Celso Raeder avatar

Celso Raeder

Jornalista e publicitário, trabalhou no Última Hora e Jornal do Brasil, é sócio-diretor da WCriativa Marketing e Comunicação

102 artigos

HOME > blog

Balizas sólidas para a democracia? kkkkk

"Como é possível a construção de uma barreira de proteção à nossa frágil democracia, tendo como alicerces Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Artur Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal, que afiançaram a deposição da presidente Dilma, mesmo sabedores de que crime algum tinha sido cometido por ela?"

Confesso que agora me assustei. Até hoje levei na galhofa as fanfarronices de Jair Bolsonaro, com suas ameaças de melar as eleições e assumir de vez sua faceta de ditador, apoiado por um bando de fardados que não aceitam a exposição pública dos crimes que, eventualmente, alguns de seus colegas possam ter cometidos. O Brasil não é o Haiti, onde partidos disputam o poder contando com milicianos armados, distribuindo mortes e miséria para todo lado. Uma aventura dessa natureza, de cara, seria repudiada pelos EUA, China e Comunidade Europeia. Banqueiros e a turma da Fiesp também não ganhariam nada num país controlado por bandidos, ainda tomando como exemplo o flagelo haitiano. Por tudo isso, nunca perdi o sono por causa das bravatas motociclisticas daquele que é o responsável direto pela morte de mais de meio milhão de brasileiros. 

Ontem, no entanto, acendeu o sinal de alerta para um possível Plano B para a realização de um golpe político covarde, costurado entre os três poderes da República, fruto daquilo que o presidente do STF, Luiz Lux, anunciou como “balizas sólidas para a democracia”. Ora bolas! Como é possível a construção de uma barreira de proteção à nossa frágil democracia, tendo como alicerces Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara, Artur Lira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal, que afiançaram a deposição da presidente Dilma, mesmo sabedores de que crime algum tinha sido cometido por ela?  

Não existem altruísmo e espírito público neste triunvirato, onde a Constituição vem sendo reiteradamente desrespeitada em seus princípios e vontades. Em que artigo, em que parágrafo ou inciso consta, na Carta Magna, a possibilidade de discussão de mudança de sistema de governo, instituindo-se um sistema de governo semipresidencialista, só por que os bonitões não vão com a cara do Lula? E a vontade do povo? E o princípio fundamental de que “todo poder emana do povo”? Onde está o respeito às regras do jogo, sobretudo num cenário em que a maioria do povo brasileiro já decidiu a quem entregar os destinos da nação, um ano antes das eleições?

Balizas sólidas para a democracia não se constroem em reuniões de portas fechadas, entre personagens que, em vários momentos, deixaram dúvidas sobre seus compromissos republicanos. Que solidez democrática se pode esperar de um Congresso que senta em cima de pilhas de requerimentos de instauração do impeachment de Jair Bolsonaro? Na mesma entrevista em que prometeu as tais “balizas sólidas para a democracia”, Luiz Lux afirmou que Bolsonaro pediu perdão pelos ataques ao STF, e que viu sinceridade em suas palavras, já que o presidente “ora diuturnamente”. 

O advérbio de diuturno só pode ser afiançado por quem desfruta de estreita relação de proximidade com a outra parte. Pois só assim seria possível afirmar que o presidente dedica boa parte do seu dia a orações. Esse é um lado do Jair totalmente desconhecido para o povo, que só o vê vociferando palavrões, ofensas, discursos de ódio, inclusive sobre o STF. Da boca do presidente quem verbaliza é o anticristo, 24 horas por dia. 

Se não vejo sinceridade objetiva na construção dessas tais balizas sólidas para a democracia, na forma como está sendo proposta, a ideia até que não deixa de ser interessante. Que tal ampliar o leque da representação da sociedade neste debate? Vamos chamar a OAB, a UNE, as Centrais Sindicais, a FIESP, a CNBB, entre outras entidades para construir essas balizas? Sem participação popular não há que se falar em democracia. Ainda mais quando este valor, tão grato e que custou enormes sacrifícios à minha geração, tem o seu destino nas mãos de tão poucos. E quando poucos decidem mudar as regras do jogo – se é isso mesmo o que está em curso -, só existe uma palavra para definir o que está porvir: GOLPE!

 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.