As prostitutas de Kim Kataguiri
A extrema-direita defende a moralidade que ela não possui, acima da liberdade e da legalidade que não consegue admitir
Se não tivesse se casado recentemente com a vereadora Amanda Vettorazzo, aquela que criou um Projeto de Lei com o objetivo de proibir que a Prefeitura de São Paulo contrate artistas do funk e do trap, eu diria que o “nipo-brasileiro” Kim Kataguiri é mais um incel que odeia mulheres devido à rejeição sofrida por parte delas. O seu projeto que visa proibir a prostituição em vias públicas (PL 778/2025), não passa de mais um ataque da extrema-direita às liberdades individuais, na tentativa de estabelecer um Estado autoritário que controle o ir e vir das pessoas sob a égide do combate a insegurança em áreas residenciais.
A pergunta que não quer calar é: desde quando a presença de prostitutas nas ruas causou insegurança à população? Elas cometem delitos no exercício de sua função? Roubam e agridem pessoas que passam pelas ruas onde elas oferecem os seus préstimos? Quantos crimes temos notícias de que foram cometidos por prostitutas que trabalham nas ruas? Pergunto isso porque uma das alegações do deputado do União Brasil é a de que “ninguém tem o direito de transformar a rua em zona de prostituição e prejudicar quem mora ou trabalha no local”. Para piorar um pouco mais a sua argumentação, o defensor do nazismo como liberdade de expressão associa todos os pontos de prostituição de rua ao tráfico de drogas e perturbação do sossego, defendendo a prisão de quem exerce tal atividade.
Kataguiri admite que a prostituição é uma atividade reconhecida pelo Ministério do Trabalho e registrada na Classificação Brasileira de Ocupações como “profissional do sexo”, mas, segundo a sua interpretação, ela precisa seguir parâmetros legais. Talvez, se as mulheres fossem ucranianas refugiadas em busca de socorro em meio à uma guerra em seu país, elas estariam legalmente amparadas para ocupar as ruas e serem comercializadas, mesmo não estando oferecendo serviços sexuais. Seria a jurisprudência de Arthur do Val, ativista do MBL e amigo de Kim, que foi fazer turismo sexual na Ucrânia com dinheiro público, na intenção de se aproveitar do desespero de mulheres de vaginas rosadas que, em condições normais, jamais dariam trela para os incels ideológicos de tal movimento.
Kim Kataguiri pode estar comprando briga com gente importante que contrata ou que lucra com a prostituição nas ruas. Ronaldo Fenômeno não gostou da ideia (perco o gol, mas não perco a piada) A Polícia Militar também não. Para quem não sabe, a rua costuma ser paga por essas pessoas que se prostituem em vias públicas. Isso mesmo que você leu. Mesmo as vias sendo públicas, é preciso pagar uma taxa para trabalhar com prostituição nelas. Seja para um cafetão ou cafetina, ou para um agente de segurança do Estado. Em ambos os casos, a taxa garante a segurança dos profissionais do sexo. Pesquisando a questão para escrever este artigo, encontrei o relato de uma profissional do sexo onde ela revela que um cliente teve que pagar R$ 300,00 para policiais militares não o enquadrarem no crime de ato obsceno e atentado ao pudor, ao ser flagrado transando com ela dentro do seu carro numa via pública.
Esse PL pode trazer diversas complicações para pessoas comuns, sobretudo, para aquelas que integram grupos minoritários. É preciso questionar como se dará a identificação de alguém que esteja oferecendo serviços sexuais nas ruas. Numa sociedade hipocritamente conservadora e que defende a manutenção de estereótipos, principalmente, em questões de raça, gênero, classe e sexualidade, uma mulher que esteja parada numa esquina vestida com uma roupa considerada inadequada, poder sofrer o constrangimento de uma abordagem policial sob suspeita de estar se prostituindo. E se ela for esposa de algum policial e estiver apenas esperando o seu marido passar para buscá-la? Temos um claro exemplo de como o ir e vir de muitas pessoas estará em risco e submetido a avaliação do Estado.
A extrema-direita brasileira criou uma espécie de guerra-fria interna, para tentar estabelecer sua ideologia e promover um retrocesso social, civilizatório e humanitário no país. Revogar direitos e conquistas adquiridos pelas chamadas minorias, é o principal objetivo desse conservadorismo que tem como principais expoentes, seja no campo político ou religioso, figuras abjetas e amorais que tentam colocar a moralidade que eles não possuem, acima da legalidade que não conseguem admitir. A manutenção de padrões que limitam a liberdade e o direito à igualdade por determinados grupos, é o ideal que move a extrema-direita. Onde quer que haja um ser humano se sentindo livre, vivendo à sua maneira, e tendo esse direito garantido por lei, lá estará um hipócrita conservador defendendo o controle dessa liberdade em nome de Deus, da ordem, da moral, dos bons costumes.
Foi assim quando os escravizados africanos foram libertos, quando as mulheres adquiriram independência, quando a união entre LGBTS foi reconhecida, quando os mais pobres começaram a ser justiçados socialmente por políticas inclusivas. Não faço apologia à prostituição. A preocupação é alertar aos mais desavisados com relação ao “Conto da Aia” e ao estado policialesco que se avizinha em nossa sociedade por meio do controle de corpos pobres, pretos, femininos e trans. Castos ou prostituídos, eles ainda são indesejáveis à elite fascista e representam forte resistência ao seu projeto de poder conservador, teocrático, fundamentalista, neoliberal e opressor de gêneros, sexualidades e liberdades. Uma agenda perversa em defesa do tradicionalismo e da exclusão.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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