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Victor Maia

Professor e psicanalista, com pós-doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

16 artigos

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As bases sociais perdidas pela esquerda estão no culto de domingo

Ao confundir as pautas identitárias com a agenda social e trabalhista, a esquerda se afasta sobremaneira desses indivíduos que se identificam com a fé evangélica e fazem dela a sua visão de mundo intrínseca

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Pressionada por uma crise de identidade e por um movimento global de contestação conservadora de suas pautas multiculturais, a "esquerda" passa por um momento bastante sensível e crítico em todo o mundo. No Brasil, vimos como a "onda conservadora" das eleições de 2018 deu um duro golpe no campo progressista, ao eleger personagens da ultradireita em âmbitos federal e estaduais. A cada dia, novos direitos sociais são contestados ou suprimidos, sem que o campo progressista consiga dar respostas satisfatórias. A esquerda viu, nesse contexto, o encolhimento de suas bases populares, que foram absorvidas principalmente pelas igrejas evangélicas.

As pesquisas realizadas pelo IBGE e pelo Datafolha até aqui confirmam a transição religiosa pela qual passa o Brasil, com o forte crescimento do grupo dos evangélicos, em suas variadas denominações. Trata-se de um grupo religioso diferenciado, mais assíduo em sua fé do que os católicos, bem como mais atento à pauta dos costumes e das interdições/liberdades socioculturais. Ao mesmo tempo, os evangélicos não constituem um bloco homogêneo e uniforme, com anseios e reivindicações iguais entre si. Há que se notar a singularidade do sujeito protestante, suas agendas e visões de mundo específicas.

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No Brasil, os partidos de esquerda foram formados a fim de dar voz aos anseios e necessidades dos movimentos sociais, dos trabalhadores e das bases populares. A esquerda pós-democratização foi forjada, nesse sentido, na escuta dos interesses das classes menos favorecidas. Os partidos (leia-se o Partido dos Trabalhadores) conseguiam organizar as bases sociais populares por meio da escuta institucional democrática, da capilaridade de suas ações, dos comitês populares etc. A esquerda se consolidou no movimento de ida até o povo, muitas vezes chegando ali onde o Estado jamais se mostrara presente.

Ao confundir as pautas identitárias com a agenda social e trabalhista, a esquerda se afasta sobremaneira desses indivíduos que se identificam com a fé evangélica e fazem dela a sua visão de mundo intrínseca. O que deve ser notado aí é que podemos professar o protestantismo – sermos, por exemplo, contrários à liberação das drogas e do aborto – sem para isso abrir mão de uma perspectiva de justiça social, de defesa dos direitos humanos, de uma política efetiva de bem-estar social para os mais pobres e da preservação do meio ambiente. As pautas identitárias são fundamentais para a esquerda, mas a esquerda não se reduz a elas. É preciso, portanto, pensar uma esquerda que comporte também os anseios sociais dos evangélicos em sua plenitude.

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O objetivo desses indivíduos é prosperar e ter uma vida estável, como qualquer outra pessoa. E é exatamente isso que lhes é prometido dentro dos templos neopentecostais. Em muitos lugares do Brasil, as igrejas estão cumprindo um papel social que o Estado não se mostra capaz de cumprir. Ali onde falta uma escola municipal, uma unidade básica de saúde, um CRAS, ou qualquer outro serviço público, há sempre um ou mais templos evangélicos tentando suprir essas carências.

Por outro lado, há que se entender que não devemos rechaçar os neopentecostais, pura e simplesmente, pela sua crescente ocupação dos espaços de poder. Isso faz parte de um regime democrático saudável. Trata-se, ao contrário, de posicionar-se contra a defesa permanente de pautas violentas e intolerantes, muitas vezes de verniz neofascista. Ao mesmo tempo, é preciso repensar a atuação de uma esquerda mais acolhedora das pautas evangélicas. Ou seja, precisamos nos encontrar novamente com nossas bases sociais. E este encontro não será em outro lugar que o culto do domingo à noite.

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