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Marcus Atalla

Graduação em Imagem e Som - UFSCAR, graduação em Direito - USF. Especialização em Jornalismo - FDA, especialização em Jornalismo Investigativo - FMU

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Bernie Sanders e Henry Wallace: políticos progressistas e a pseudo-democracia estadunidense

Será que o país que se autointitula baluarte da democracia agora permitirá a eleição de um presidente progressista, com uma política oposta à que vem sendo adotada nos últimos 80 anos?

Bernie Sanders diz que irá legalizar a maconha. (Foto: REUTERS/Randall Hill)
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O jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar costuma dizer, em seus programas na Tv247, que Bernie Sanders não tem chances de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Não por falta de votos (as últimas pesquisas mostram que Sanders tem chances reais de vencer Trump em 2020), mas porque a máquina dos Clinton dentro do Partido Democrata e a elite bilionária estadunidense não permitirão.

As primárias do Partido Democrata, ocorrida há algumas semanas passadas, em Iowa, causou polêmica. Relatos iniciais indicou erros prejudiciais a Sanders, em favor de Pete Buttigieg. Após a suspensão dos resultados oficiais, causada por falha no aplicativo que realizou a contagem de votos, diversas inconsistências foram demonstradas. Há votos computados ao candidato Patrick Deval que pertenciam a Sanders e outros de Elizabeth Warren registrados em nome de Tom Steyer, por exemplo.

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O aplicativo foi escolhido de forma pouco transparente pelo comitê regional. A desenvolvedora do app, Shadow Inc., é uma Subsidiaria da empresa Acronym e foi fundada por veteranos da campanha de Hillary Clinton. Além disso, tem como uma de suas fundadoras e chefe executiva a esposa de Michael Halle, um dos estrategistas da campanha de Pette Buttigieg.

As políticas defendidas por Sanders e os fatos recentes nos permitem comparar as primárias democratas de 2020 com Henry A. Wallace e as prévias do Partido Democrata de Chicago, em 1944.

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Henry Wallace e as eleições que mudaram o mundo

O cineasta Oliver Stone produziu uma série documental intitulada ”A História não Contada dos Estados Unidos”, baseada no livro de mesmo nome que escreveu a quatro mãos com o historiador Peter Kuznick. No primeiro episódio, Stone revela que seu objetivo é contar histórias sobre fatos e personalidades que são deixados de lado dos livros escolares, pessoas esquecidas por não terem se submetido, nem se conformado. Pessoas como Henry Wallace.

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Henry A. Wallace foi um político progressista e pacifista. Nos dois primeiros mandatos de Roosevelt (1933-41), foi Secretário da Agricultura, e um dos principais responsáveis pela política do New Deal, de combate à grande depressão. Ele instituiu subsídios à agricultura, conservação do solo e uso da terra, e nas cidades implantou o auxílio alimentação às pessoas necessitadas e merenda escolar aos estudantes.

Wallace defendia a igualdade de remuneração independente de sexo e etnia, o fim do colonialismo, era contra o imperialismo militar e econômico, conclamava a população do mundo por uma revolução mundial popular. Para ele, o século XX seria o século do homem comum. Mais tarde, veio a defender que houvesse uma conciliação com a URSS, foi contra a Guerra Fria e a favor do fim do monopólio da bomba atômica pelos EUA.

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Ao concorrer para seu terceiro mandato, Roosevelt escolheu Wallace como seu vice-presidente. Os líderes democratas, que temiam as ideias progressistas de Wallace, fizeram o possível para impedir. Roosevelt, então, ameaçou abandonar a candidatura caso Wallace não fosse aceito como vice, o que fez o partido democrata aceitar a indicação. Ambos foram eleitos em 1940.

Em 1944, Roosevelt concorreu ao seu quarto mandato, já com a saúde bastante debilitada. Por isso, alguns acreditavam que ele não conseguiria terminar o mandato. Apesar da pesquisa Gallup indicar Wallace como o segundo homem mais popular dos EUA, atrás apenas de Roosevelt, com 57% da aprovação entre os eleitores democratas, eles não conseguiram emplacar Wallace novamente como vice.

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Como a oposição dentro do partido era alta, foi realizada uma convenção em Chicago para a escolha do vice. No dia da Convenção, Wallace aparecia com 65% dos votos, Byrnes, 3% e Truman, 2%. A vitória de Wallace era considerada certa, mas os líderes do partido exigiram que o presidente da convenção suspendesse a sessão até o dia seguinte.

Naquela noite, por meio de negociações, promessas de cargos, embaixadas e subornos, as forças democratas se juntaram em torno de Truman. No dia seguinte, para a surpresa de todos, durante a convenção foi anunciado não ser mais aceita a indicação de novos candidatos (similar as manobras de hoje, mas ao invés da retirada das candidaturas de Bloomberg e Buttigieg concentrando os votos em Joe Biden, foi impendida novas candidaturas para unificar os votos em Truman).

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Delegados que antes apoiavam Wallace retiraram seus votos e outros tantos mudaram em favor de Truman. Pouco a pouco, a diferença entre os candidatos mudou e Truman foi eleito na chapa como vice.

No início de 1945, com a morte de Roosevelt, Truman toma posse como Presidente dos EUA. Em seu governo, iniciou a Guerra Fria, criou a CIA, manteve um Estado militarista e incentivou o Macarthismo.

Em 1948, Henry Wallace concorreu à presidência pelo Partido Progressista. Vítima de fake news, chamado de antipatriótico e defensor de comunistas, obteve menos de 3% dos votos, encerrando sua carreira política.

De volta aos dias atuais

A Convenção do Partido Democrata em Iowa somada à Super Terça ainda não são decisivas como a de Chicago, em 1944. Outras prévias virão. Mas o sempre bem informado Pepe Escobar alerta que ocorre uma campanha de fake news contra Sanders, com todo o tipo de acusações, e que isso vem de dentro do próprio Partido Democrata.

O que nos levanta uma questão: será que o país que se autointitula baluarte da democracia (mesmo que sua própria história comprove o contrário, vide as eleições, no mínimo, suspeitas entre Bush e Al Gore, em 2000) agora permitirá a eleição de um presidente progressista, com uma política oposta à que vem sendo adotada nos últimos 80 anos?

E isso justamente em um momento em que os EUA vêm perdendo a hegemonia mundial e iniciam uma guerra fria com embargos econômicos, ataques midiáticos e jurídicos, desta vez contra a China, Rússia, Irã, Venezuela e qualquer país que seja considerado contrário aos seus interesses.

Há quase um século, em nome da democracia, o país responsável pelo maior número de refugiados da história da humanidade vem causando guerras, destruindo países, organizando golpes de Estado. Não se trata da democracia ou princípios. Se trata da “economia, estúpido!”, como disse James Carville, então assessor da campanha de Bill Clinton, em 1992.

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