CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
Moisés Mendes avatar

Moisés Mendes

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre.

757 artigos

blog

As mulheres esquecidas por Patrícia

Em artigo, Moisés Mendes, do Jornalistas pela Democracia, escreve que Patrícia Campos Melo se "esqueceu que Dilma foi derrubada por um movimento da direita com forte conotação misógina. Que Bolsonaro foi um dos líderes do golpe e que, citando o torturador, voltou a torturar Dilma publicamente"

Jair Bolsonaro e Patricia Campos Mello (Foto: Carolina Antunes/PR | Rick Reinhard/Inter-American Dialogue)
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Por Moisés Mendes, para o Jornalistas pela Democracia - A jornalista Patrícia Campos Mello escreveu um longo texto sobre os ataques que sofreu de Bolsonaro e sobre as sequelas do seu drama pessoal e de colegas jornalistas em situação semelhante. É o Dia Internacional da Mulher, e lá está o seu desabafo na Folha.

Mas a jornalista perdeu a chance de escrever um texto que fosse além do seu caso e do seu ambiente e levasse o tema para o seu contexto. Patrícia foi jornalista demais citando outras colegas agredidas por Bolsonaro, foi quase corporativa e foi esquecida.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Patrícia esqueceu de fazer uma referência, uma só, aos ataques históricos de Bolsonaro contra a mulher que ele mais agrediu, repetida e sistematicamente, e a que mais reagiu com destemor às agressões covardes.

Patrícia esqueceu de dizer que a deputada Maria do Rosário foi, há muitos anos, a mulher escolhida por Bolsonaro para agredir todas as mulheres brasileiras.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Esqueceu de citar, numa linha, apenas uma linha, que Maria do Rosário processa Bolsonaro no Supremo e que o caso está numa gaveta, porque o sujeito não pode ser processado agora por atos anteriores ao mandato. Mas as acusações estão lá e em algum momento terão de ser desengavetadas.

Não vamos repetir nada do que ele disse a respeito de Maria do Rosário, porque todos sabem. Mas Patrícia não deve saber mais.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Patrícia esqueceu que Dilma foi derrubada por um movimento da direita com forte conotação misógina. Que Bolsonaro foi um dos líderes do golpe e que, citando o torturador, voltou a torturar Dilma publicamente.

Não há no artigo uma referência a Marielle, assassinada por um vizinho de Bolsonaro e até hoje agredida em manifestações de bolsonaristas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Patrícia não diz, em nenhum momento, que mulheres quase invisíveis são mortas no Brasil sob o incentivo do bolsonarismo. Patrícia sabe que o feminicídio é o crime clássico, definidor do bolsonarista.

Não há no texto nenhuma referência às agressões de Bolsonaro a Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Não há citação alguma aos ataques a negros, índios, gays e transgêneros.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Patrícia resume as agressões de Bolsonaro às jornalistas, porque as jornalistas sentem agora o que outras mulheres, outros segmentos e outras categorias sociais sentem há muito tempo.

Patrícia não cita Dilma, nem Marielle, nem Rosário, nem Gleisi porque talvez sejam de esquerda e políticas. O texto é apenas sobre as jornalistas, como se todas estivessem numa ilha, e até o título induz a uma ilusão. Este é o título:

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

“No Brasil, ser mulher nos transforma em alvo de ataques”.

Enganaram-se os que esperavam ler o relato pessoal que conduziria a uma reflexão sobre as agressões a todas as mulheres alvos de Bolsonaro.

Não. Ser mulher, no texto de Patrícia, é ser jornalista. Patrícia escreveu um texto apenas corporativo, auto-referente, como se todo o entorno, e que entorno, não merecesse nenhuma observação. E Patrícia é uma grande repórter.

Todos e todas, homens, mulheres, gays, trans, refletiram sobre os ataques de Bolsonaro a Patrícia. As deputadas Luiza Erundina, Fernanda Melchionna, Natália Bonavides, Marília Arraes, Rosa Neide, Gleisi, Maria do Rosário e outras mulheres democratas do Congresso foram à tribuna, em grupo, em defesa de Patrícia.

Nenhuma é citada por Patrícia. Nem Preta Gil, que também já foi agredida. Nem Benedita da Silva. Nem os gays do PSOL, que ele definiu como um partido de veados para agredir Jean Wyllys.

A reflexão é centrada no umbigo do jornalismo da grande imprensa. Patrícia escreveu um artigo sobre a categoria e apenas ameaçou contextualizar com generalidades o seu relato, que é doloroso, mas é incompleto.

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO