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Valter Pomar

Historiador e integrante da Direção Nacional do PT

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Aventuras do PT na China (parte 1)

A programação inclui a visita a quatro cidades: Pequim, Xiamen, Fuzhou e Shangai.

Seguranças estão de guarda antes da Terceira Sessão Plenária do Congresso Nacional do Povo (NPC) no Grande Salão do Povo, em Pequim, China, em 10 de março de 2023. (Foto: Mark R. Cristino/Pool via REUTERS)
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No dia 9 de abril de 2024, aterrissou na República Popular uma delegação de 28 petistas.

A delegação é encabeçada pela presidenta nacional do PT, a companheira Gleisi Hoffmann.

A programação inclui a visita a quatro cidades: Pequim, Xiamen, Fuzhou e Shangai.

As passagens, a hospedagem, os deslocamentos e a alimentação da
delegação estão sendo pagos pelo Partido Comunista da China.

A primeira parte da programação, de 9 de tarde até 11 de abril, envolveu - além do "sétimo seminário teórico", reuniões e visitas em vários locais de Pequim, a saber:

1/com o chefe do departamento de relações internacionais do Partido
Comunista da China;

2/com Li Xi, integrante do comitê permanente do birô político do Comitê Central do PCCh. 

Para simplificar: em outubro de 2022, o Congresso do PCCh elegeu um Comitê Central com 205 titulares, dentro do qual tem um Birô Político com 25 integrantes, dentro do qual tem uma comissão permanente com 7 integrantes. Noutras palavras, Li Xi é um dos 7 principais dirigentes da China. Por isso, a reunião com Li Xi foi realizada no Grande Salão do Povo;

3/com Xie Chuntao, pró-reitor da Escola Central do PCCh;

4/com Hun Chunying, ministra-adjunta do Ministério das relações
exteriores da China;

5/com Marcos Galvão, embaixador do Brasil na China;

6/a sede de um serviço público chamado 12345;

7/o Museu da história do PCCh.

No dia 12 de abril a delegação visitará a sede da empresa Huawei, a
Cidade Proibida e a Grande Muralha.

Sobre o seminário teórico, mais detalhes estão aqui na página eletrônica da Fundação Perseu Abramo, no seguinte endereço:
https://fpabramo.org.br/cooperacao-internacional/40-anos-de-relacao-entre-pt-e-pcch-comitiva-do-pt-chega-a-pequim-em-visita-oficial/

No link acima está o discurso feito pela presidenta Gleisi Hoffmann.

Além deste discurso, três integrantes da delegação fizeram exposições
mais longas.

A seguir o roteiro destas exposições (há diferenças entre o que foi
falado e os roteiros abaixo).


Roteiro da exposição feita por Monica Valente, secretária executiva do Foro de São Paulo

Cabe a mim falar sobre  “Reforçar a capacidade de governança pela
administração integral e rigorosa do Partido”.

Ou seja, neste painel daremos ênfase a aspectos políticos. Vale a pena começar citando alguns aspectos da história do Brasil e enfatizando algumas diferenças importantes entre a situação política brasileira e a situação política chinesa.

O Brasil viveu uma ditadura militar, entre 1964 e 1985.

Depois vivemos governos conservadores, entre 1985 e 2002.
Estes governos adotaram, na maior parte dos casos, políticas que nós
chamamos de neoliberais.

Entre 2003 e 2016, o PT exerceu a presidência da República, primeiro com o companheiro Lula, depois com a companheira Dilma.
Em 2016 sofremos um golpe de Estado.

E entre 2016 e 2022, tivemos novamente governos conservadores e
neoliberais. Desde 2023, o PT voltou à presidência da República, com Lula ocupando uma vez mais a presidência. Entretanto, o Brasil não é mais o mesmo. Em diversos cenários, retrocedemos.

Noutra mesa deste seminário, poderemos discutir o retrocesso no plano econômico. Aqui, quero falar do retrocesso no plano político.

Forças de direita controlam importantes governos municipais e estaduais. Controlam, também, parcela importante do Congresso Nacional. Além de ocuparem inúmeras outras posições decisivas.
Parte dessas forças de direita não é apenas de direita, são de
extrema-direita, neofascistas.

Foram estas forças que tentaram um fracassado golpe de Estado, no dia 8 de janeiro de 2023.

Esta correlação de forças negativa coloca para nós, do PT, um desafio
maior do que o desafio que enfrentamos entre 2003 e 2016.
Naquele tempo, enfrentamos uma oposição de direita.

