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Joaquim de Carvalho

Colunista do 247, foi subeditor de Veja e repórter do Jornal Nacional, entre outros veículos. Ganhou os prêmios Esso (equipe, 1992), Vladimir Herzog e Jornalismo Social (revista Imprensa). E-mail: joaquim@brasil247.com.br

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Homem de negócio, Dallagnol abre empresa com Carlos Fernando e Moro mostra o sapatênis

A Complyapp foi registrada na mesma época em que a irmã de Dallagnol abriu empresas, uma em sociedade com a filha de três anos de idade do então procurador

Carlos Fernando Lima, Deltan Dallagnol e Januário Paludo (Foto: Divulgação)
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Na mesma época em que a família Dallagnol saiu às compras — montando empresas ou adquirindo outras —, o ex-coordenador da Lava Jato e agora político oficial também realizou um antigo projeto de negócio.

Ele se associou ao procurador da república aposentado Carlos Fernando dos Santos Lima, o decano da Lava Jato, numa empresa que promove palestras e cursos, entre outras atividades, como o "treinamento em desenvolvimento profissional e gerencial”.

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A empresa, Complyapp Comply Aperfeicoamento Profissional e Pessoal LTDA, foi aberta no dia 27 de junho deste ano, quando Deltan Dallagnol ainda trabalhava no Ministério Público Federal. O capital social é de R$ 10 mil.

Pouco depois da abertura da empresa, Deltan Dallagnol anunciou em sua rede social que estava oferecendo curso online, e uma das atrações, além dele próprio e de Carlos Fernando, era a procuradora regional Thamea Danelon, que continua ativa no Ministério Público Federal.

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"Eu vou fazer um evento online com duas grandes referências no combate à corrupção no Brasil e somente quem entrar na minha primeira turma vai poder participar ao vivo desse momento. Os convidados serão Carlos Fernando dos Santos Lima e Thamea Danelon, e no evento nós vamos compartilhar nossas perspectivas individuais do futuro do combate à corrupção no Brasil e você vai receber uma análise completa nossa sobre esse tema”, escreveu em e-mail, conforme registrou o jornalista Rafael Moro Martins, em seu Twitter.

Na internet, circula a publicidade do curso que tem Dallagnol como chamariz. Na peça, a empresa dos ex-procuradores se apresenta nestes termos: 

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"A ComplyApp oferece cursos e treinamentos completos na área de justiça, cidadania, anticorrupção, lavagem de dinheiro, compliance, liderança, ética e integridade, ministrados por professores com formação e reconhecimento internacional nas suas áreas de ensino. Nossos professores passaram por instituições como Harvard, Cornell, Lava Jato, MPF, Escola Superior do Ministério Público da União, PUCRS Online e buscamos compartilhar com nossos alunos todo o conhecimento adquirido em anos de experiência.”

Em dezembro de 2018, em um chat com o agora sócio Carlos Fernando dos Santos Lima, na época procurador no pleno exercício da função, Deltan foi ríspido ao comentar sobre seu plano de expansão de palestras remuneradas. A conversa se tornaria pública sete meses depois, quando o Intercept divulgou parte das mensagens acessadas pelo hacker Walter Delgatti Neto.

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“Estou a favor de maior autonomia, mas não me encham o saco, pra usar sua expressão, a respeito de como uso meu tempo. To me ferrando de trabalhar”, afirmou (sic).

Em fevereiro de 2019, em um chat com outro procurador, Roberson Pozzobon, que ele chama de Robito, e as respectivas esposas, Deltan Dallagnol discutiu a formação de uma empresa de palestras e uma forma de burlar a norma que proíbe integrantes do Ministério Público de gerenciar negócios privados.

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“Só vamos ter que separar as tratativas de coordenação pedagógica do curso que podem ser minhas e do Robito e as tratativas gerenciais que precisam ser de Vcs duas, por questão legal”, escreveu.

Sobre a possibilidade da fraude ser investigada, Robito respondeu: “Se chegarem nesse grau de verificação é pq o negócio ficou lucrativo mesmo rsrsrs. Que veeeenham”.

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Formalmente, Roberson Pozzobon não integra a empresa aberta há seis meses por Deltan Dallagnol e Carlos Fernando dos Santos Lima, responsável pela gerência da sociedade. O procurador que aparentemente era crítico das palestras realizadas por Deltan Dallagnol se tornou sócio. O que era entusiasta ficou fora. Deve ser difícil fazer negócio com Deltan Dallagnol.

No mesmo conjunto de mensagens acessadas por Delgatti, há outra em que o então coordenador da Lava Jato contabiliza seus lucros à atividade paralela à de procurador em 2018, mas só possíveis em razão da notoriedade adquirida como agente público.

“Se tudo der certo nas palestras, vai entrar ainda uns 100k limpos até o fim do ano. Total líquido das palestras e livros daria uns 400k. Total de 40 aulas/palestras. Média de 10k limpo”, disse o procurador. Em 2016, Dallagnol havia recebido R$ 219 mil com as palestras.

Não há, aparentemente, nenhuma ilegalidade na criação e manutenção da empresa com Carlos Fernando dos Santos Lima, excluída a hipótese de que empresas desse tipo podem ser usadas também para esquentar dinheiro. O que fica fora de qualquer dúvida é que a campanha do suposto combate à corrupção, que recebeu a chancela “Lava Jato”, foi uma grande oportunidade de negócio para ele.

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Ontem publiquei a notícia de que Sergio Moro, parceiro de Deltan Dallagnol na Lava Jato, foi a uma festa com um calçado caro, da marca Ermenegildo Zegna, que custa R$ 7,5 mil em seu modelo mais barato. O juiz, considerado parcial pelo Supremo Tribunal Federal, contestou a notícia e postou foto de um par de sapatênis Adidas e afirmou que era esse o modelo que usava.

Estranho que ele não tenha também contestado outros dois aspectos da vida de rico que sua família tem levado desde que abandonou a magistratura e o governo Bolsonaro: o aluguel da casa em Georgetown, Washington, no valor de R$ 50 mil por mês e um acessório que sua esposa usou em uma das festas de que participaram desde que Moro ficou famoso com a Lava Jato, a bolsa Botega Venetta, de R$ 15 mil. 

O sapatênis é um detalhe, como a bolsa, mas não irrelevante. Como diz o ditado alemão: “O diabo mora nos detalhes”. E veste Prada.

 

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