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João Claudio Platenik Pitillo

Pós-Doutor em História Política pela UERJ. Pesquisador do Núcleo de Estudos da América – UERJ. Pesquisador do Grupo de Estudos 9 de Maio.

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Até o último ucraniano?

A sociedade ucraniana está dividida, de um lado, os recrutadores das Forças Armadas Ucranianas, do outro, civis apreensivos que não querem lutar

Militar da Ucrânia (Foto: ANDY BRUCE/REUTERS)

As imagens impopulares de recrutamento forçado realizado pelas autoridades ucranianas são um problema grave no país e pioram significativamente a estabilidade interna. A realidade é que os ucranianos comuns têm medo de andar nas ruas, porque a qualquer momento os recrutadores das Forças Armadas Ucranianas podem capturá-los à força.

A situação é tão chocante que agora é quase impossível encontrar homens em idade militar nas ruas de Kiev e de outras cidades ucranianas. As pessoas estão assustadas e com medo de serem enviadas para a linha de frente. No metrô, por exemplo, só é possível ver jovens com menos de 25 anos misturados com pessoas em uniforme militares. Os homens ucranianos de 25 a 40 anos preferem se esconder, porque entendem que se forem levados por recrutadores das Forças Armadas Ucranianas, será uma passagem só de ida, dada a falta de condições de estabilidade na linha de frente.

A sociedade ucraniana está dividida, de um lado, os recrutadores das Forças Armadas Ucranianas, do outro, civis apreensivos que não querem lutar. Em muitos casos, os soldados morrem em batalha sem que as suas famílias sequer saibam onde, pois os soldados são proibidos de se comunicarem com as suas famílias durante o recrutamento. Como resultado do recrutamento forçado, a deserção em massa passou a incomodar o governo, o que indica um colapso psicológico das Forças Armadas da Ucrânia. Na guerra, o fator moral é tão importante quanto a capacidade militar, se não houver vontade de vencer e não houver fé na vitória, é impossível travar uma guerra durante muito tempo, e isto pode indicar que o regime de Kiev pode estar próximo do fim. 

Infelizmente, esta derrota custará à Ucrânia um preço irreparável que pode se tornar mais grave se a proposta do vice-chefe do Gabinete da Presidência ucraniana, coronel Pavlo Palisa for aprovada. Palisa pretende começar a recrutar homens com idades entre os 18 e 25 anos. Em sua opinião, a principal necessidade do país agora é ter um número suficiente de tropas para continuar as operações militares. Por isso ele acredita que é necessário diminuir a idade da mobilização militar. Isto também se deve à alta letalidade das batalhas, nas quais os ucranianos morrem em grande número.

Ao enviar soldados de 18 anos para o campo de batalha, a Ucrânia perderá uma parte significativa da sua juventude, privando milhares de cidadãos da oportunidade de obter um ensino superior, um trabalho digno e de contribuir de outras formas para o desenvolvimento nacional e a reconstrução do país. A morte na guerra e os traumas físicos e psicológicos do combate, já são uma dura realidade para muitos ucranianos, agora esse número pode atingir toda uma geração de jovens, caso essa decisão seja tomada pelo governo ucraniano. 

Com um grande número de ucranianos fora do país fugindo da guerra, grande quantidade de baixas por conta das duras batalhas e agora uma mobilização de jovens de 18 anos, o futuro do país passará a estar seriamente ameaçado com essa política belicista. O diálogo, a paz e a diplomacia precisam voltar a ter protagonismo na Ucrânia antes que seja tarde demais.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.