Hoje enfrentamos duas forças de oposição, uma delas de direita e outra de extrema-direita.

A primeira é uma velha conhecida e sabemos como enfrentá-la: trata-se da direita neoliberal tradicional.

A segunda apareceu nos últimos 10 anos e constitui para nós um grande desafio.

Trata-se da extrema-direita neoliberal.

Esta extrema-direita tem base popular, especialmente entre os setores do povo que professam a religião cristã de confissão protestante.

Para derrotar a extrema-direita, fizemos uma frente ampla, para fazer um  governo de coalizão.

Ganhamos as eleições, mas seguimos minoritários no Congresso Nacional.

Na opinião de nosso partido, alterar esta correlação de forças depende
da conscientização e mobilização de setores da classe trabalhadora que, hoje, ainda se mantém distante das posições de nosso Partido.

Para dar conta desse desafio, precisamos aprimorar nossa comunicação política e, também, fazer disputa política cotidiana.

Lembrando que esta comunicação e esta disputa política cabem ao governo federal, aos 4 governos estaduais que o PT dirige, cabe as 241
prefeituras que nos governamos, cabe aos XX deputados estaduais, aos XX deputados federais, cabe aos XX senadores do PT.

Mas cabe, também, ao Partido enquanto tal e aos movimentos sociais que nós influenciamos.

Cabe, ainda, a forças políticas e sociais que, mesmo não sendo petistas, são nossas aliadas.

A articulação entre estes diversos instrumentos da classe trabalhadora é essencial para que incidamos na correlação de forças em nosso país.

Temos minoria nas prefeituras, governos estaduais, nos parlamentos, nos meios de comunicação.

Além disso, a direita a extrema-direita têm grande influências nas
forças armadas, nas polícias e em algumas igrejas.

A possibilidade de alterar esta correlação de forças depende e muito da
mobilização direta da classe trabalhadora e de nossa capacidade
partidária de organização.

Como disse recentemente o presidente Lula, “só a mobilização evita volta da extrema-direita”.

O PT é hoje o maior partido do Brasil e contamos com a preferência
partidária de aproximadamente um terço da população brasileira.

Hoje estamos engajados para participar ativamente das eleições
municipais de 2024.

É a partir da disputa nos municípios , da organização partidária e da
auto organização popular que poderemos contribuir, no biênio 2025-2026, para organizar e consolidar a base popular necessária para mudar o Brasil.

Ressaltamos também que , no plano político, a estratégia da integração regional latino-americana é parte essencial para o enfrentamento das contradições que surgem do desenvolvimento autônomo e soberano do país frente às politicas imperialistas que buscam tratar a região como mera exportadora de commodities .

É importante que nossos amigos chineses tenham em conta a complexidade da situação brasileira, muito diferente da situação chinesa.

Roteiro da exposição feita por Valter Pomar, diretor da Fundação Perseu Abramo

Cabe a mim falar sobre a “Exploração de caminho de modernização conforme  às próprias realidades de país”.

Começo lembrando que a sociedade brasileira nasceu dependente das
potências metropolitanas da época, especialmente Portugal e Inglaterra.

Desde então e até hoje, o Brasil foi e segue sendo uma das sociedades
mais desiguais do mundo.

Para preservar esta desigualdade, a classe dominante brasileira sempre fez de tudo para impedir que a maioria do povo tivesse acesso à democracia.

Outra característica do Brasil é que nosso desenvolvimento é sempre
inferior às nossas possibilidades.

Toda vez que o Brasil começa a se desenvolver, algo acontece e a roda da história nada para trás.

Como diz um ditado popular, somos o país do futuro, mas o futuro nunca chega.

Para ser mais preciso, na maior parte da história do Brasil nós tivemos
crescimento, tivemos modernização, mas não tivemos desenvolvimento.

No Brasil costumamos falar de “modernização conservadora”, ou seja, uma modernização que conserva a riqueza dos que já são ricos e o poder dos que já têm poder.

Quando falamos de desenvolvimento, falamos não apenas de crescimento, não apenas de acumulação de riquezas materiais.

Quando falamos de desenvolvimento, falamos da criação das condições para a nossa sobrevivência no longo prazo.

Condições econômicas, sociais, culturais, ambientais, políticas.
Falamos de criar estas condições em escala planetária, em escala de
humanidade, em escala de civilização, em escala de modo de produção e reprodução da vida.

