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Artimanhas políticas

Partindo do princípio que o motivo das panelas nunca foi combate à corrupção – já que os maiores corruptos e saqueadores são os ídolos de quem protesta – fica fácil demais afirmar que o desejo de manter o abismo social é a grande bandeira daqueles que vociferam por justiça.

Partindo do princípio que o motivo das panelas nunca foi combate à corrupção – já que os maiores corruptos e saqueadores são os ídolos de quem protesta – fica fácil demais afirmar que o desejo de manter o abismo social é a grande bandeira daqueles que vociferam por justiça. (Foto: Jomar Magalhães)

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Independente do desfecho do quadro político brasileiro, ainda que saibamos não haver desfecho, algo de bem proveitoso já se desenhou nesse princípio (apenas princípio) de maremoto: uma sociedade desnudada em seu preconceito.

Partindo do princípio que o motivo das panelas nunca foi combate à corrupção – já que os maiores corruptos e saqueadores são os ídolos de quem protesta – fica fácil demais afirmar que o desejo de manter o abismo social é a grande bandeira daqueles que vociferam por justiça.

Decididamente, quem tem o egoísmo correndo pelas veias, jamais verá com bons olhos a modesta ascensão social dos que buscam escapar da condição de servo e de miserável. Jamais aceitarão que através da "meritocracia" os malnascidos obtenham vitórias a partir da primeira porta que o governo lhes abrir.

O desejo de condenar o desassistido a não ter o direito de ver seus filhos em uma creche, alimentados, residindo sob um teto descente, com acesso a cursos técnicos ou universidades e a desfrutar de uma vida razoavelmente digna, vai sempre se camuflar em discursos repletos de sofismas.

Ao menos, devido a tantas justificativas - e todas tão frágeis e contraditórias - as ações de repulsa, e mesmo de ódio, não são mais dissimuladas. Os senhores da senzala já vomitam abertamente o que nunca conseguiram digerir. Afinal, imagina que situação mais vexatória ter que aprender política com um semi-alfabetizado!?

Quem é ele pra ousar ter sobrevivido se "a morte dos severinos de fome um pouco por dia" era praxe nos governos anteriores? Como ousou largar a fábrica e questionar a relação de trabalho dos seus iguais? Como ousou transitar com desenvoltura pelos salões e corredores dos que detém o poder? E a jogar os holofotes do mundo sobre o Brasil? E a tirar 36 milhões de brasileiros da miséria extrema? E a etc e etc...?

Curioso que muitos que desfilaram de verde e amarelo, camuflaram-se também nas procissões da Semana Santa. Ali exaltaram as ações d'Aquele que partilhou o alimento; ofereceu conforto aos oprimidos; resgatou a dignidade dos excluídos e denunciou a opressão. Preocupados em caprichar nos brados de amém, seriam incapazes de admitir que gritariam por Barrabás se naquele julgamento estivessem.

Ademais, pobre bom é o pobre da Bíblia. Nada melhor que me sensibilizar com quem sofre a uma distância de dois mil anos de mim. Para esses eu lanço uma moeda na sacola das ofertas com a singela preocupação que meu vizinho ouça o seu tilintar.

Enfim, esqueçamos a retórica de povo solidário e acolhedor. As feras já mostraram suas garras e aumentaram seus rugidos. Aproxima-se o maremoto. A melhor vitória pertence àqueles que não se envergonham de dizer às gerações futuras o exato lado que escolheu.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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