As pessoas andam com o pavio muito curto

Duas senhoras, num supermercado popular do Rio, conversam quando uma se assusta com um cartaz: "vinte e dois reais a muçarela, que absurdo!".

E continua, com escárnio e ódio em voz alta: "essa é a pátria educadora. País de corruptos". Os decibéis além vêm da convicção de que terá total aprovação dos que estão próximos.

De imediato, sente que sua fúria foi correspondida, porém um senhor olha com certa reprovação. Pra que! A senhora começa a esbravejar o surrado discurso anticorrupção em direção a ele que, ao tentar se livrar do constrangimento, a chama de maluca.

Ensandecida e querendo briga, passa a gritar "petista ladrão" enquanto o senhor, assustado e desnorteado, aperta o passo sem deixar de olhar pra trás, como que confessando um crime. Parecia o clássico 'pega ladrão'.

Tento esboçar aos outros presentes uma palavra de repúdio ao ataque gratuito da tresloucada. Logo percebo que é melhor guardar a viola. Ninguém ali tá interessado em minha música.

A curta história traz dois aspectos preocupantes: as diferenças resolvidas no confronto físico e a banalização do linchamento moral.

Naquela mesma manhã uma manchete dizia que o Brasil é o país que mais faz linchamentos. Porém, arrisco dizer que sejamos também campeões no linchamento moral.

Existe algum país que aceite impunemente que a mídia local trate seu dirigente máximo como bandido? Sem apresentar nenhuma prova concreta, a presidente Dilma é constantemente acusada de algum delito.

O ex-presidente Lula, por exemplo, é frequentemente definido por Marco Antonio Villa na televisão, rádio e jornal como "chefe da quadrilha", também sem provas.

Essa erva daninha foi negligenciada. Isso é liberdade de expressão? As insinuações e, até mesmo, acusações sem provas tornaram-se corriqueiras.

E, enquanto o governo brinca de ser republicano, a mídia continua avançando com o "pé na porta". Divulga o que bem entende sem precisar comprovar nada e, pior, sem a mínima responsabilização pelos seus atos.

Nesse vale-tudo da grande imprensa ninguém é processado. O governo prefere continuar acuado e ajoelhado. Só agora Lula resolveu se defender da Veja. No entanto, sobram processos contra os tais "blogueiros sujos".

Quanto à resolução das diferenças, parece haver uma predisposição e intimidação para o corpo a corpo.

De um lado, uma enorme massa espumando ódio pelo canto da boca, capitaneada por uma mídia partidária e panfletária; de outro, lideranças chamando golpistas de frouxos e apostando numa grande reação popular nas ruas.

Os tempos são de Napoleão de hospício.