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Egydio Schwade

Filósofo, teólogo, indigenista e ativista social

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"As visões de clareando, num reino que não tem rei"

È necessário que o PT, cresça harmônica e conscientemente, sempre encarnado com o movimento popular. Organizado em torno da população marginalizada

PT - Partido dos Trabalhadores  (Foto: Divulgação)
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O PT assumiu, desde as suas origens, a missão de mudar a visão de poder instalada neste país desde 1500. Para isto foi criado, Brasil afora. Em meio a cursos de formação que deram aos seus membros clareza política sobre o conjunto de toda esta História. Foi isto que o movimento popular de todo o país almejou, quando o criou. Foi esta a sua história original. Foi assim que se originou em plena Regime Militar. O poder é apenas um serviço na realização desse objetivo. O PT não pode depender, ser decidido, por manobras financeiras, por uma massa de “inocentes uteis”, nem apenas pela visão que emana dos grandes centros urbanos. 

É preciso saber olhar constantemente os acontecimentos da História de nosso país, qualifica-los na sua verdade e mudar o rumo dos seus descaminhos. Ate 1500 o país foi governado por um socialismo radical que soube incluir e valorizar a existência de todas as gerações: futuras, presentes e passadas.

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O socialismo permite uma criatividade permanente. Se temos tanta abundancia e variedade de alimentos nesta Amazônia, isto se deve à gerações e gerações de comunidades socialistas, cuja alegria e realização, foi compartilhar, não apenas os bens da terra, mas também os saberes que aumentaram os alimentos: na fartura, nos sabores, nos coloridos, na variedade e no tamanho... 

Tive a felicidade de visitar e conhecer remanescentes desses povos por todo o país e de conviver com minha família, seguro e feliz, sob a administração do regime de um desses povos, os Waimiri-Atroari, caluniado pelo Regime Militar e pela mídia hegemônica nacional, como ‘violento’, ‘criminoso’, ‘terrorista’. E colaborei, em plena ditadura militar, na criação de entidades que mudaram os rumos, a postura e a História de vários segmentos marginalizados do interior do país. 

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No início dos anos 60 no Concílio Vaticano II e consequente Teologia da Libertação, a Igreja se auto-definiu como Luz dos povos, animando seus membros a deixar de lado a atitude doutrinadora e olhar e se encarnar na realidade dos povos. Isto fez surgir, no interior e na cidade, entidades voltadas ao erguimento dos segmentos mais marginalizados. Participei desta ação no interior do país: Em 1969 da criação da OPAN-Operação Amazônia Nativa, que seleciona e treina jovens sem fronteiras religiosas e institucionais, para se encarnarem na realidade das populações indígenas. Em 1972, da criação do CIMI-Conselho Indigenista Missionário, que organiza cursos de formação para garantir a mudança da política indigenista da Igreja, fazendo surgir assembleias dos próprios índios e a consequente organização desses povos. Em 1975, da fundação da CPT-Comissão Pastoral da Terra, que leva a Igreja a se encarnar na realidade dos camponeses marginalizados. No mesmo período, participei com a família no Amazonas e Roraima, de CEBs-Comunidades Eclesiais de Base que agitaram paroquias rumo a nova postura da Igreja. Outras entidades surgiram na sociedade civil, à margem do Estado, com o mesmo objetivo, encorajando os oprimidos: índios, negros, agricultores familiares a se organizarem na conquista do direito à terra e à manutenção de suas tradições culturais.

Tive o privilégio de presenciar toda esta movimentação que foi agitando o interior do país. Vi os internatos doutrinadores desaparecerem, povos ressurgindo das cinzas. Se reorganizarem. E o mapa brasileiro se socializar na medida em que os povos indígenas, os quilombolas, acampamentos e assentamentos do MST aconteciam.

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No Norte de Mato Grosso Xavantes, Bororos, Manoki, Myky, Rickbatsa, Kayabi, Apiaká, Pareci, Enauenê Nauê e Nanbikuara, reconquistam boa parte de seu chão; no SulKaingang e Guarani, expulsam os invasores de seus últimos redutos, fazendo cumprir a lei na marra e fazendo ver aos camponeses pobres que haviam invadido suas terras que não eram eles os culpados de não terem terra para a sua sobrevivência. E estes, sem terra, sob barracas de lona, à beira da estrada, na Encruzilhada Natalino, Ronda Alta/RS, começam a repensar a História do Brasil e afrontar a Ditadura que determinara a sua deportação para o Norte. Não arredaram pé, exigindo a Reforma Agrária ali mesmo, no Sul, sobre as fazendas Anoni e Sarandi. Assim nasceu o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra-MST que junto com os indígenas e quilombolas, lidera hoje um caminho seguro para a construção da justiça, da paz, da mesa farta e da solidariedade em nosso país, mudando a face das populações interioranas oprimidas. Mudanças que seguem com os melhores resultados até hoje, sustentando um grande movimento de solidariedade pelo país. 6.000 toneladas de alimentos saíram dos assentamentos e acampamentos do MST, no período da pandemia que atravessamos. E sem apoio oficial e sem visibilidade na mídia elitista.

E assim, apesar do Estado, prosseguiu a luta, em mãos dos povos mais ignorados do país. Janeiro de 1977, em assembleia reprimida pela FUNAI-Polícia Federal/RR, inicia a luta por Raposa Serra do Sol, como área contínua, luta vitoriosa após 32 anos; os Tupininquim do Espírito Santo iniciam a reconquista de 40.000 há, garantidos em lei, desde o Brasil colônia, mas invadidos pela Aracruz Celulose; na Serra de Ororubá/PE, os Xukuru, começam a se visibilizar em luta pela garantia de um chão em meio às montanhas; Apinagés no Bico-do-Papagaio; Guajajara e Kanela no Maranhão; Xokó no Sergipe; Munduruku no Tapajós/PA e Madeira/AM; Sateré-Maué/AM; Tikuna e Cocama não Alto Solimões; mais de 10 povos do Alto Rio Negro e muitos outros, se unindo e organizando.

