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Beth Sahão

Líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa de São Paulo

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As panelas silenciam para o Gato Angorá passar

A mídia não parece estar tão escandalizada com a manobra de Temer em prol de Moreira Franco. Ainda se ele fosse filiado ao PT ou se chamasse Luís...

Temer e Moreira Franco (Foto: Beth Sahão)
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Não é de hoje que o gesto de bater panela tem conotação política. No passado, era o meio encontrado pelas camadas mais pobres da população para protestar contra a carestia e a miséria. De uns tempos para cá, porém, brasileiros das classes média e alta, moradores dos grandes centros urbanos do Sul e do Sudeste, também resolveram aderir à prática, que acabou por ser reinterpretada.
 
Depois de mais de uma década com o PT ocupando a presidência da República, com avanços significativos no combate à fome e à miséria, as panelas já não batiam por comida. Nos bairros nobres, onde, convenhamos, a carência nunca existiu, os cidadãos indignados resolveram marretar suas baixelas de alumínio para, afirmavam eles, protestar contra a corrupção.
 
O motivo é nobre, há de se reconhecer, sobretudo porque sabemos que o dinheiro desviado pelos esquemas espúrios serviria para dar uma educação melhor às crianças e adolescentes, garantir hospitais de qualidade para quem necessita de atendimento médico e oferecer serviços de qualidade para a população em geral.
 
Contudo, analisando episódios recentes da política brasileira, podemos notar que a coerência tem passado longe daqueles que batem panelas. Por um lado, observamos que a indignação dos adeptos dessa forma de protesto parece ser “teleguiada” – ou seja, aflora apenas nas ocasiões em que a grande mídia faz estardalhaço. Além disso, a revolta desses setores da classe média é extremamente parcial – quer dizer, manifesta-se de acordo com a agremiação política citada no escândalo.
 
Um exemplo concreto serve para demonstrar essa falta de coerência dos batedores de panela. No ano passado, em meio à grave crise de articulação política que acabaria por fazer seu governo ruir, a presidenta Dilma Rousseff resolveu nomear o ex-presidente Lula para o cargo de ministro chefe da Casa Civil.
 
Lula, até aquele momento, não havia sido denunciado formalmente pela Justiça por qualquer questão. O que havia, sim, era um alarde insano na grande mídia, que passava dias e noites especulando sobre sua possível e iminente prisão – que, por sinal, até hoje não ocorreu, já que, além de não terem definido qual suposto crime ele teria cometido, as autoridades não foram capazes de elencar as provas desses pretensos delitos.  
 
Porém, tamanho foi o alarde feito pela mídia, que interpretou aquele gesto de Dilma como uma tentativa de dar foro privilegiado a Lula, que a nomeação acabou por não se concretizar. Na ocasião, panelaços foram registrados em diversas grandes cidades do País. No dia seguinte ao anúncio da nomeação, pessoas de diversas idades dirigiram-se ao trabalho e aos estudos trajando roupas pretas, em protesto contra a decisão da presidenta.
 
Nenhum dos indignados se preocupou em analisar friamente a situação. Se o fizessem, os batedores de panela saberiam que a hipótese do foro privilegiado era absurda, inclusive porque sequer havia um processo tramitando contra Lula. O que havia eram investigações e muita boataria na imprensa.
 
Não convém, agora, lamentar o passado. Os cidadãos e cidadãs que bateram panela contra Lula e Dilma seguirão acreditando que cumpriram com seu dever, ajudando a livrar o Brasil da corrupção.
 
Consciência tranquila que ignora tudo o que se seguiu ao impeachment da presidenta. Desde então, quase que diariamente membros do núcleo central do governo golpista são citados em escândalos gravíssimos. O próprio Michel Temer e seus amigos mais próximos foram mencionados por delatores da Lava Jato como tendo sido beneficiários de propinas.
 
Porém, estranhamente, as panelas continuam em silêncio. Elas não acordaram nem para protestar contra a recente decisão de Temer de conferir a seu “fiel” (se é que esse adjetivo cabe a tais indivíduos) escudeiro Moreira Franco o status de ministro.
 
O “Gato Angorá” – apelido carinhoso recebido pelo ex-governador do Rio na década de 80, quando ele vivia de adular a Ditadura agonizante, e depois resgatado pela Odebrecht, que utilizou a alcunha para identificar Moreira Franco no listão da propina – acaba de ganhar foro privilegiado, mesmo estando envolvido em inúmeras denúncias de corrupção.
 
Mas, pelo visto, as panelas não vão se levantar. Afinal, gatos são seres sensíveis e que se assustam com facilidade. Não convém importunar o Angorá com o som grave da colher de pau açoitando o alumínio.
 
Ademais, a mídia não parece estar tão escandalizada com a manobra de Temer em prol de Moreira Franco. Ainda se ele fosse filiado ao PT ou se chamasse Luís... Na medida em que não é nem um nem outro, para que a grande mídia vai perder seu precioso tempo, logo ela, que tem uma relação tão amistosa e profícua com o governo golpista?
 
Sem alarde, o Gato esperto caminha para se safar de mais uma, fazendo jus à fama de possuir nove vidas. As panelas das classes média e alta não vão incomodá-lo. Afinal, o problema desse setor da sociedade nunca foi com a corrupção, mas sim com o PT. Angorá agradece pela parcialidade. E a coerência manda lembranças e diz que está com saudades.

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