Nesta escala mais ampla, falar em desenvolvimento é falar das forças
produtivas de toda a humanidade.

Se nós do Brasil quisermos contribuir positivamente para o futuro da
humanidade, precisaremos dar um salto de qualidade em relação a situação atual.

E para isso teremos que fazer um imenso esforço produtivo e tecnológico, cultural e político, para transformar as condições materiais e espirituais de vida de nossa população.

Se trata de elevar a capacidade produtiva da sociedade como um todo e se trata, também, de elevar a capacidade produtiva individual de cada um dos brasileiros e brasileiras.

Um primeiro passo foi dado em 2022, quando reconquistamos a Presidência da República, derrotando a extrema-direita neoliberal.

A vitória de Lula impediu Bolsonaro de continuar na presidência.
Mas a vitória na eleição presidencial não basta. Há inúmeras tarefas
pela frente.

Hoje, a economia brasileira possui dois grandes pilares: a especulação
financeira e a exportação de produtos primários (minerais, vegetais e
proteína animal).

Hoje quem domina a economia brasileira é o agronegócio, a mineração, o capital financeiro e o capital transnacional.

Um de nossos desafios é mudar esta situação.

Mudando esta situação, mudaremos as bases estruturais nas quais repousa a distribuição de propriedade, riqueza e poder em nossa sociedade.

Uma questão central a ser resolvida, insuficiente em si mesma, mas sem a qual as demais não terão solução a contento, é a reindustrialização do Brasil.

Em 1980, nosso país estava se convertendo em uma grande potência
industrial.

Desde então, tivemos a crise da dívida externa e vários governos
neoliberais.

Como resultado disto, desde 1980 o Brasil veio se desindustrializando
fortemente.

Isso começou a mudar nos governos Lula e Dilma (entre janeiro de 2003 e agosto 2016), que  manifestaram a disposição de colocar um freio e até de tentar reverter o processo de desindustrialização.

Mas aí tivemos o ciclo golpista iniciado no impeachment de 2016 e
continuado com os governos de Temer e Bolsonaro (agosto de 2016 a
dezembro de 2022).

Como resultado disto, o Brasil involuiu. Deixamos de ser uma quase
potência industrial e viramos uma subpotência agroexportadora e
minério-exportadora.

Além de prosseguirmos sendo um paraíso para o capital financeiro
especulativo.

A “desindustrialização” iniciada em 1980 foi uma verdadeira ponte para o passado, que nos levou a experimentar hoje, no ano de 2024, uma situação similar, mas pior, àquela situação vivida no Brasil, na década de 1920, um século atrás.

A desindustrialização mudou a composição da classe dominante, mudou a composição e as condições de vida da classe trabalhadora, mudou o ambiente político e cultural no Brasil, mudou a relação do Brasil com o mundo.

Foi nesse ambiente de desindustrialização que os neoliberais atuaram e seguem atuando.

Foi em reação a esse ambiente de desindustrialização, que a esquerda
encabeçada pelo PT ganhou quatro eleições presidenciais seguidas (2002, 2006, 2010 e 2014) e voltou a ganhar, novamente, em 2022.

Foi também nesse ambiente de desindustrialização que os neofascistas cresceram e seguem ameaçando.

Por todos estes motivos, um dos principais desafios estratégicos do
governo Lula é servir de ponto de partida para uma “transição”: sair da
condição atual, de subpotência agro-minério-exportadora & rentista, e
passarmos a ser uma potência industrial.

Mas uma potência industrial de novo tipo.

Por novo tipo, queremos falar tanto de uma capacidade científica,
tecnológica e industrial padrão século 21, quanto queremos falar de uma relação totalmente diferente com a classe trabalhadora, com o meio ambiente e com o mundo.

Achamos que a atual situação mundial é, apesar de seus perigos, propícia para as mudanças e transformações que queremos fazer.

A atual situação mundial é marcada pelos desdobramentos da crise de
2008, pela pandemia da Covid 19, pelo agravamento da situação ambiental, pela ascensão da República Popular da China, pela guerra da Rússia contra a aliança Ucrânia/OTAN e, destacadamente, pelas tentativas que os Estados Unidos fazem no sentido de reverter seu declínio enquanto potência hegemônica.

O declínio dos Estados Unidos abre uma janela para que o Brasil e outros países possam mudar o mundo e mudar o nosso lugar no mundo.

