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Roberto Bueno

Professor universitário, doutor em Filosofia do Direito (UFPR) e mestre em Filosofia (Universidade Federal do Ceará / UFC)

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Bolsonaro, a extrema-direita e a falsificação "centrista" radical

A extrema-direita precisa recriar a sua nova imagem pública, e as sucessivas deserções e declarados arrependimentos públicos de diversos atores políticos absolutamente comprometidos com a ascensão e final eleição de Bolsonaro são reveladores de que a extrema-direita busca reposicionar-se em outro espaço no espectro político sob as vestes de centro-direita

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O Governo Bolsonaro radicaliza em seu projeto de extrema-direita mas isto pode levar a algumas más compreensões do real plano político em questão. O atual Governo Bolsonaro já não exerce funções senão de iure, lógica à qual a política não se submete, cabendo analisar sob qual dinâmica ele ainda continua a operar. Escrevi há cerca de dez dias sobre este processo de substituição do Presidente de direito pelo Presidente de facto, que exerce a regência sobre a Presidência, e desde então trata-se apenas de reafirmação desta análise. O efetivo poder é exercido por um grupo fardado de generais encarnado na figura do Gen. Braga Netto (que não sabe apenas onde está Queiroz), origem das coordenadas para as ações presidenciais nucleares, cujo sentido é o de aplainar o terreno para o melhor desempenho no poder quando a direita radical nele venha a se instalar.

Para compreender o sentido desta análise é preciso retornar um pouco no tempo e recordar que a direita radical tão bem reconhecível através de suas políticas de segurança pública e de sua deletéria política econômica, mas historicamente disfarçada de centro-direita “civilizada”, e que foi triturada nas últimas eleições de 2018. A insatisfação com a exposição crua da face extremista da direita através das ações do atual governo leva a amplos setores desta direita a expor as fricções internas do grupo, e assim a busca de uma cirurgia plástica que diferencie estes segmentos dissidentes, visando o êxito no próximo processo eleitoral, e daí o movimento de dedicar-se a fazer a direita renascer das cinzas e sepultar um emergente modelo de poder teocrático-fascista que não agrada apenas a setores das Forças Armadas como do capital que lhe apoia.  

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Quando Bolsonaro radicaliza em todas as suas ações, não há um desconcerto, mas um concerto de ações e projetos, salvo eventuais desvios do bufão que executa o papel. Ele desempenha papel de realinhar a imagem da direita radical em posição centrista e moderada, e aqui está a razão de sua radicalização, sendo um mero ganho eventual traduzível na reconfiguração da ordem em uma ditadura formal. Sem este atalho, segue o projeto de forjar uma imagem de contenção e prudência que a direita radical ultraconservadora brasileira nunca teve, ou será que já esquecemos os festejos de Reinaldo Azevedo quando a PM paulista disparou e cegou manifestantes na era Temer sob a coordenação do então Secretário de Segurança Pública, e hoje Ministro do STF (ascensão meteórica sob Temer após esclarecer o obscuro caso do “roubo” do telefone da primeira-dama) Alexandre de Moraes? Certamente aqueles que foram cegados não podem ser alvo de nosso esquecimento. Teremos esquecido as ordens do sr. João Agripino Dória, então Prefeito de São Paulo – hoje Governador com aspirações presidenciais –, para que tratoristas demolissem prédios na Cracolândia com seres humanos dentro deles ou, ainda, de jogar água gelada em moradores de rua em pleno inverno paulistano? Quem já esqueceu que autoridades policiais paulistanas recolheram cobertores de moradores de rua em pleno inverno para levá-los a desocupar as ruas? Acaso estes homens já em idade adulta (quando não provecta) realizaram algum processo de conversão quando hoje se arrogam em “salvadores de vida” e “defensores dos direitos humanos”? Os exemplos de ataque aos direitos humanos por parte desta direita radical são múltiplos, são históricos, e não demandam um exercício mnemônico profundo para compreender quantos prejuízos humanos e estruturais já causou ao Brasil.

O movimento hoje realizado desde o núcleo duro do poder é o de falsificar a eternamente radical direita brasileira com ares de moderação, reconfigurando-a no imaginário político popular como opção de centro. É parte de projeto eleitoral para recuperar o território político da direita minado pela contaminante imagem de Bolsonaro e de seus apoiadores. Neste sentido é indispensável esclarecer que o Presidente tem hoje, no máximo, 30% da população que ainda o apoia de algum modo e com grau de adesão variável. E o que dizer dos outros 70% da população? Qual o tipo de projeto político que esta esmagadora maioria da população estaria disposta a sustentar em caso de polarização eleitoral como o apresentada nas últimas eleições de 2018? Certamente, em face de um governo disposto inclusive a matar abertamente os seus cidadãos, sugerimos que a tendência é de que este 70% do eleitorado aponte para outro caminho que não este assumido pela extrema-direita. Constatado o desastre eleitoral por pesquisas, qual seria o movimento da extrema-direita? Para que a extrema-direita sobreviva é preciso que a direita radical seja reabilitada, e a melhor via é que o seja sob a forma da imagem de contenção, disfarçada sob a pele palatável de cordeiro centrista e, sofisticação, que assegure maior legitimidade buscando apoio público em setores da esquerda, pois qual seria melhor “salvo-conduto” de construção pública de uma posição de moderação e equilíbrio centrista para a direita radical?

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Neste sentido o movimento de radicalização de Bolsonaro de destruição geral de políticas e instituições será uma constante, uma e outra vez, e assim o fará até o fim em face de sua missão de detonação nacional cujos interesses apenas se coadunam com as implementadas por forças de ocupação em tempos de guerra. Bolsonaro continuará esticando a corda sucessivas vezes, pois está a executar funções em modo de controle remoto por parte do setor dominante nas Forças Armadas que abandonou a defesa da soberania nacional sob a inércia dos dissidentes dentro das FA. Inversamente à percepção geral, o Presidente percorre esta via sem temer grandes riscos pessoais, e do ponto de vista do poder tampouco, pois já não é seu titular de facto, e se qualquer imprevisto ocorrer no trajeto, a força togada será acionada pelo controle militar para implementar a “saída Nixon” – o perdão –, algo que apenas reforçaria a lamentável disposição histórica brasileira para não enfrentar as questões decisivas de sua história e, assim, transpor umbrais e recriar as suas instituições segundo parâmetros civilizacionais qualitativamente superiores que entronizem os direitos humanos.

Nenhuma destas circunstâncias políticas de proteção aos direitos humanos e à soberania nacional e tudo quanto ela implica interessa para a extrema-direita que se alia tão somente a implementação dos interesses do império de ocupação nacional. Tergiversar a realidade de defesa dos interesses nacionais é um imperativo, e as forças até aqui comprometidas precisam ser libertadas e limpar a sua imagem desta conexão com a concretização deste projeto de destruição nacional. A extrema-direita precisa urgentemente recriar a sua nova imagem pública, e as sucessivas deserções e declarados arrependimentos públicos de diversos atores políticos absolutamente comprometidos com a ascensão e final eleição de Bolsonaro são reveladores de que a extrema-direita busca reposicionar-se em outro espaço no espectro político sob as vestes de centro-direita, e assim desmarcando-se do iminente desastre que pulverizará reputações públicas que pretendam ocupar algum espaço político que dependa do favor das urnas. A falsificação centrista da direita radical será passo decisivo para a hipótese de que ainda venhamos às urnas brevemente.

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