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Ronaldo Lima Lins

Escritor e professor emérito da Faculdade de Letras da UFRJ

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Auschwitz, Flórida (USA)

Donald Trump deveria ser o último a ocupar a função que exerce

O presidente dos EUA, Donald Trump - 27/06/2025 (Foto: REUTERS/Ken Cedeno)

Numa reminiscência que chamou de Antimemórias, André Malraux, o grande escritor francês, descreve uma conversa travada entre um amigo, ocupado com a filosofia, e seu pai. Um deles indaga: “Mas, afinal, o que é um homem?” O outro hesita, custa a se pronunciar. Finalmente, diz: “O homem é aquilo que ele faz.” Trata-se de uma definição que prevalece na modernidade, na qual todos somos convocados a nos posicionar diante do mundo, ao mesmo tempo imperativo e avassalador. E, de fato, se afastamos as referências teológicas, só nos resta examinar as particularidades de um indivíduo por sua trajetória, isto é, a maneira como se move em sociedade. Então, se é assim, como nos tranquilizar com a figura de Donald Trump?  No cenário de seu país, não é realmente um estadista. Inclina-se para as atitudes arbitrárias, com pouca ou nenhuma solidez em qualquer aparato legal. Escolheu emigrantes como bodes expiatórios, persegue estudantes por posições políticas, cria embaraços com nações aliadas... Ou seja: deveria ser o último a ocupar a função que exerce. Ainda por cima, mete-se em questões internas de outras nações, com opiniões estapafúrdias. 

Depois de hostilizar, prender e maltratar latino-americanos há anos radicados nos Estados Unidos, quis esticar a corda. Não se limita a algemá-los. Tem de detê-los em instituições construídas para os torturar e entregá-los às onças... ou jacarés. É o caso do presídio anunciado na Flórida, no meio de um pântano, famoso pela quantidade de répteis que nadam nas águas turvas do lugar. Trocando em miúdos: AUSCHWITZ, em pleno século XXI, sem pudor e escancaradamente. Um escândalo de imensas proporções, comenta Paulo Ramos, jornalista e crítico do nosso tempo. Inacreditável como nossos contemporâneos, norte-americanos ou não, permaneçam indiferentes com a medida posta em perspectiva. Justificativa: presidiários atualmente somam milhares. Não há como os instalar nos locais de hábito. E são emigrantes! Gente sem cidadania que dividia os benefícios da riqueza sequestrada por eles. A argumentação, de tão estúpida, fere os tímpanos de uma população que aprendera com os erros do passado e não desejaria repetir crimes do nazifascismo. No entanto, ele, Donald Trump, está lá, cercado de assessores, partilhando os mesmos e criticáveis propósitos. Não surpreende que, na ânsia de aliciar adeptos, haja se associado a Jair Bolsonaro e sua gangue, os zeros que o acompanharam de olhos e ouvidos fechados para se dar bem.

Em nosso favor, há como dizer que contamos com um Primeiro Mandatário forjado nas regras da dignidade. Ele não se dobrará a ameaças. Que se dane a parcela fascista do Congresso. Grite e esperneie à vontade. O governo conta com a maioria das pessoas de bem a seu lado. Quanto aos renegados, como Eduardo Bolsonaro, que a Lei o puna com rigor. Não há como aceitar traições e conspirações de gabinete com gringos de plantão, dizendo o que devemos ou não devemos fazer. Banimento, pode ser a medida certa. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.