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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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Bolívia acende o sinal de alerta para o Brasil

Definitivamente, este não foi um golpe suave, mas de tipo forte, com aplicação de violência explícita, contando com a polícia e as Forças Armadas. Novamente, os Estados Unidos deixaram as suas digitais

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Há escassos minutos deste dia 10 de novembro de 2019 o legítimo e legalmente eleito Presidente Evo Morales e o seu vice-Presidente Álvaro García Linera realizaram manifestação pública com transmissão por poucos veículos informando que estavam a renunciar aos seus respectivos mandatos. O teor desta renúncia deve ser analisado mais cuidadosamente nestas próximas horas e dias, e tendo em conta os últimos tempos é um esforço nada recente por derrotar ao regime popular boliviano cujas articulações do império norte-americano associado com a elite nacional são conhecidas, assim como ocorre ao longo da história da América Latina sob os tempos do império.

Em face à crise a administração democrática de Evo Morales ainda ofereceu à oposição a realização de novas eleições. Sem embargo, o temor de uma nova e acachapante derrota levou os golpistas a assumir publicamente a sua face: optaram pelo regime de força. E nada mais do que ascender ao poder os seus detentores deixam conhecer os seus métodos com ações de extrema violência contra políticos e até mesmo parentes de autoridades do Governo, Evo Morales, a quem não se poupou seque a sua própria irmã, que teve a casa incendiada. Definitivamente, este não foi um golpe suave, mas de tipo forte, com aplicação de violência explícita, contando com a polícia e as Forças Armadas. Novamente, os Estados Unidos deixaram as suas digitais.

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Este cenário boliviano deveria ser claramente compreendido pelo campo progressista brasileiro, pois o golpe de Estado contra Evo Morales foi a decidida resposta do imperialismo norte-americano para o resultado das urnas que não lhe interessam. Foi também uma resposta a sua perda eleitoral na Argentina, à resistência vitoriosa de Maduro na Venezuela, e também, em certa medida, à derrota no México imposta pelo moderado López Obrador, mas não menos à deterioração explícita de seus prepostos ideológicos Lenin Moreno no Equador e Sebastián Piñera, no Chile, onde o sangue de tantos e tantos manifestantes agora serviu para finalmente assinar em sua folha de serviços a pecha de ditador, herdeiro dos piores dias de Pinochet de cujo arcabouço alegremente aproveitou e conviveu com seu irmão à testa.

Agora, quando era afirmada a vitória eleitoral de Evo Morales na Bolívia, então, tratou-se de variável insuportável para a política externa norte-americana, posto que vinha a marcar fortemente um processo de reconfiguração e retomada do fôlego por parte da esquerda latino-americana a qual se soma Lula nas ruas, um outro desagrado e perigo, também para a sua garantia física. Historicamente sabemos que o império não mede meios nem instrumentos para assegurar os seus interesses econômicos. Hoje na Bolívia apenas assistimos os desdobramentos de mais um capítulo das ações norte-americanas na América Latina, história prenhe de patrocínio a elites golpistas de governos populares, extensíssima ficha de desserviços prestados, do qual um exemplo mais foi o golpe de Estado de 2016 contra a democracia brasileira sob a legítima administração de Dilma Rousseff cuja continuidade foi a interdição da virtual candidatura vencedora de Lula em 2018, abrindo as portas para um modelo de extrema direita cuja indiferença com a sua gente se expressa na tentativa de destruição do Estado que serve justamente às necessidades dos mais pobres.

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É de extrema importância que o Partido dos Trabalhadores e demais setores progressistas dediquem imediata atenção e compreendam adequadamente a lição imposta pelas forças que golpearam o legítimo governo popular de Evo Morales e viabilizaram o acesso da extrema direita boliviana e seus recursos teológicos ao poder. Um primeiro aspecto que a esquerda brasileira deve compreender é que o calendário eleitoral de 2022 é apenas uma longínqua promessa em grande parte condicionada pelo resultado das eleições de 2020. Assim, acaso seja finalmente mantido o calendário eleitoral de 2022, então, o resultado das urnas só será aceito se for favorável a extrema direita e seu aparelho militar.

