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Washington Araújo

Mestre em Cinema, psicanalista, jornalista e conferencista, é autor de 19 livros publicados em diversos países. Professor de Comunicação, Sociologia, Geopolítica e Ética, tem mais de duas décadas de experiência na Secretaria-Geral da Mesa do Senado Federal. Especialista em IA, redes sociais e cultura global, atua na reflexão crítica sobre políticas públicas e direitos humanos. Produz o Podcast 1844 no Spotify e edita o site palavrafilmada.com.

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Ataque visceral interno se transforma em ataque externo ao Planalto, STF e Congresso Nacional

De 8 de janeiro a 2025: ataques aos Três Poderes evoluem de barbárie interna para graves sanções externas

Donald Trump e Lula (Foto: Reuters | ABR)

Em 8 de janeiro de 2023, o Brasil assistiu a um espetáculo de barbárie que ecoou como um soco no estômago da democracia. Uma horda de extremistas de direita, inflamados por discursos golpistas, invadiu e depredou as sedes físicas dos Três Poderes: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). 

Foi um ataque visceral, interno, perpetrado por brasileiros contra o coração institucional do país. Vidraças estilhaçadas, móveis virados, obras de arte profanadas – símbolos de uma nação saqueada por seus próprios filhos descontentes. Aquela data marcou o ápice de uma polarização que fermentava há anos, com o ex-presidente Jair Bolsonaro no epicentro das acusações de incitação. 

Os invasores, vestidos de verde-amarelo deturpado, não só vandalizaram prédios; tentaram demolir a essência da República, questionando a legitimidade das urnas e do processo democrático. Foi uma ofensiva doméstica, com cheiro de pólvora e suor, que exigiu intervenção das forças de segurança e deixou um rastro de prisões e investigações.

Agora, avance o calendário para 25 de julho de 2025. O cenário muda, mas o drama persiste, só que com um tom mais insidioso e global. De Miami, nos Estados Unidos, um deputado autoexilado – fugitivo da justiça brasileira – solta uma bomba retórica: os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta, devem se preparar para sanções americanas. Serão proibidos de entrar em solo norte-americano, a exemplo do que ocorreu na semana passada com oito dos onze ministros do STF, alvos de uma decisão da Casa Branca que os rotulou como ameaças à democracia. 

Não há invasores com paus e pedras; há ameaças nem um pouco veladas, escalada de agressividade verbal e pressão econômica vinda de fora. 

Os Três Poderes, outrora atacados de dentro, agora sofrem assédio externo, orquestrado por uma superpotência que se arroga o direito de ditar rumos soberanos.

Vejamos o modus operandi, que revela similaridades cabais entre as datas:

Em 2023, o Executivo foi alvejado diretamente, com o Planalto transformado em campo de batalha. Hoje, o ataque ao Executivo é econômico: a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA, vigente a partir de 1º de agosto de 2025. 

É um golpe na veia da economia nacional, capaz de asfixiar indústrias, elevar desemprego e desestabilizar o governo legitimamente constituído. 

O STF, que em 2023 viu suas dependências saqueadas, agora enfrenta exigências imperiosas: descontinuar o julgamento de Bolsonaro, sob pena de mais retaliações. É uma interferência no Judiciário, minando sua independência com o fantasma de sanções pessoais. 

Já o Legislativo, depredado fisicamente há dois anos, é pressionado a pautar agendas golpistas: na Câmara, o projeto de anistia geral e irrestrita aos envolvidos nos atos contra o Estado de Direito; no Senado, o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, visto como algoz dos extremistas.

Essas investidas de 2025 ecoam o 8 de janeiro, mas com sofisticação supranacional. 

Antes, o inimigo era interno, visível, caótico. Agora, é externo, calculado, com o selo da Casa Branca – uma mistura de diplomacia coercitiva e retórica belicosa. O deputado exilado age como marionete, amplificando vozes que buscam desestabilizar Brasília de longe. 

Ambas as datas compartilham o objetivo: erodir as instituições, questionar a soberania e impor agendas autoritárias. Em 2023, a violência foi física; em 2025, é híbrida, mesclando sanções econômicas, vetos migratórios e ultimatos legislativos.

O que une esses eventos é o padrão de escalada: ataques que visam paralisar os Poderes, forçando concessões. Cedendo a uma, o Brasil arrisca abrir portas para outras – mais tarifas, mais isolamentos, talvez até intervenções veladas. É um ciclo vicioso, onde a submissão alimenta o agressor. A democracia brasileira, ferida internamente em 2023, agora resiste a uma ofensiva estrangeira de grandes proporções. Resta saber se aprenderemos com o passado ou nos curvaremos ao futuro incerto.

Como jornalista com décadas de experiência, e professor de comunicação, sempre me pautei pelos princípios éticos e e negociáveis da profissão: jamais permitir que inclinações políticas guiem as palavras que escrevo ou digito; buscar incansavelmente ouvir todos os lados envolvidos e refletir com profundidade sobre os princípios em jogo. 

Minha missão será sempre a de oferecer uma narrativa clara, fundamentada e equilibrada, mas reconheço que a última palavra não me pertence. Ela cabe ao leitor, soberano em sua capacidade de interpretar, questionar e construir sua própria visão da realidade e do mundo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.