Bernie Sanders – Um socialista americano

O americano é antes de tudo, um conservador. Guardadas as devidas proporções, a esquerda de lá, corresponde à socialdemocracia europeia que, no pós-liberalismo, anda se esfregando no muro da direita.

A eleição de Barack Obama em 2008 chegou rodeada de um imenso simbolismo, não só pela sua negritude, mas também, porque trazia embutido em seu discurso a esperança de avanços sociais e uma política externa progressista, que produziu inquietações no conservadorismo arteriosclerótico americano.

A eleição do primeiro presidente negro da história, fale-se a verdade, não veio por acaso. Insatisfações sociais, feito fogo de monturo, foi-se fermentando no país mais rico do planeta e atingiu seu apogeu no movimento do 'Occuppy Wall Street', onde se gritava "Somos os 99%," em referência aos 1% que concentravam metade da riqueza nacional.

De lá pra cá, chibancas neoliberais só fizeram escavar o buraco social que separa manifestantes de Manhattan, dos especuladores de Wall Street.

O candidato democrata Bernie Sanders que disputa as primárias com Hillary Clinton, promete com muito mais força e disposição do que Obama, jogar muita areia naquele fosso.

Com um discurso que anda assustando a oligarquia financeira americana, mete um tapa na cara dos neoliberais, quando grita no palanque que vai aplicar US$ 1 trilhão em obras de infraestrutura, que poderiam, no curto prazo, gerar 13 milhões de novos empregos.

Em sua mensagem nas primárias de New Hampshire ( aplicou uma goledada em Hillary), um Bernie descontraído, falava que sua campanha estava indo muito bem, porque "tratava a população americana como seres inteligentes". Aos que o acusam de radical ele responde: "Vamos trabalhar juntos pela educação em vez de aumentar prisões e encarceramentos." E vai muito mais além, quando fala com insistência em aumento importante do salário mínimo, educação gratuita e saúde pública ao alcance de todos ( 29 milhões de americanos não tem acesso ao sistema de saúde) E, suprema ousadia: vai aumentar impostos dos mais ricos!

Quando questionado se o país teria condições de oferecer educação e saúde gratuitas como na maioria dos países, ele lembra dos trilhões de dólares que escorregam para o bolso dos mais ricos, determinando queda do salário médio do trabalhador. Nessa brincadeira, 58% de todos os novos rendimentos vão parar na conta bancária daqueles 1%, que já ficam com quase tudo.

Enquanto a direitona acusa o senador por Vermont de radical e utópico, ele retruca se dizendo seguidor das políticas de Franklin D. Roosevelt, que investiu em obras públicas, deu a mão aos pobres e introduziu reformas para retirar o país da Grande Depressão.
Ele próprio, se diz um socialista democrático.

Muitas palmas e muitos votos para o socialista americano Bernie Sanders.