É de extrema prudência que o campo progressista brasileiro desista da pré-compreensão, hoje bastante disseminada, de que teremos eleições presidenciais em 2022. Sem embargo, mesmo que elas ocorram teremos duas consequências: (a) não há qualquer garantia de que o resultado seja respeitado, senão o contrário é para apontam todas as indicações ideológicas, das práticas políticas e do perfil de seus atores; (b) mas se em qualquer caso, por inviabilidade história inantecipável neste momento, resultar impossível interditar o acesso ao poder por parte dos vencedores populares, isto sim, o mandato concedido será dificilmente exercido, por dizê-lo de algum modo, de sorte a desgastar o campo progressista e desviá-lo do cumprimento de seu programa eleitoral. Para tanto estarão disponíveis as melhores manobras parlamentares, a banca, a mídia e o poder togado sob a garantia das Forças Armadas que, até uma profunda reforma, não deixará de estar a postos para apoiar golpes de Estado que recoloquem no poder a direita ou a extrema direita alinhada com os interesses norte-americanos, independentemente de quão profundas e benévolas tenham sido as políticas públicas aplicadas pelo campo progressista em benefício até mesmo para as Forças Armadas.

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Os próximos passos que devem ser dados na Bolívia serão de corte neoliberal comprometidos profundamente com o extermínio de sua gente, quer de forma implícita (cortes de políticas sociais) ou explícita (assassinatos de lideranças populares), sendo estas últimas similares ao tipo de medidas tomadas no Chile por Pinochet e mais recentemente a mescla de ambas no Brasil sob a administração de Guedes e seus prepostos políticos. Assim como em todos os golpes latino-americanos, o golpe tem apenas uma razão: a apropriação das riquezas do Estado, evitando que o orçamento seja composto a partir dos interesses da população.

O golpe de Estado contra Evo Morales e o povo boliviano não foge à regra, pois foi concretizado pela prata e o estanho, é pela apropriação do petróleo e do gás, é pelo zinco e demais riquezas agropecuárias que serão apropriadas a baixíssimo preço cuja entrega será coordena pelos traidores da nação, elite caucasiana descendente dos violentos colonizadores sempre disposta a entregar estas riquezas, agindo como corretores cobrando baixo preço pela entrega do que não lhes pertence e hipotecando o futuro de toda uma nação. É, em suma, por apropriar-se das riquezas de nações ricas como as latino-americanas que o imperialismo e suas empresas-abutres manobram, manipulam e conspiram, indiferentes a manutenção de uma massa na condição de pobreza ou miserabilidade, indiferentes a que as suas ações sejam uma clara transgressão do ponto de vista do Direito Internacional Público, pois representam uma interferência ilegal na soberania de outro povo,

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O que deveremos assistir nos próximos dias serão aparições de obscuras figuras militares a tentar justificar o inaceitável. Os condutores do golpe de Estado virão a público responsabilizar os governantes populares por problemas que o Estado enfrente, mobilizando ódios para galvanizar forças contra inimigos públicos inexistentes para além deles próprios. Esta é estratégia para aglutinar alguma dose de legitimidade para sustentar o regime que, sem embargo, não dispensará o uso extremo da violência e da força contra aqueles que foram adversários políticos recentemente no processo eleitoral, mas que agora serão reclassificados como inimigos. Nesta condição muitos serão perseguidos e tantos outros serão mortos à semelhança do regime chileno, cujo grau de violência deverá oscilar entre o originário de Pinochet de 1973 e o de Piñera destes dias, para quem a manutenção do poder a qualquer preço é tudo quanto interessa.

Durante o seu discurso de renúncia Evo Morales e Álvaro Garcia Linera pediram sucessivas vezes para que o novo regime não perseguisse os bolivianos: vã esperança. O que realmente está em causa e precisa ser entendido pelo campo progressista é que o exemplo da Bolívia deixa claro que o enfrentamento não é mais evitável. O líder indígena é intragável para a elite caucasiana, tanto quanto o líder venezuelano nacionalista o foi, assim como o trabalhador imigrante brasileiro. Nenhum deles pode ser aceito tanto por suas origens como pelo futuro que desenham para retirar a sua pobre gente da miséria em países ricas onde a pobreza é mera construção social da elite que perdeu a vergonha da hipocrisia e o constrangimento de ser violenta.

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Neste diapasão, não há concessão possível, pois no DNA do fascismo travestido de neoliberalismo encontra-se a disposição para sangrar a íntegra da população de um país. O sangramento da população faz parte da própria lógica desta nova versão neoliberal de corte eminentemente fascista, e quanto mais tardemos em compreender esta natureza do regime, e agir conforme esta lógica, tão somente teremos perdido tempo para reagir na medida certa, e assim não apenas prevenir ainda outros radicais retrocessos como fixar as condições de possibilidade para reverter o tempo de avanço indômito de abusos e violências.

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