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Ayrton Centeno

Jornalista

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As traças têm fome

Onde estão os magistrados que impuseram pena de três anos e seis meses de prisão de Luis Inácio da Silva, naquele 25 de fevereiro de 1981? Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o réu era acusado de promover greves, violando a Lei de Segurança Nacional. Vivos ou mortos, quem os reverencia hoje?

Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa no Rio de Janeiro 16/01/2018 REUTERS/Ricardo Moraes (Foto: Ayrton Centeno)
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Quem foi o algoz de Danton? Em 1969, a pergunta do jornalista e diretor de teatro Flávio Rangel mirou o capitão do exército na prisão em que aquele era prisioneiro e este carcereiro. Rangel fora preso com toda a redação de O Pasquim, jornal insolente e que revolucionou texto e atitude na imprensa brasileira sob a ditadura. Entre os tantos trancafiados, Ziraldo e Paulo Francis. "Não sabe, não é?", tornou Rangel. "Ninguém sabe. O teu nome também ninguém vai saber". Há muitas perguntas do gênero, além daquela que procura o juiz carrasco do revolucionário francês.

Qual o destino daquele juiz a quem Nelson Mandela pediu que se retirasse do seu julgamento por suspeição? Aconteceu no palácio da justiça de Pretória em 1962. Mandela ouviu um não. Mas insistiu. E novamente recebeu uma negativa. E reiterou o pedido mais uma vez para escutar a resposta já impaciente: "Não". Aquele juiz remeteria Mandela a um cubículo de 4m2 onde cumpriria pena de prisão perpétua. Qual era mesmo o seu nome?

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Que escaninho remoto da memória nacional abriga a graça daqueles membros do Conselho de Segurança Nacional que pediram, junto com a mídia, a cassação do ex-presidente Juscelino Kubitschek, acusando-o de ter sido beneficiado com a posse não declarada de um tríplex em Ipanema? Tudo para impedí-lo de concorrer e vencer as eleições de 1965 que, aliás, seriam suspensas por aquele outro regime de exceção? Quem lembra deles?

Que rosto estarão ocultando agora aqueles juízes militares que levaram as mãos à face durante o julgamento de Dilma Rousseff naquela foto plena de simbolismo? A Dilma que, após cada sessão de eletrochoque e pau-de-arara em 1970, era jogada nua no piso gelado do banheiro da prisão. E ali, suja de urina e fezes, ficava encolhida, tiritando, no aguardo do reinício da tortura. Que netos terão orgulho daqueles avós com medo da luz?

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De quem partiu a ordem para jogar o marinheiro João Cândido Felisberto naquela masmorra da Ilha das Cobras onde 16 de seus 17 companheiros de cela morreram asfixiados? João Cândido, o "Almirante Negro", comandante da Revolta da Chibata, no Rio de 1910, que viraria estátua e batizaria, cem anos depois, um petroleiro com 274 metros de comprimento, marcando então a retomada da indústria naval no país. Será que os feitos gloriosos dos seus verdugos ocupam mais do que um barquinho de papel?

Demonstraram algum remorso aqueles juízes de Paris que, em dezembro de 1894 e em meio uma onda de preconceito feroz, castigaram o oficial de origem judia Alfred Dreyfus, desterrando-o para a prisão perpétua na Ilha do Diabo, costas da Guiana Francesa? Qual sua reação quando a farsa acabou desmascarada e Dreyfus reabilitado? Estavam ainda vivos, ao menos na memória de alguém?

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Quem foi mesmo que prendeu, jogou e manteve numa cela de Birmingham, no Alabama racista, o reverendo Martin Luther King, punindo-o por promover protestos diante de uma segregação tornada lei? Era abril de 1963. Quantos livros e filmes e músicas, desde então, narram as façanhas de seus algozes?

Quando Bartolomeo Vanzetti gritou no tribunal de Massachutsetts "Não se esqueçam. Estão matando dois homens inocentes", a quem dirigiu suas palavras? Após 27 dias de interrogatório, os operários italianos e anarquistas Vanzetti e Nicola Sacco estavam sendo penalizados por um crime que não haviam cometido. Mas, com o beneplácito de uma sociedade insuflada pelo ódio ao imigrante e à esquerda, morreriam na cadeira elétrica em 23 de agosto de 1927. Foram absolvidos post-mortem, passados 50 anos da execução. E seus detratores?

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Quem é capaz de identificar os cinco ministros do Supremo que negaram o habeas corpus para Olga Benário Prestes naquele infame 17 de junho de 1936? Foi outra decisão unânime, açulada pela imprensa conservadora, e uma sentença de morte. Judia e comunista, Olga seria entregue à Alemanha para ser assassinada numa câmara de gás. Quem elogia, hoje, o notável saber jurídico de tais magistrados? Quem os absolve?

Quem sentenciou o alferes Joaquim José da Silva Xavier à forca e ordenou o esquartejamento de seu corpo? Naquela manhã de sábado, 21 de abril de 1792, o condenado percorreu as ruas do Rio até o patíbulo em meio a um ambiente festivo. Sua memória e seus descendentes foram amaldiçoados e sua casa arrasada, cobrindo-se o terreno com sal para que nada ali prosperasse. O tempo, porém, condenaria seus julgadores e absolveria Tiradentes, transformado de pária em herói nacional. Em que vereda obscura do imaginário nacional persistem as pegadas de seus juízes?

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Onde estão os magistrados que impuseram pena de três anos e seis meses de prisão ao antigo presidente do Partido dos Trabalhadores, Luis Inácio da Silva, naquele 25 de fevereiro de 1981? A propósito, eles decidiram por unanimidade. Ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, o réu era acusado de promover greves, violando a Lei de Segurança Nacional. Vivos ou mortos, quem os reverencia hoje?

E o que sobrou daqueles outros togados que, em 19 de novembro do mesmo ano, confirmaram o castigo em segunda instância? Quem os saúda quando passam nas ruas?

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Quantos juízes ainda serão julgados? Quantos paladinos do estabelecido ainda serão convertidos em vilões? Quanto tempo resta para que seus nomes desvaneçam nas manchetes amarelecidas dos arcaicos jornalões? Em que página abandonada da História as traças roerão seus nomes?

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