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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

288 artigos

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Assassinatos a granel

Na ânsia de executar, o dirigente de Israel só enxerga inimigos. Não quer saber de julgá-los. Fulminá-los violentamente constitui a sua tarefa principal

Benjamin Netanyahu em Tel Aviv - 12/3/2025 (Foto: Yair Sagi/Pool via REUTERS)

Num de seus interessantes livros de mistério, Jules Maigret, o personagem de Georges Simenon, se vê de repente cercado de mortes. Parando para refletir, logo oferece o diagnóstico inevitável: “temos um assassino em série!” O próximo passo implicará na descoberta do infrator, graças à inteligência e ao talento de seu adversário. O atual cenário de tensões internacionais lembra as situações vividas pelo famoso detetive. Com uma diferença. O matador não se esconde. Apresenta-se como um ator no primeiro plano da cena. É um vaidoso que se orgulha de seus feitos. E não age só. Dispõe de um exército fortemente armado, com apoio da grande potência bélica dos nossos tempos, generosa o suficiente para o abastecer. Falamos, como se nota, de Benjamin Netanyahu e Donald Trump. Os dois se arvoram, na melhor narrativa policial dos “justiceiros” de plantão, selecionando e punindo vítimas onde alcançam suas torres de observação. Na ânsia de executar, o dirigente de Israel só enxerga inimigos. Não quer saber de julgá-los. Fulminá-los violentamente constitui a sua tarefa principal – e se esmera nisso.

Assim agindo, com aplausos dos amigos e comparsas, marcará sem dúvida sua presença indelével na História destes perturbados e mal orientados tempos. Sequer hesita. Como se não existissem propostas de justiça em nosso planeta, suja as mãos com o sangue de sua ambição genocida. Afinal, habituou-se a massacrar homens, mulheres e crianças em Gaza. E ostenta os seus feitos como galardões, a despeito do repúdio universal que vem colecionado para o seu país em escala mundial. Pode ser que a estratégia funcione por um tempo, aumentando-lhe o prestígio entre os seus. Mais tarde, na hora da verdade, talvez preste contas por isso. Com o Irã não se comporta diversamente. Quer esmagar e riscar do mapa adversários imaginários nas suas fantasias de destruição nuclear. A experiência logo dirá se cumprirá ou não com seus desígnios. Tiranos em geral (deve saber disso) possuem destinos trágicos. Nenhuma força se mostra totalmente imbatível nos confrontos humanos, hoje ou no passado. Vítimas renascem das cinzas e obcecam os perpetradores da desgraça onde estiverem. Por enquanto, protege-se com o apoio norte-americano. Mas até quando?

Maigret era um pesquisador de almas que se orientava num universo de leis. Contava com a vaidade dos grandes criminosos, incapazes de se esconderem para sempre sem se trair. Nós defendemos leis internacionais com poder para alcançar algozes. Acresce a isso o fato de que não há mal que sempre perdure. Mesmo que sufoque Teerã, em seus delírios coloniais, o que não parece provável, reviravoltas acontecem... São lições para aprender. É o que a humanidade espera.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.