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Nanete Neves

Jornalista e escritora. Depois de uma longa carreira no jornalismo, hoje vive de escrever, editar e ministrar oficinas, além de atuar como editora, leitora crítica e preparadora de originais. É autora do ebook paradidádico Transforme sua vida em livro (2020, Amazon Kindle) e de vários outros livros

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Batedores da PM protegem playboys e estapeiam a sociedade

Há muito que a PM tem mostrado não saber bem qual o seu papel. Mas para nós, que presenciamos o "espetáculo das motos" no último sábado, ficou bem claro qual é o papel que querem nos impingir nesse teatro sórdido: o de bobos que aplaudem sempre as estrepolias da corte

Há muito que a PM tem mostrado não saber bem qual o seu papel. Mas para nós, que presenciamos o "espetáculo das motos" no último sábado, ficou bem claro qual é o papel que querem nos impingir nesse teatro sórdido: o de bobos que aplaudem sempre as estrepolias da corte (Foto: Nanete Neves)
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Sábado passado, eram 15h30 quando eu saía da FNAC e, pensando em assistir a um filme, preparava-me para atravessar a avenida Paulista. Na agitação natural daquele cartão postal da cidade, de repente passaram dois policiais militares de moto com a sirene ligada em alto volume, mas estranhamente avançavam em ritmo lento na pista sentido rua da Consolação. Mais alguns segundos, e dois carros da PM funcionavam como batedores para uma cena bizarra: centenas de motos de luxo, Harley Davidson pra cima, zunindo de tão brilhantes, vinham devagar, aglomeradas, ocupando cerca de dois quarteirões da avenida. Fechando a "apresentação", cerca de uns 20 bitrens (ou cavalo mecânico) – aquela parte da frente das carretas – novíssimos e em cores fortes.

Logo se viu, de cara, que não eram motoboys trabalhadores. Tratava-se de uma farra. Os "pilotos" sorriam seus dentes branco-clareamento, exibiam as roupas de couro, as máquinas milionárias e suas acompanhantes na garupa, todas de visual bem-cuidado e de grifes valorizadas, sacudindo echarpes verde-amarelas ou bandeiras do Brasil e olhavam para a plateia esperando aprovação. Para potencializar o prazer visível, buzinavam e aceleravam produzindo um barulho quase insuportável com seus escapamentos poderosos. E os pedestres nas calçadas, incrédulos, não sabiam o que pensar.

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It's show time!

Provavelmente empresários bem-sucedidos, agroboys e/ou herdeiros, eles pediam pelo fim deste governo naquele tipo de alegria quase infantil que se tem quando se sobe num palco, com a certeza do privilégio – desde sempre para eles garantido – de que seus filhos e parentes nunca precisarão batalhar por um PROUNI para poderem cursar uma faculdade, nunca precisarão ingressar no Sistema Único de Saúde, lutar por um pedacinho de terra para cultivar ou uma bolsa que garanta o alimento básico da família. Não, o futuro deles e os de seus descendentes já está garantidíssimo.

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E então fiquei me perguntando: essa fatia já tão guarnecida de tantas regalias precisaria ainda de contar com o "auxílio luxuoso" da PM lhe fazendo escolta? Do que eles afinal tinham medo? Que lhes roubassem as motos? E mais, comecei a refletir. Seria esse o papel da Polícia Militar? A mesma PM de São Paulo que, dia destes, ao ser chamada para atender um caso que envolvia gritos e agressões entre dois grupos - um pró-impeachment que foi à porta da PUC atrapalhar as aulas com provocações, e outro, dos alunos contra o golpe - , agrediu unicamente os alunos, como se tivessem sido eles, que estavam em sua casa, a iniciar o tumulto. A mesma PM que cada dia mais mata jovens negros e pobres nas periferias agora tem como função proteger jovens mauricinhos de agitações por eles mesmos provocadas? A PM de agora é paga para por nós para fazer a segurança da elite golpista?

Há muito que a PM tem mostrado não saber bem qual o seu papel. Mas para nós, que presenciamos o "espetáculo das motos" no último sábado, ficou bem claro qual é o papel que querem nos impingir nesse teatro sórdido: o de bobos que aplaudem sempre as estrepolias da corte.

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Passado o cortejo, desisti do filme e voltei pra casa. O incômodo era demais.

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