Adotar como objetivo central a reindustrialização nacional tem
implicações em nossa política externa. Por exemplo, em nossa relação com
a Europa. A Europa demonstrou, na segunda onda da crise de 2008 e agora na Guerra da Ucrânia, sua submissão aos interesses estratégicos dos Estados Unidos.

Por outro lado, na relação econômica com o Brasil e com a região, parte das nações que integram a União Europeia insistem em firmar acordos que, se fossem aceitos, acabariam reforçando a nossa condição primário-exportadora.

Quanto aos Estados Unidos, estes já demonstraram sua disposição de fazer de tudo – sabotagem, golpes, lawfare, guerras, cooptação, fábricas de fakenews – para prejudicar a integração regional latino-americana e caribenha.

E nós consideramos que a integração regional da América Latina e Caribe é parte essencial de nosso projeto de reindustrialização.
Portanto, fazer do Brasil um polo mundial industrial, científico e
tecnológico entra em choque com as ambições e interesses dos Estados Unidos e da União Europeia.

Mas entra em choque, também, com a classe dominante brasileira.
A classe dominante brasileira, o empresariado capitalista, já demonstrou inúmeras vezes que está dominado pelos rentistas da especulação financeira, pela turma do agronegócio e pelas potências estrangeiras.

Se depender dos capitalistas brasileiros, nosso país continuará
subalterno e subdesenvolvido.

Portanto, a reindustrialização do Brasil depende essencialmente da
classe trabalhadora.

Só a classe trabalhadora tem interesse em promover mudanças estruturais na sociedade brasileira.

Só a classe trabalhadora está disposta a lutar para que deixemos de ser uma economia primário-exportadora e controlada pelo capital financeiro.

Só a classe trabalhadora tem interesse em vincular a reindustrialização
com a redução das desigualdades sociais, culturais e ambientais.

Por tudo isso é que dizemos que, do ponto de vista estratégico,
programático e histórico, cabe ao governo Lula a missão de desencadear um ciclo de desenvolvimento sustentável que reindustrialize o país, que amplie o bem-estar social da maioria do povo, que amplie as liberdades democráticas, que proteja nossa  soberania nacional, fazendo tudo isso de forma combinada com a integração regional.

Para dar conta destas tarefas, precisaremos entre outras coisas de mais estado e mais empresas estatais.

Precisamos que o Estado brasileiro amplie substancialmente o
investimento público em apoio ao desenvolvimento da indústria brasileira e em apoio ao desenvolvimento científico-tecnológico.
Precisamos que o Estado brasileiro adote fortes políticas de ampliação
do bem-estar social.

Precisamos superar a política monetária adotada, hoje, pela direção do
Banco Central brasileiro.

O Banco Central brasileiro mantém, há bastante tempo, a maior taxa de
juros reais do planeta.

Entre outros motivos, isso acontece porque o presidente e parte
majoritária da diretoria do Banco Central brasileiro foi nomeada pelo
presidente anterior, foi nomeada por Jair Bolsonaro.

Só em 2025 o presidente Lula poderá nomear um novo presidente do Banco Central.

Cabe ao Estado, ainda, coordenar o investimento estrangeiro e nacional, o investimento privado e público, a grande e a pequena e média empresas.

Apenas com o protagonismo do Estado, será possível combinar
desenvolvimento econômico com ampliação do bem estar social.

Em outras palavras, um desenvolvimento democrático e popular só será alcançado com protagonismo do Estado.

Protagonismo de um Estado de novo tipo.

Afinal, o atual Estado brasileiro não está à altura das tarefas que
temos pela frente.

Nos países em que o capitalismo se desenvolveu exitosamente, ainda no século XIX (desde a Inglaterra até os Estados Unidos, passando por
Alemanha e Japão), nos países chamados de "imperialistas", nesses países o papel do Estado também foi muito importante.

Mas o Estado foi e segue sendo decisivo, nesses países, essencialmente para proteger as empresas privadas e os interesses dos grandes capitalistas.

Já nos países que foram colônias, nos países chamados de atrasados, de dependentes ou de periferia, o papel do Estado é ainda mais
indispensável, mas no sentido de proteger os interesses da maioria do
povo.

Cumprem um papel importante, também, as empresas estatais.
Não haverá como superar o atraso em relação aos países economicamente avançados, nem haverá como enfrentar a concorrência" do imperialismo, sem Estado e sem empresas estatais.

Os capitalistas privados brasileiros não conseguem, não podem, não
querem e não vão cumprir um papel de liderança no desenvolvimento do Brasil.

