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Eric Nepomuceno

Eric Nepomuceno é jornalista e escritor

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As Veias (ainda e sempre) Abertas da América Latina

"O que diria Eduardo Galeano deste Brasil destroçado, vítima de um genocida desequilibrado, este Brasil que, para Galeano, era uma segunda pátria?", questiona o jornalista Eric Nepomuceno. "As veias continuam, ainda e sempre, abertas nessas nossas comarcas. Até quando?"

Eduardo Galeano (Foto: Reprodução)
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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia

Também foi – vejam só – num abril, o de 1971, que apareceu um livro chamado “As Veias Abertas da América Latina”. Exatos 50 anos.

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Caso raro no mundo editorial, apareceu ao mesmo tempo em edição cubana, da Casa de las Américas, mexicana, da emblemática SigloXXI, e uruguaia, da editora da Universidad de la República.

Seu autor, Eduardo Galeano, já era um jornalista conhecido em seu país, o Uruguai, e também do lado de lá do rio da Prata, na Argentina.  

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Aos 31 anos, havia publicado uma série de livros de reportagens, depois da sua estreia, nove anos antes, com a novela Los días siguientes, que, como ele mesmo dizia, “por sorte caiu no esquecimento”.  

Em 1967, aos 26, lançou “Guatemala, país ocupado”, que causou impacto e fez com que seu nome começasse a circular por toda a América Latina. Naquele mesmo ano apareceram os contos de Los fantasmas del día del león y otros relatos, com suas primeiras digitais na literatura de ficção. Em 1971 “As Veias Abertas” fizeram dele, rapidamente, um autor de referência.

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O resto é história. O livro foi traduzido para mais de vinte idiomas, vendeu mais de cinco milhões de exemplares e continua vendendo muito.  

Depois que, entre 1982 e 1986, apareceram os três volumes da trilogia “Memória do Fogo” – ‘Os nascimentos’, ‘As caras e as máscaras’, ‘O século do vento’ – que, aliás, ele considerava e eu considero sua melhor obra, Galeano tornou-se das figuras latino-americanas, e não só da literatura, de maior projeção e relevância mundo afora.  

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Recebeu prêmios de primeira linha e homenagens luminosas, porém gostava mesmo era de histórias de leitores anônimos, gente comum, para quem o livro tinha sido escrito.

Como, por exemplo, o caso do secundarista portenho que percorreu um longo par de vezes todas – todas – as livrarias da avenida Corrientes, em Buenos Aires.  

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Em cada uma parava, lia um trecho, partia para a seguinte, e depois voltava repetindo tudo na calçada oposta (a Corrientes foi, e de certa forma ainda é, embora menos, uma avenida atopetada de livrarias). Sem dinheiro para comprar o livro, leu tudo assim, entremeando caminhadas.

Ou da jovem estudante que, meio-a-meio com uma colega, comprou o livro. Num ônibus, uma lia trechos para a outra.  

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Até que uma delas se empolgou tanto que passou a ler em voz alta para todos os passageiros.  

Quando chegaram na parada pretendendo descer, ouviram pedidos que ficassem, para continuar lendo. Ficaram e formam aplaudidas.

Em 2009, quando Barack Obama visitou Hugo Chávez em Caracas, ganhou do venezuelano um exemplar do livro. A notícia correu, veloz, e em menos de uma semana “As Veias Abertas” saltou para o topo da lista dos mais vendidos na Amazon.  

Galeano, porém, preferia histórias como as do rapaz das livrarias e das jovens do ônibus.

Em 2010, numa introdução à nova tradução de “As Veias Abertas” feita pelo estupendo escritor gaúcho Sérgio Faraco, ele deixa, logo na entrada, uma observação certeira: “O autor lamenta que este livro não tenha perdido atualidade”.  

Tinham-se passado 39 anos do lançamento de “As Veias Abertas”.

O que diria ele hoje, quando o livro cumpre meio século?

O que diria ele deste Brasil destroçado, vítima de um genocida desequilibrado, este Brasil que, para Galeano, era uma segunda pátria?  

As veias continuam, ainda e sempre, abertas nessas nossas comarcas. Até quando?

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