nesse processo, deixou a cena política mais a direita possível a tal ponto que o neoliberal Macri parece razoável e Sérgio Massa com seu histórico pró-mercado é visto como candidato da centro-esqueda. O resultado é que antes mesmo de abrirem-se as urnas, ou  mesmo de ter começado a votação, já sabemos que a esquerda sairá derrotada.

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Esse panorama deve servir de alerta para a esquerda brasileira que continua perdendo a batalha da comunicação. Sofrendo com as relações no Congresso nesses primeiros meses, Lula e o PT estão outra vez vulneráveis na guerra cyber-ideológica, basta ver que a oposição não aposta só no fracasso do governo, ela pauta o debate através da convocação de diversos ministros, enquanto "mita" para fazer com que uma legião de possíveis candidatos em 2024 viralizem nas plataformas digitais.

O objetivo é criar um clima de tensão permanente, enquanto polemiza e faz prosperar a pauta de costumes. Ao mesmo tempo, a elite brasileira tradicional quer empurrar o espectro ideológico o mais à direita possível, fazendo com que o MBL, e até os ultraliberais do Novo, pareçam opções mais racionais e razoáveis. Dessa forma ultra segmentada, a direta pode impor uma derrota vertiginosa a Lula, ao PT, e aos demais partidos de esquerda. Ganhando as administrações de municípios estratégicos, pode viabilizar finalmente nas próximas eleições a tão sonhada terceira via. A inelegibilidade de Bolsonaro inclusive faz parte dessa conta. Se isso ocorrer, assim como o kirchnerismo, o lulismo e seu modelo de governança podem começar a ruir de forma irremediável em menos tempo do que se imagina.     

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