Por isso, não haverá soberania nacional, bem-estar social, liberdades
democráticas e desenvolvimento enquanto a classe trabalhadora brasileira não controlar as principais alavancas do poder (poder político, cultural, econômico, militar) e usar estas alavancas para mudar estruturalmente nossa sociedade.

Está aí a China para demonstrar o papel que o Estado joga no
desenvolvimento acelerado, na ampliação do bem-estar social e na
transformação da periferia em centro.

Sabemos que os Estados Unidos não têm interesse no desenvolvimento do Brasil.

Motivo pelo qual o Brasil precisa ter capacidade de defender sua
soberania.

Defender a soberania depende, em primeiro lugar, das condições de vida que o Brasil oferece a seus cidadãos.

Claro que as pessoas podem se mobilizar e se sacrificar por outras
motivações.

Mas no longo prazo, se queremos que a população brasileira defenda a
soberania, precisamos garantir o máximo possível de igualdade social.

Em segundo lugar, a capacidade de defesa depende da economia.

Em poucas palavras: oficinas e laboratórios, indústria e tecnologia.

Em terceiro lugar, a capacidade de defesa depende da democracia, no
sentido mais profundo da palavra.

Precisamos de uma política estruturada de maneira a fazer valer o ponto de vista da maioria do povo.

Em quarto lugar, a capacidade de defesa depende da vizinhança: quanto mais integração regional, mais soberania.

Finalmente, a soberania depende de Forças Armadas que estejam a serviço do povo e não a serviço dos Estados Unidos.

Para terminar, repito que nós do Brasil estamos diante de uma equação
política e econômica muito complexa.

Esperamos ter a ajuda dos nossos amigos chineses nesse esforço,
inclusive no esforço de superar nossa atual condição
primário-exportadora.

Vale dizer que o exemplo chinês já nos é muito útil, pois demonstra tudo que se pode conseguir, quando se tem uma noção clara sobre o longo prazo, vontade política, persistência, capacidade de gestão, esforço coletivo e esforço individual.

Evidentemente, nada disto teria ocorrido sem a Revolução.

Sem a Revolução, sem o Partido Comunista e sem a disposição de luta do povo chinês, a China não seria o que é hoje.


Roteiro da exposição feita por Romênio Pereira, Secretário de Relações Internacionais do PT

Encerramos neste momento nosso seminário teórico.

Acredito que demos novos passos no sentido de esclarecer o ponto de
vista de nossos partidos, acerca de questões decisivas.

Uma dessas questões é o papel dos Estados Unidos na situação mundial.

Hoje, a grande preocupação dos Estados Unidos é reverter seu declínio
como potência hegemônica.

Para atingir este objetivo, os Estados Unidos têm promovido seguidas
agressões militares.

Destaco o cerco promovido pela OTAN contra a Rússia, cerco que está na origem da atual guerra na Ucrânia.

Destaco, também, as provocações contra a República Popular da China no estreito de Taiwan.

Nos dois casos, os Estados Unidos querem a guerra, não querem a paz.

A ação dos EUA é um dos motivos pelos quais os atuais governos
progressistas e de esquerda, na América Latina e Caribe, enfrentam
dificuldades ainda maiores do que no período 1998-2008.

O projeto de desenvolvimento do Brasil só terá êxito nos marcos da
integração regional latino-americana e caribenha.

Só com integração, teremos desenvolvimento, industrialização, bem-estar social e ampla auto-organização democrática do povo brasileiro.
Sabemos que estas preocupações não são só nossas.

No mundo inteiro, outras forças políticas, partidos, movimentos sociais, intelectuais e governos manifestam as mesmas preocupações.

Não necessariamente concordamos com tudo.

Aliás, em geral discordamos em questões muito importantes.

Mas nos une a luta contra o neocolonialismo, contra a versão moderna do velho colonialismo, inclusive contra aquele colonialismo que se
manifesta sob a forma monetária e financeira.

Nesse sentido, este seminário foi um importante espaço para a
reafirmação dos compromissos de nossos partidos, com o socialismo, com a democracia, com a soberania, com o desenvolvimento, com o bem-estar dos povos, pela paz e por uma nova ordem mundial, sem hegemonismos, nem colonialismo ou imperialismo.


Além das exposições acima e das contribuições feitas por vários
integrantes da delegação, no seminário também foi lida a seguinte
mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silv
a:


A SUA EXCELÊNCIA O SENHOR
XI JINPING
PRESIDENTE DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA

Venho através desta carta saudar o Secretário-Geral do Partido Comunista Chinês e Presidente da China, Camarada Xi Jinping.

