Bituca, o herói do Brasil profundo
A história de Milton é metáfora do que a vida tem de mais valioso, expressão pura de amor, beleza e ética
O filme Bituca é um sopro, melhor, um soco na alma - libelo de poesia musicada exalando encanto, emoção, identidade, intensidade, genialidade, paixão.
Milton finca o coração no chão de Minas e do Brasil e sai apitando entre montanhas, trilhos, rios e mares. É sal que tempera as angústias de um viver fundado nas entranhas. O trem de Bituca expande pelo mundo atado à sua origem.
A história de Milton é metáfora do que a vida tem de mais valioso, expressão pura de amor, beleza e ética. História que rompe com o racismo e dá salto à cultura. É exemplo de vida registrada por pessoas de profunda grandeza marcadas pelo manto da generosidade e que apostavam na música a salvação de sua existência.
A mãe adotiva que fez do guri negro, beiçudo, bicudo seu lema de vida - educá-lo na música.
A negritude, detalhe que apenas serviu para fazer brilhar ainda mais os olhos esbugalhados que jorram arte, sensibilidade, harmonia, sintonia, sinfonia.
Milton transcende e bate na aorta de todos nós com Maria Maria e nos ensina que amigos se guardam sob sete chaves. Milton transborda brasilidade, um Brasil que muitos desconhecem. Infelizmente somos o lado obscuro de nossa grandeza, ainda não navegamos em nossas águas profundas.
Poucas famílias possuem a honradez de adotar um menino negro e criá-lo com o mesmo carinho e respeito de um filho biológico.
O filme nos transporta para shows que passam ao ato - penetram imprimindo uma emoção autêntica - sensação de que tudo ali é verdade, é natureza, é vida extrapolando por todos os lados.
Milton é o nascimento da beleza trágica que se refaz em epifania.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