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Foi ainda nestes anos duros da Ditadura Militar que nasceu a Pastoral da Criança que socializa tarefas simples, populares, no meio das populações humildes e abandonadas pelo Estado, salvando milhares de crianças.

Refiro-me aqui apenas ao movimento do interior do país e do qual fui testemunha ocular, em meio aos segmentos mais excluídos da sociedade. Vi a “causa perdida”, se erguer e se tornar protagonista de um movimento irresistível de esperança por dias melhores para os brasileiros. Deixo para pessoas mais inteiradas dos movimentos sociais urbanos, o relato do que ocorreu ali. Foi este agito popular que nos anos 80 fez surgir o Partido dos Trabalhadores pelo interior do país, sonhando ver um dia, o poder do Estado em sua trincheira.

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O PT foi criado na expectativa de mudar as estruturas políticas injustas. Capacitar a sociedade para criar alimentos abundantes e sadios e garantir a sua distribuição justa para todo o povo. É preciso que os dirigentes do Partido se deem conta de que precisam garantir a frente dos cargos decisivos pessoas experientes, sábias e com vontade política de mudar as estruturas injustas. Por exemplo, no cargo de Ministro da Agricultura, necessita-se alguém com vontade política de realizar a reforma agrária, de incentivar a produção de alimentos sadios, sem agrotóxicos e que saiba garantir a sua distribuição solidaria ao povo brasileiro. E para ocupar os cargos de Ministro da Fazenda ou Presidente de Banco Central, vislumbro alguém que tenha convivido e sentido o que se passa numa aldeia indígena ou num assentamento ou acampamento de sem-terra. 

O 1º Governo do PT em Porto Alegre seguiu o caminho do povo, donde nasceu o Orçamento Participativo, um modelo de administração que merecia ter sido seguido pelo Governo Federal a nível de país. 

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O sucesso da política externa do governo do PT, se deve principalmente ao fato de sua presença junto aos países mais espoliados e humilhados pelos governos dos poderosos. Por isso, deixou marcas positivas, indeléveis, protagonizando uma mudança radical na estrutura das políticas externas, implantadas milenarmente no mundo inteiro.

E lançando o nosso olhar acima de nossas fronteiras, está aí o sucesso da política de saúde de Cuba, (reconhecido mundialmente: “Só posso agradecer a Cuba pelo modelo de sistema de saúde, que faz dele um dos melhores do mundo”, parabenizava Cuba Tedros Adhanom, Diretor da Organização Mundial da Saúde-OMS), que se deve ao investimento na formação das classes humildes e sofredoras. Elas garantiram que o perfume da solidariedade de Cuba se espalhasse mundo afora, em especial, para a solução de endemias e epidemias. E aqui no Brasil a presença dos médicos cubanos, durante os governos do PT, reduziu em 35% os municípios brasileiros sem atendimento médico. 

Eleito para ser governo, o PT tem o direito e o dever de aproveitar a oportunidade para mostrar às elites, como o povo humilde, os “proletários” de Marx, os “mansos” do Cristo, governam. Como se administra o país, o Planeta. O poder não está aí para destruir, para oprimir, discriminar, garantir privilégios... A “Ditadura” dos mansos, dos proletários, não deixará morrer ninguém de fome e mostrará às elites o caminho da vida. Como alimentar a vida, como fazer crescer os bens da humanidade, respeitando o que as gerações passadas deixaram de bom e cuidando das presentes e futuras. Foi este o caminho sonhado pelos fundadores do PT.

Vice-presidente é a principal assessoria do Presidente e por isso precisa estar em sintonia com os princípios do PT. Só assim conseguiremos agitar as bases em torno do nosso modo de governar e mantê-las nas ruas, garantindo governabilidade em prol do povo brasileiro. É preciso parar de aperfeiçoar o sistema capitalista, jogando apenas migalhas aos pobres. É necessário entregar o poder a estes “milhões de Lula”. 

O caminho para a reconquista de um paradigma de organização consistente para a humanidade, não pode ser esquecido pelo PT no momento em que planeja as suas candidaturas a Presidente, vice-presidente, senadores, deputados e governadores. Sem o envolvimento no socialismo vivido, a que serve uma sigla que se afirma socialista?

Ao PT socialista cabe, antes de tudo, localizar e fomentar territórios e modos de vida, onde se vive a solidariedade, o socialismo, em meio a este mundo egoísta de acúmulo do capital. “Ampliar as tendas” (Is. 54:2), o espaço dos que já vivem o modo de vida socialista. “Colher as sementes” de paradigmas de vida que sobrevivem; como sonhado pelos “mansos”, pelos “proletários”; como vivido pelos povos originários que estão aí ressurgindo vigorosos, vivendo o socialismo nu e cru, reconquistando o seu espaço, físico e cultural, em assembleias e acampamentos; como os negros ampliando seus quilombos e como os agricultores sem-terra em seus acampamentos e assentamentos, conquistando e administrando a posse da terra conquistada, não como donos absolutos, mas de olhos sempre abertos, como as mães, para ver o que falta na mesa da humanidade.

Diante de tudo isto, penso que é bom e necessário que o PT, cresça  harmônica e conscientemente, sempre encarnado e comprometido com o movimento popular. Organizado em torno da população marginalizada. Construindo um modo de vida justo, e colocando paulatinamente a pirâmide do poder ao contrário.

A sabedoria, o amor e a solidariedade que sustenta os hoje excluídos, espera ansiosamente que o poder um dia esteja ao seu serviço.

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