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Wilson Ramos Filho

Jurista, professor e escritor

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Bolsonarizaram-nos

O jurista Wilson Ramos Filho afirma que o país se 'bolsonarizou' e que para reverter esse quadro, a luta clássica do segmento progressista não será suficiente; ele diz "o estrago produzido pela utilização dos big data na formação desse senso-comum talvez só possa ser debelado no mesmo campo, ou seja, por intermédio das ferramentas de marketing de precisão, ou seja, dos big data. Mas com qual utopia? Com qual alternativa de maneira de existir em sociedade?"

Bolsonarizaram-nos (Foto: Marcos Corrêa/PR)
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O resultado eleitoral de 2018 é um indicativo eloquente do senso comum que bolsonarizou o país. As pessoas passaram a acreditar na maneira bolsonara de existir.

Isso não mudará com passeatas, atos públicos, panfletagem e carros de som. Quem acredita em cobra que fala, em andar sobre as águas, é capaz de acreditar que o PT é comunista, em kit gay, em mamadeira fálica, em déficit da previdência, nas privatizações e em armar a população. Quem acredita nos mitos esotéricos é capaz de acreditar em qualquer coisa, em qualquer Coiso, em qualquer Mito.

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Constituíram um senso comum que aparentemente resiste à crítica formulada com os instrumentos de luta engendrados depois da Segunda Guerra. Nos últimos 70 anos se construiu, como proposta normativa de convivência social, o Estado Democrático de Direito como projeto de sociabilidade (como maneira de existir; ainda que como mito). As formas de luta social características deste período tornaram-se ineficazes na atualidade. O novo senso comum blindou o capitalismo das críticas social-democratas. Estamos querendo pregar um prego na madeira usando um alicate ou o salto de um sapato. O prego até entra, depois de muito esforço e determinação, mas a ferramenta é inadequada.

Fomos reconduzidos, desde o Golpe de 2016, à institucionalidade prévia a 1919.
As formas de luta que forçaram o capital a aceitar aquela domesticação seriam válidas hoje? A social-democracia foi historicamente a resultante da correlação de forças entre o capitalismo ultraliberal e o anticapitalismo.
Se reeditarmos esse embate, radicalizando-nos no anticapitalismo, a resultante, um século depois, seria a mesma?
Temo que, sem nos utilizarmos da ferramenta deles, dos big data, o resultado não necessariamente será equivalente. Mas que alternativa teríamos?

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Historicamente não foi a racionalização crítica que dificultou a capacidade analítica. Antes o contrário. Quem acredita em mitos que não resistem à razão, historicamente, são mais vulneráveis a outros mitos, a um Mito em particular. Essa é uma hipótese, a ser confrontada, obviamente, com a realidade.
Mas este também é um dos debates interditados. Há vários deles. Interditados pelo senso comum.

O desafio me parece ser saber como desconstruir o senso comum que se estabeleceu no Brasil, como desmistificá-lo, com que instrumentos e com qual utopia. Desconfio que o megafone e o panfleto, assim como os livros, não seriam as ferramentas mais eficientes. Mas está também é uma hipótese, a ser confrontada com a realidade.

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Existe hoje uma maneira bolsonara de existir. Essa se constituiu em senso comum.

A resiliência deste senso comum, apesar das “caneladas”, dos ministros histriônicos e dos Três Coisinhos, é desesperante. Não houve governo até agora, apenas destruição. E o povo segue acreditando.
Isso explica mais a desmobilização da cidadania do que eventuais erros nas táticas da esquerda.

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Segundo a pesquisa divulgada pela CUT/VOX POPULI, um em cada três brasileiros apoia a Reforma da Previdência que compromete o futuro de gerações. Esse dado diz mais do que o indicativo de que 2/3 consideram-na prejudicial aos trabalhadores. Quantos destes se mobilizariam contra ela? O que aconteceu na Reforma Trabalhista não se apresenta como perspectiva alvissareira.

O novo senso-comum, construído miticamente, interdita debates e condiciona pré-compreensões que o blindam das críticas.

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O estrago produzido pela utilização dos big data na formação desse senso-comum talvez só possa ser debelado no mesmo campo, ou seja, por intermédio das ferramentas de marketing de precisão, ou seja, dos big data. Mas com qual utopia? Com qual alternativa de maneira de existir em sociedade?

Temos mais perguntas que respostas. Todavia, apesar das interdições cognitivas, ainda podemos formulá-las. Não percamos essa oportunidade. Daqui a muito pouco tempo também o direito a formular perguntas nos será interditado. Nos proibirão, acusando-nos de heresia ou de apostasia, até de formular perguntas. A maneira bolsonara de existir, fundada em míticas certezas, não pode conviver com a crítica.

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