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Diego Zeidan

Diego Zeidan é presidente do PT-RJ e atual secretário municipal de Habitação do Rio de Janeiro. Foi vice-prefeito de Maricá.

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As tarifas de Trump podem trazer uma virada para o Brasil

Lula tem, neste momento, a chance de reunir a burguesia à mesa, propor um pacto de desenvolvimento nacional e retomar o projeto de país soberano

A crise provocada pelo tarifaço de Trump pode ser transformada em uma alavanca estratégica para o Brasil. Fomos historicamente empurrados para o papel de exportadores de matéria-prima. Darcy Ribeiro dizia que o Brasil jamais deixou de ser um engenho colonial exatamente por isso. Não consolidamos uma industrialização completa e seguimos presos a uma economia baseada em produtos brutos. Ainda hoje, vendemos soja, milho, carne, minério de ferro e petróleo, todos sem qualquer beneficiamento.

Durante a Segunda Guerra Mundial, sob a liderança de Getúlio Vargas, o país iniciou um processo de substituição de importações e fortalecimento da indústria nacional. Esse avanço foi interrompido a partir dos anos 1980, com a entrada agressiva do capital internacional impulsionada pelos governos neoliberais do pós-ditadura e pela globalização.

Temos na história exemplos de empreendedores nacionais sabotados por uma elite conservadora que sempre defendeu interesses externos. Barão de Mauá, no século XIX, e Gurgel, nos anos 1970, são símbolos da ousadia empresarial esmagada pelo entreguismo.

As tarifas impostas pelos Estados Unidos afetam nossa relação com um de nossos principais parceiros comerciais. Mas é importante lembrar: nossa balança comercial com eles é negativa. Compramos mais do que vendemos, e o que exportamos ainda é basicamente matéria-prima. Esse cenário pode ser o impulso necessário para reposicionar o Brasil: investindo na transformação da base produtiva e na exportação de bens com valor agregado.

É hora de Lula liderar uma conversa séria com o empresariado nacional. A resposta a essa crise exige a abertura de novos mercados e, principalmente, a modernização do que o país produz e comercializa. O setor produtivo é peça essencial em qualquer projeto de reconstrução nacional. Até Lênin compreendeu isso, ao lançar a Nova Política Econômica na Rússia.

O momento pede a construção de um novo pacto nacional, envolvendo a pequena burguesia, o empresariado, o Congresso e o Supremo. Um compromisso coletivo com metas claras: redução das desigualdades, reindustrialização, investimento em ciência e crescimento econômico com justiça social. Essa é uma saída que vai muito além de uma crise pontual. É o caminho para que o Brasil se torne, de fato, a potência global que pode e deve ser.

Isso sim é ser patriota.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.