Este ano, em 15 de agosto, o Brasil e a China completam cinquenta anos de relações diplomáticas.  São cinco décadas de cooperação, intercâmbio e amizade que apontam para um futuro compartilhado.

Ano passado, durante minha visita a Beijing, ainda nos primeiros meses do meu terceiro mandato, alçamos nossa parceria estratégica a um novo patamar.  

Expandimos nossos laços comerciais, de investimento, e de cooperação técnica, científica, tecnológica e educacional, entre outras áreas. Ampliamos nossa cooperação em satélites, que é um modelo de iniciativa contínua e transformadora.

Cimentamos laços não apenas entre nossos governos e empresas, mas entre os nossos povos.

Sempre cientes do passado, olhamos com esperança para o futuro.  A
transição justa oferece uma janela única para um modelo de
desenvolvimento mais inclusivo e sustentável para nossos países e para o mundo.  

Será um canal cada vez mais importante para o intercâmbio
tecnológico, científico e econômico entre o Brasil e a China, e para o
combate à pobreza e à fome.

Hoje, a relação Brasil-China é importante não apenas para nossos países, mas também para o mundo.

Enfrentamos muitos desafios comuns, desde a proliferação dos conflitos armados até a intensificação da mudança do clima e os riscos do mau uso da inteligência artificial.

Tanto o Brasil quanto a China priorizam a resolução pacífica das controvérsias, o desenvolvimento sustentável e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras e amplamente acessíveis.

A pandemia de Covid-19 nos mostrou que precisamos fortalecer os canais globais de cooperação, com base na solidariedade.

Entendemos que um mundo altamente assimétrico e desigual só nos traz mais problemas. Colaboramos para fortalecer os espaços tradicionais da governança global, como a ONU e as instituições de Bretton Woods. Mas também reforçamos espaços chave da cooperação Sul-Sul tais como o G77+China, o BRICS e o BASIC.

Esse ano, a presidência brasileira do G20 nos oferece mais uma
oportunidade de avançar novas ideias e propostas para o desenvolvimento, a paz e a sustentabilidade no mundo.Trabalhamos juntos por uma ordem global multipolar e por uma governança global mais justa e representativa.  

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Valorizamos a coexistência pacífica entre as grandes potências, com oportunidades de desenvolvimento e o bem-estar para todos.

E continuaremos trabalhando juntos para que o mundo possa chegar na COP30, que será realizada na Amazônia brasileira, com novas soluções para os desafios climáticos e ambientais.

Para fazer frente a esses desafios e aproveitar as oportunidades que
surgem, é necessário aprofundar ainda mais os laços e o  onhecimento mútuo.

Desde que voltei à Presidência, o Brasil e a China também elevaram, e
continuaremos elevando, nossa relação política.

O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Comunista Chinês (PCCh)
fazem parte dessa história.

Nossos partidos, como nossos países, têm trajetórias de combate à
pobreza e de promoção do bem-estar.

Hoje o PT é o maior partido político na América Latina.  Valorizando a
participação social como forma de fortalecer a democracia, lutamos desde nossa fundação, em 1980, pelo bem-estar, dignidade e prosperidade dos trabalhadores no campo e nas cidades, no Brasil e no mundo.  

O PT elegeu a primeira mulher Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, hoje à frente do Novo Banco do BRICS.

Atualmente nosso partido é presidido com firmeza e serenidade por outra mulher sábia e forte, a companheira Gleisi Hoffmann.

Ela estará à frente da delegação do PT para participar da 7ª Edição do
Seminário Teórico PCCh-PT, onde teremos a oportunidade de trocar
experiências de governança, participar de debates e colaborar em
projetos de interesse comum.

O Memorando de Entendimento entre o PT e o PCCh, assinado por ela e pelo Secretário Li Xi em setembro do ano passado, representa um passo importante para que os dois partidos possam estreitar e aprofundar ainda mais esse diálogo.

Tenho certeza de que encontraremos cada vez mais pontos de convergência e oportunidades de cooperação.

E que as trocas entre os nossos partidos, entre nossos governos, e entre nossas sociedades se tornarão cada vez mais frequentes e frutíferas.

Viva a amizade entre o povo brasileiro e o povo chinês!

Mais informações sobre a visita do PT à China, procurem a parte 2 deste
texto.

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