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João Negrão

João Negrão é jornalista em Brasília e edita o Blog do João Negrão

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Armas químicas do agronegócio aniquilam comunidades tradicionais em Mato Grosso

O Brasil é o campeão mundial em uso de agrotóxicos, boa parte dos quais banidos no resto do mundo, e Mato Grosso é o campeão nacional

Arquivo EBC (Foto: Arquivo EBC)
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Há um cenário próximo de aniquilação das comunidades tradicionais
indígenas e quilombolas em Mato Grosso por conta da pulverização de venenos do agronegócio, a maioria deles contendo componentes de armas químicas bombardeadas nas principais guerras do século 20.

Componentes de produtos químicos empregados como armas na Primeira e Segunda Guerras Mundiais e em conflitos derivados da Guerra Fria, como a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietnam, estão sendo despejados indiscriminadamente em lavouras de Mato Grosso e, de forma criminosa, sobre comunidades tradicionais indígenas e quilombolas do Estado.

O Brasil é o campeão mundial em uso de agrotóxicos, boa parte dos
quais banidos no resto do mundo, e Mato Grosso é o campeão nacional.

Para se ter uma ideia da gravidade do problema, se no País a média de consumo dos venenos utilizados nas lavouras é de 7 litros por
habitantes ao ano, nas áreas de cultivo mato-grossenses esta proporção se aproxima dos 67 litros. E em alguns municípios, especialmente os com mais produção de monoculturas e maior densidade populacional, a proporção salta para mais de 300 litros por pessoa ao ano.

Esses dados são de estudos de pesquisadores do Núcleo de Estudos em Ambiente, Saúde e Trabalho (NEAST), do Instituto de Saúde Coletiva (ISC) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O NEAST desenvolve uma série de pesquisas sobre a utilização de agrotóxicos e seus impactos na população de Mato Grosso. Os resultados são devastadores.

Anotem estes números e a letra: 2-4-D. Eles representam o princípio
ativo do principal componente do chamado agente laranja, uma
devastadora arma química despejada aos borbotões sobre as áreas rurais do Vietnam para desabrigar populações e devastar vegetações para expor áreas de ataques das bombas dos Estados Unidos e causar mortes e fome.

O 2-4-D está na composição de agrotóxicos com os nomes fantasia Aminol e o Tordon, que são utilizados em largas escala na pulverização de lavouras de soja, algodão e milho país afora, mas que em Mato Grosso o despejo é incontrolável. Pasmem! O 2-4-D é legal e comercializado em todo o território nacional sem nenhuma restrição.

A função principal do 2-4-D é desfolhar “ervas daninhas” que impedem o brotar das sementes e o crescimento das cultivares do agronegócio (soja, milho, algodão, sorgo etc.) e apressar a secagem das plantas para permitir a colheita no tempo estabelecido.

Agora, você que está aqui lendo este texto pode se perguntar: “Mas
estes venenos não contaminam os grãos e plumas coletados que são exportados, o que provocaria a reação dos importadores?”.

A resposta é “NÃO!” Isto porque todas as sementes plantadas nessas
lavouras são transgênicas, modificadas geneticamente para serem
resistentes aos venenos. Ou seja, vão chegar na China e em outros
países sem resquícios da contaminação que fica aqui no Brasil
destruindo vidas.

Enquanto isso, o 2-4-D e todos os demais agrotóxicos tão venenosos
quanto são despejados sobre as lavouras e atingem as comunidades
indígenas e quilombolas, que se configuram como verdadeiras ilhas de preservação naqueles mares de devastação florestal, provocando uma destruição cujos resultados estão ocorrendo de forma imediata.

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Igualmente as cidades e outras áreas urbanas sitiadas pelas plantações estão sofrendo as consequências.

Para as comunidades tradicionais, o resultado - além de terem seus
territórios cotidianamente ameaçados pela invasão para extração de
madeira e minérios e pela grilagem tendo como suporte a pistolagem -, agora é o enfrentamento de uma sofisticada ação de despejo de produtos químicos para destruir a vida de seres humanos e animais naqueles territórios, além de suas ervas medicinais, árvores frutíferas e todo seu habitat.

O aniquilamento ao qual nos referimos no título e primeiro parágrafo
acima se expressa no resultado desta proliferação criminosa da
pulverização de produtos tóxicos não respeitando os limites
estabelecidos por lei, de no mínimo 500 metros das áreas de ocupação habitacional e de comunidades tradicionais.

Ao desrespeitar os limites, o agronegócio deliberadamente investe de
forma criminosa contra comunidades indígenas e quilombolas, como uma das formas de aniquilar suas formas de sobrevivência, contaminando suas plantações de subsistência.

Os estudos do NEAST mostram a contaminação proliferando diversas doenças como cânceres, distúrbios respiratórios, confusões mentais, abortos espontâneos e má formação de fetos, entre outros males avassaladores.

Ou seja, o agronegócio deliberadamente – é lícito enfatizar - está
atacando com suas armas químicas as comunidades tradicionais indígenas e quilombolas e estão impunes pelo governo que estertora. Não é por outra razão que, segundo os pesquisadores, as contaminações obtiveram enorme salto nos últimos quatro anos com a liberação indiscriminada de produtos tóxicos e o afrouxamento criminoso na fiscalização e impunidade dos criminosos.

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