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Ricardo Flaitt

Jornalista

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As ruínas circulares no futebol brasileiro

Neste processo de falência dos clubes e incapacidade de competir com o capital estrangeiro, o futebol brasileiro só consegue, em sua grande maioria, montar times sem o que há de melhor. Nunca fomos tão colônia como somos atualmente

Neste processo de falência dos clubes e incapacidade de competir com o capital estrangeiro, o futebol brasileiro só consegue, em sua grande maioria, montar times sem o que há de melhor. Nunca fomos tão colônia como somos atualmente (Foto: Ricardo Flaitt)
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Os 10 a 1 na Copa do Mundo nos fez acordar de um sonho, em que imaginávamos ser a concepção perfeita da arte de controlar uma bola com as pernas. Mas a nossa exposição frente à caverna do Mineirão, projetou uma imagem distante entre a do mundo imaginário e a realidade.

Em um primeiro instante, questionamos a atuação da nossa Seleção no Mundial, porém, com o desenrolar do tempo, fomos expandindo nosso campo de atuação e deparamo-nos com uma situação muito mais ampla e complexa, envolvendo a estrutura do futebol brasileiro no contexto social e econômico do país.

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Começamos a observar por mais ângulos os nossos campeonatos, nossos jogadores, nossos clubes, a nossa realidade e deparamo-nos com um círculo vicioso em ruínas, que parecem difíceis de serem equacionado em um curto prazo.

Os clubes, para serem competitivos e conquistar títulos, necessitam de bons jogadores, no entanto, estes custam caro e os cofres das agremiações já não suportam os valores irreais (de contratação e salários) do mercado da bola.

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Anos e anos à margem do sistema e da realidade econômica do país, os clubes chegaram ao limite do endividamento. A realidade financeira impede de fazer grandes contratações e, consequentemente, montar grandes equipes, dando início a um processo de nivelamento para baixo nos principais clubes do Brasil, com jogadores de segundo ou terceiro escalão sendo solução para compor as equipes.

A solução para renovar os craques em nossos campos e melhorar a qualidade de nossos campeonatos poderia – acredito que ainda possa – vir da formação de jogadores da base, mas eis que a realidade financeira nos impõe outra ruína circular. As promessas oriundas das bases, frente à necessidade de cobrir rombos orçamentários, têm de ser vendidas cada vez mais prematuramente para o mercado exterior, que agora, além da Europa, também compreende um novo mundo do futebol, formado por nações como China, Ucrânia, Índia, Estados Unidos, tornando ainda mais difícil a permanência dos bons jogadores.

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Com isso, em pouco tempo vemos os possíveis futuros craques deixando os nossos gramados e torna-se cada vez mais comum o cúmulo de conhecermos jovens e bons jogadores pelas ligas internacionais, sem ao menos terem passado por aqui como se faziam com nossas remessas de ouro dos tempos do Brasil Colônia.

Há um elemento ainda mais preocupante com a voracidade destes novos mercados, pois não se limitam mais a levar nossas jovens promessas, já que estão também contratando jogadores de nível médio. Neste processo sistêmico, de falência dos clubes e incapacidade de competir com o capital estrangeiro, o futebol brasileiro só consegue, em sua grande maioria, montar times sem o que há de melhor. No processo de formação do futebol no Brasil, nunca fomos tão colônia como somos atualmente.

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Ainda sobre contratações, alguns craques só retornam aos gramados brasileiros em final de carreira, distantes do que um dia fizeram com a bola, porém, quase que impondo receber como nos tempos áureos no mercado internacional. Esse movimento tem ligação também com as diretorias dos clubes, pois todo novo presidente deseja construir sua pirâmide e a repatriação de grandes nomes promove este espetáculo populista e desastroso para os cofres dos clubes.

Um dos pontos - senão o principal – de equilíbrio financeiro dos clubes sempre foram as cotas financeiras recebidas das televisões, por meio das vendas dos direitos de transmissão das partidas. O problema é que, agora estando os clubes endividados, incapazes de montar grandes times e preservar seus talentos, o produto futebol revela-se cada vez menos atrativo ao público brasileiro, como demonstra a queda na audiência. Com campeonatos tecnicamente fragilizados, diminui-se a atenção do espectador e, consequentemente, perde-se valor de mercado.

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Nos estádios, os públicos também estão cada vez mais minguados. Por um parâmetro de nossa ruína circular: Na partida entre o Barcelona mostrou, do Camp Nou para o mundo, um imenso mosaico formado por 98.760 torcedores. Números que surpreenderam pela beleza das imagens e que são ainda mais impressionantes quando comparados aos públicos das partidas do Campeonato Paulista.

Exceto a partida entre Capivariano e Corinthians, que não teve o seu público divulgado, se somarmos os torcedores dos outros nove jogos que formaram a 11ª rodada do Campeonato Paulista, chegamos ao número de 46.769 pessoas. Contagem que não representa nem 50% (49.380) daqueles que enchiam apenas um estádio na Espanha.

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O público em algumas partidas do Paulista chegam a provocar vergonha, como os 652 guerreiros que assistiram o empatem em um gol entre Mogi Mirim e Portuguesa, ou os 933 no empate sem gols entre Ituano e Linense.

Somam-se a esta situação o fato de que o brasileiro descobriu os campeonatos de outros países como Espanha e Inglaterra e os torneios continentais como a Champions League, o que nos revelou ainda mais o tamanho do nosso descompasso e de nossa escassez.

Outro ponto preocupante é a atual crise econômica do país, que deve levar no mínimo uns 5 anos para se estabilizar. Esse cenário de recessão profunda impacta negativamente ainda mais o mercado da bola e dos clubes brasileiros, que elevaram os patamares, mas agora encontram dificuldades em firmar contratos de patrocínios vultuosos e que sempre tiveram um peso importante nos orçamentos, geralmente ligados ao pagamento da folha salarial – cada vez mais altas e surreais.

Vale destacar que a situação é tão alarmante que muitos grandes clubes não conseguem, ao menos, firmar patrocínios com valores medianos em relação ao que as grandes empresas antes pagavam. Também merece enfoque algumas situações decorrentes da crise com o pedido de grandes marcas solicitarem o cancelamento do contrato de patrocínio por não estarem conseguindo arcar com os altos valores estipulados.

Se a crise chegou aos grandes, formado por grandes massas e grandes potenciais de mercado, o que dizer do impacto nos médios e pequenos? Infelizmente, surgem com mais força e frequência, casos de clubes tradicionais vendendo seus estádios, fechando as portas, e outros, não tão grandes, solicitando o desligamento de campeonatos por não conseguirem arcar com os custos de um campeonato em um país com dimensões continentais.

O futebol brasileiro, como sistema, entrou em uma circularidade decadente. Ou os dirigentes de todos os clubes se unem e iniciam um processo para quebrar essa ordem, ou, em alguns anos, todos morrerão abraçados e só restar-nos-ão as sombras de um passado glorioso.

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