As lavas do vulcão
No Brasil, não há sinais de terremotos e maremotos, mas, mesmo assim, do ponto de vista político, não ficamos muito dissemelhantes de territórios conflagrados
A história de um país, em certos momentos, dá a impressão de uma montanha perigosa, cheia de altos e baixos, rios caudalosos, áreas desérticas e, o que é pior, erupções vulcânicas. No Brasil, não há sinais de terremotos e maremotos, mas, mesmo assim, do ponto de vista político, não ficamos muito dissemelhantes de territórios conflagrados, conhecidos em outras regiões. É nas relações sociais e nos entendimentos entre setores e visões ideológicas que manifestamos verdadeiramente nossas diferenças, pelas quais, em rios de lavas ardentes, revelamos a intensidade de alguns dos nossos dissabores. O golpe contra Dilma Rousseff abriu caminho para tais fantasmas e ainda continuamos às voltas com eles, por herança do bolsonarismo e seus destemperos.
Um número destas anomalias pode ser estudado através das CPIs, entre as quais se destacam a do MST e a do 8 de janeiro. Para início de conversa, figuras da extrema direita, dotadas de arrogância e, com frequência, falta de educação, ignoram as discussões por ideias, atrás de um consenso, e partem “para briga”, cheias de desejo de bater e ferir, além de ganhar ou eliminar da face da terra. A situação piora quando o que se posiciona no lado oposto é um contendor em posição de inferioridade porque interrogado ou convidado para “esclarecimentos”. Aí os confrontos se acirram como se quisessem provar quem realmente ganha em “superioridade”. Foi assim na oitiva do general G. Dias, a quem pretendiam responsabilizar pelos vandalismos do 8 de janeiro. Nem sempre o projeto funcionou porque o militar, experiente, sabia se defender, distinguir os interlocutores e escolher as respostas certas. Foi o que se deu com Sérgio Moro. Este é useiro e vezeiro de tirar proveito das bagagens de arrogância acumuladas na época em que trabalhara como juiz e dominava o poder de humilhar os réus. Tropeçou frente a um muro no qual nada penetrava e suas palavras resvalavam na superfície dura, retornando como bumerangues em direção contrária. No último questionamento, botando a nome de Lula na pergunta, teve de escutar um: “Pergunte a ele!” – o que lhe bastou para dar meia volta e arrepiar caminho, por conta das dívidas que acumulara em relação ao Presidente pelos horrores que perpetrou contra o mesmo. Como se verifica, não são trocas de argumento. São lavas que escorrem pelos cantos da boca, como palavras em brasa.
Situação parecida transcorreu no confronto com Nicolas Ferreira, só que, com este, em instante nenhum se impôs a noção de respeito. O general G. Dias silenciou quando considerava desnecessária uma resposta. Nicolas perdeu as estribeiras. Queria gritar e ofender e não lograva atender aos seus objetivos. Teve de se conformar com o pequeno quinhão de insignificância que lhe coube. Afinal, é do perfil das erupções que, depois dos estragos, a natureza volte a se recompor, fingindo que não liga para os acontecimentos. Ah! Sim, faltou mencionar o André Fernandes em nova e última bravata, a de decretar a prisão do interrogado. Mentira. Sabe-se que ali, quem prende, se for o caso, é o Presidente da comissão...
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

