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Armínio Westermann

Analista político

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As exigências de Marina Silva

Marina não defende que a Amazônia seja transformada numa reserva natural. Defende a aliança entre a biotecnologia e conhecimentos tradicionais dos povos

Marina Silva (Foto: Nacho Doce/Reuters)
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Marina Silva está pronta a integrar a frente ampla contra Bolsonaro. O Brasil, ela afirma, "não tem como suportar mais quatro anos de Bolsonaro" (https://apublica.org/2022/04/marina-silva-concorrer-a-camara-e-fazer-frente-a-terra-arrasada-deixada-por-bolsonaro/). Seja no plano do meio-ambiente, das políticas sociais, da economia ou dos direitos humanos, "derrotar Bolsonaro e o bolsonarismo", diz ela, "é um ato de legítima defesa".

Fiel à sua vocação e à sua história, o que ela pede para declarar apoio a Lula é simplesmente um compromisso mais claro do PT com relação ao meio-ambiente. De modo específico e transparente, Marina pede: a) o abandono do projeto de construção de hidrelétricas na Amazônia, em particular no Rio Tapajós; b) investimentos pesados no programa de agricultura de baixo carbono (ABC); c) investimentos igualmente significativos no desenvolvimento de combustíveis limpos.

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De forma mais ampla, ela afirma que "essa [não] é uma agenda da ecologia pela ecologia, essa é a agenda da economia do século XXI". Isso não implica dizer que Marina seja contra, por exemplo, o pré-sal ou contra o petróleo de modo geral. O que ela defende, com plena razão, é que utilizemos "os meios que ainda temos a partir dessa fonte – que não tem como ser suprimida da noite para o dia – para investir recursos na transição energética".

Da mesma forma, Marina não defende que a Amazônia seja transformada num imensa reserva natural, bloqueada ao exercício de atividades econômicas. Ao contrário, Marina defende o uso racional das riquezas da região, com base na aliança entre a biotecnologia e os conhecimentos tradicionais dos povos da Amazônia. Essa articulação, segundo ela, permitiria a criação de "sistemas agroflorestais de indústria", para a produção de "novos produtos, materiais e cadeias de valor".

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Por fim, Marina pede que seja colocado um ponto final na política de "regularização fundiária", isto é, na política de regularização periódica da "grilagem". O que é necessário fazer, segundo Marina, para colocar fim ao caos e à destruição na Amazônia é um "ordenamento territorial e fundiário, que pressupõe demarcar as terras indígenas; isolar os povos originários que não podem ter contato, criando inclusive um cinturão de proteção; consolidar áreas que podem ser utilizadas para atividades produtivas agrícolas de base sustentável, fazendo transição para o programa ABC [de agricultura com baixas emissões de carbono], como o que foi desenvolvido pela Embrapa. Mas não vamos chegar a isso", ela ressalta, "se continuar[mos] destinando 1% do plano Safra para agricultura de baixo carbono e 99% para a agricultura tradicional.

Isso é o que separa Marina do PT.

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Marina pede ao PT, apenas, um ajuste no modelo "desenvolvimentista" implementado a partir do segundo governo Lula. Marina pede ao PT, basicamente, uma política energética e uma política agrícola em linha com o que partidos de esquerda, sob influência do ideário ambientalista, tem defendido, com unhas e dentes, em países como França, Alemanha ou Portugal.

Energia limpa e comida saudável.

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São temas, no mundo civilizado, incontroversos.

E o PT  -- à luz, inclusive, da experiência do MST, que é hoje um movimento agro-ambientalista, focado no desenvolvimento e na massificação da agricultura agro-ecológica -- não tem qualquer razão para hesitar diante da demanda por compromissos mais explícitos e ousados nesse campo.

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Estamos em condições de construir uma aliança reunindo o melhor do Brasil. Caminham para o entorno de Lula, ansiosas para salvar o Brasil de uma ditadura tacanha e regressiva, todas as forças democráticas e esclarecidas do país.

Mariana, como Alckmin, não teve um desempenho um desempenho notável nas últimas eleições presidenciais. Mas ela permanence sendo o símbolo de um modelo de desenvolvimento. Ademais, é inquestionável sua dedicação ao Brasil, ainda que fora do PT, e seu excelente desempenho como senadora e depois ministra do meio ambiente.

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Se Marina, como Alckmin ou Lula, fizeram acordos ou alianças questionáveis para tentar chegar à presidência, isso apenas indica que o cenário político brasileiro está repleto de armadilhas e não podemos e não devemos mais dar sequência à estratégia de lutar para ver quem vai "liderar o atraso".

Hoje, pela primeira vez desde o segundo turno das eleições de 1989, estão disponíveis para uma aliança com o PT os melhores quadros da política e da sociedade brasileira.

Marina, integrada à frente ampla contra Bolsonaro, poderá contribuir para refazer os laços do PT com a classe média, com o movimento ambientalista, com a vertente mais moderna do empresariado, com a população da região Norte bem como com o público evangélico.

Trata-se de uma figura de peso, que faz falta ao PT e cujo retorno ao centro da luta política, ao lado de Lula, tem tudo para dar à candidatura do ex-presidente o fôlego necessário para um vitória, cada vez mais necessária, no primeiro turno.

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