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Denise Assis

Jornalista e mestra em Comunicação pela UFJF. Trabalhou nos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Ex-assessora da presidência do BNDES, pesquisadora da Comissão Nacional da Verdade e CEV-Rio, autora de "Propaganda e cinema a serviço do golpe - 1962/1964" , "Imaculada" e "Claudio Guerra: Matar e Queimar".

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Bolsonaro articula, em casa, com direito a beija-mão

Moraes, o juiz com fama de durão, foi amolecendo e flexibilizando regras da domiciliar que tinha, a princípio, o condão de tirar Bolsonaro do circuito político

Jair Bolsonaro - 29/7/25 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Alexandre de Moraes não é um sujeito de esquerda. Foi levado ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Michel, depois de ter-lhe prestado um favor. O de devolver a D. Marcela, sua esposa “recatada, bela e do lar”, um celular que a levou ao desespero por ter caído em mãos alheias. Pode-se imaginar o que tanto a inquietou.

Moraes tem sido firme em suas decisões sobre os que atuaram pelo golpe de Estado em 2022. Desafiado inúmeras vezes por Jair Bolsonaro, (que parecia uma criança a testar o seu limite), não teve alternativa se não decretar a sua prisão, ainda que domiciliar. Não pelo processo da tentativa de golpe, mas por ser cúmplice do filho, Eduardo Bolsonaro, no trabalho contra o país, estando nos EUA, pago pelo nosso rico dinheirinho. Bolsonaro confessou para as câmeras de TV, que enviou R$ 2 milhões para Eduardo, a fim de contribuir com a sua estada e o seu trabalho de confabulações pelos corredores da Casa Branca.

A prisão provocou reação entre parlamentares que, liderados pelo filho mais velho de Jair, Flavio Bolsonaro, paralisaram os trabalhos no Congresso, com cenas tão ridículas quanto acintosas aos presidentes das duas casas.

Nesse ínterim, Moraes, o juiz com fama de durão, foi amolecendo e flexibilizando as regras da domiciliar que tinha, a princípio, o condão de tirar Jair do circuito político, proporcionando, enfim, ao país, um pouco de tranquilidade e umas férias de sua influência maléfica, suas falácias e malvadezas. (Mas não era para evitar a obstrução da Justiça?).

Jair que até então não poderia receber sequer os filhos – exceto Laura, a caçula, que mora na mesma casa -, passou a ter esse direito, graças a uma decisão de Moraes. Sem mais, o juiz permitiu visitas escalonadas e devidamente autorizadas, a presença dos filhos e um desfiar de políticos, incluindo nesse rol o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos – SP), a saber, o candidato a candidato à presidência, “afilhado” de Bolsonaro.

Ele é a opção da mídia para 2026, e levou vários comentaristas quase às lágrimas, com a atitude de aplaudir o tarifaço de Donald Trump, contra o Brasil – esse mesmo, que Tarcísio quer presidir. Nada que dois editoriais do Estadão, chamando-o à razão, não consertasse. Logo ele se reposicionou e andou organizando encontros para “negociar” com setores do empresariado afogado pelas tarifas, se continuasse no mesmo tom.

Mas o que teria mesmo levado Moraes a ir soltando as rédeas em favor de Bolsonaro? Recapitulando: Michel, o autor de Alexandre de Moraes no STF, é também o “bombeiro” de plantão, de Bolsonaro. Quando o calo aperta, Michel é convocado. É possível que tenha convencido Moraes a baixar a fervura do cenário político, permitindo tais facilidades, àquele que tem um só objetivo na vida: trabalhar sua volta ao cargo de que sempre reclamou. Preferia tomar um caldo de cana e comer um pastel do outro lado da rua, não se cansou de repetir. Tudo de mentirinha, não é mesmo?

Vai daí, que não é difícil imaginar uma conversa reservada de Michel com Moraes, para conceder o “entra e sai” da casa de Bolsonaro. De lá, da beira de sua piscina, Jair pode emanar tramas de toda espécie, sem ter que se deslocar país a fora, como vinha fazendo antes. Agora ganhou status. Todos o procuram para um beija-mão, com direito a notícias na mídia. Pode confabular à vontade, com nomes devidamente autorizados, sobre os rumos dos “escolhidos” para 2026. Desde que não o pressionem para deixar de querer a liberdade e uma nova candidatura. No fundo, sabe que a prisão definitiva – 40 anos, no mínimo -, está próxima. Talvez ali mesmo, na mansão do condomínio Solar de Brasília, onde já apresenta os sintomas de pânico: crise de soluços.

Aquela cena de Jair cercado de viaturas da Federal rumo às instalações da prisão, podem esquecer. Vai ser apenas mera formalidade. A leitura da sentença, imagens do portão do condomínio, e pronto. E a gente esperou tanto...

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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