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Dom Orvandil

Bispo Primaz da Igreja Católica Anglicana, Editor e apresentador do Site e do Canal Cartas Proféticas

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Assassinato no natal

Nesta quadra natalina de 2014 medito nas causas do assassinato de João Batista durante o natal de Herodes

Nesta quadra natalina de 2014 medito nas causas do assassinato de João Batista durante o natal de Herodes (Foto: Dom Orvandil)
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O momento pré-natalino antecipa as festas que culminarão com a noite de 24 de dezembro.

Natal é comemoração do nascimento de alguém, é festa de aniversário. Depois de séculos de celebrações romanas ao deus sol, graças ao acordo entre cristãos e o império romano, as festas desta quadra homenageiam o filho de outro Deus, Jesus.

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Historicamente as duas festas fundem luminosidade e escuridão.

Nos tempos do império romano enquanto nos palácios se comemorava o aniversário do deus sol milhares de escravos morriam sob os chicotes, atravessados pelas espadas e amarrados pelas correntes de seus senhores.

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Na fusão ocidental as festas natalinas sintetizam guerras, paz, alegria, marginalização, compartilha da solidariedade em tempos de luta e omissão diante das barbaridades praticadas contra os humildes e indefesos.

Numa noite de natal quando eu era criança escutei meu pai trabalhador chorando no quarto do casal porque não dispunha de dinheiro para presentear os filhos e para festejar com a família, mesmo que logo ali no centro da cidade as luzes iluminassem o céu e os foguetes coloridos sonorizassem a noite festiva.

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Em contextos de grandes injustiças e opressões as trevas da anti festa e da anti celebração ou de tudo isso de modo fingido as festas são obscurecidas pela tristeza, pelo medo e pelas marcas da morte.

Pessoalmente creio que o natal convencional é a marca da centralização do amor e da confraternização (alegria entre irmãos da mesma espécie e família humana) em poucos dias de cada ano, deixando imenso vazio durante o tempo todo em grandes maiorias abandonadas e sofridas.

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Nesta quadra natalina de 2014 medito nas causas do assassinato de João Batista durante o natal de Herodes.

Sua morte foi tramada na festa do natalício do tetrarca Herodes, responsável, em nome do imperador de Roma, por parte da Palestina, a Galileia.

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A festa de Herodes foi traçada por duas linhas tenebrosas, ativas na morte de Batista. Uma pela frivolidade de uma madame, a dona Herodíades. Esta senhora era casada com um irmão de Herodes, em Roma. Na capital do império Herodíades vivia vida fútil, carregada de mexericos, superficialidades e pelo egoísmo vaidoso dos ricos daquela metrópole. Quando de uma visita de Herodes a seu irmão em Roma ela achou mais interessante, em favor de sua banalidade existencial, por achar que teria mais poder, casar-se com um governador do que continuar esposa de funcionário simples. E assim o acompanhou quando de seu retorno à Palestina.

Dona Herodíades incentivou sua filha Salomé a dançar em homenagem ao aniversariante Herodes, um homem fraco e frívolo. O tetrarca caiu na armadilha da madame, que visava apenas os prazeres palacianos, sem a menor consciência dos dramas do povo palestino, que sofria sob as agruras do sistema escravocrata e sob o tacão do império romano desumano.

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Outro traço da encomenda macabra da decapitação de João foi o medo covarde de Herodes. Este governante se achava corajoso para matar crianças menores de dois anos, para trancafiar nas prisões os primeiros seguidores de Jesus e de participar da crucificação dele, mas se abalava com medo que o povo preferisse a liderança do essênio João Batista e se rebelasse contra seu governo e o império romano.

O evangelho de Mateus conta que Herodes temia mandar matar João Batista porque o povo o considerava um grande profeta. Ora, isso implicava em denúncia das injustiças e dica do caminho e do projeto da justiça, que não passavam pelo governo do tetrarca corrupto e opressor. Herodes só mandou seus capangas matar João porque foi iludido e constrangido pelas banalidades e estupidez daquela que tomara de seu irmão como esposa.

Herodes temia João com razão, graças às contradições entre os projetos de ambos.

Enquanto Herodes se originava do império poderoso e na Palestina representava o massacre dos rebeldes que se opunham às injustiças, João provinha de uma comunidade profundamente solidária, partilhante da vida em comunidade, os essênios, que viviam nas barrancas de Cunrã, no Rio Jordão.

João ensinava o povo o que aprendeu em sua comunidade original. Pregava que quem tivesse duas túnicas repartisse com quem não tinha; quem tivesse comida partilhasse com quem passasse fome; aos cobradores de impostos orientava que não cobrassem a mais nem corrompessem; até mesmo aos soldados propunha que não maltratassem o povo nem fizessem falsas acusações, possibilitando perseguições e morte dos que se revoltavam contra as injustiças.

Por isso o povo o considerava profeta, o amava e Herodes o temia.

O natal de Herodes e dos poderosos é marcado por vaidades, futilidades, inconsciência e morte. Pães, bolos e bebidas das festas natalinas herodianas são fabricadas pelos mesmos trabalhadores que odiados e desprezados pelos poderosos. São natais da morte e não da vida.

Mateus confronta o assassinato do Batista com o banquete servido por Jesus, composto de pães e de peixes, nas montanhas da Galileia, como sinal da vida partilhada e justa, que deve ser sempre e todos os dias para todo o povo e não somente esbanjamentos das celebrações de morte dos palácios, que aqui no Brasil, desde a grande obra do antropólogo Gilberto Freyre, chamamos de "casa grande", lugar dos donos dos escravos, com quem não festejam e em quem não reconhecem direitos e justiça.

Abaixo os natais de Herodes, os que frivolamente temem e matam João Batista!

Viva o João Batista que ensinou o povo a compartilhar e glória a Jesus que realizou a mais bela arte do milagre da multiplicação dos pães e peixes, prosseguindo a obra profética de seu precursor, que tanto amedrontou seu algoz. Aí sim o natal é autêntico e para sempre!

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