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Bernardo Gomes

Estudante de Gestão Pública UFMG, assessor parlamentar, dirigente municipal do PCdoB em Contagem/MG

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Bolsonaro avança no autoritarismo porque a burguesia quis um tirano

O medo nunca foi Bolsonaro. A gente não deve temer os tiranos. Eles passam. Mas sim devemos temer uma sociedade tirana

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Bolsonaro, ao se omitir diante de agressões físicas a jornalistas, perpetradas diante dos seus olhos, e ao mandar jornalistas “calarem a boca”, ao mobilizar suas milícias contra os governadores e prefeitos, ao estimular um genocídio jogando a população contra o isolamento social, dá um golpe na democracia e acena com um governo apoiado diretamente na força.

O medo nunca foi Bolsonaro. A gente não deve temer os tiranos. Eles passam. Mas sim devemos temer uma sociedade tirana, por que o discurso autoritário uma vez autorizado e uma vez aceito se legitima e transforma o indivíduo cada vez mais refém do poder autocrático. O tirano molda a sociedade a sua imagem e semelhança. A aceitação ou não pela sociedade desse discurso define o modo e a duração dessa tirania.

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A questão é: o bolsonarismo já é maior que o próprio Bolsonaro, o discurso que está no centro do poder se espalha na sociedade e ganha terreno. Até quantos por cento ele encontra eco? O fato é que já era de se temer quando esse discurso encantava 15% a 17% da população antes da eleição. Hoje, certamente, cresceu esse percentual, uma vez que as posturas fascistóides vêm se consolidando no poder.

É isso que assusta, visto que uma parcela da sociedade se apresenta disposta a matar e morrer por um líder, um messias, disposta a praticar as piores barbaridades contemporâneas, a abdicar das leis da civilização moderna, a ponto de referendar valores autocráticos como “Eu sou a Constituição”, ou “olho por olho, dente por dente”. É como se a disputa entre Modernidade x Idade Média, a quebra sistemática dos paradigmas das sociedades monárquicas e feudais, tudo isso ainda não tivesse completado o seu ciclo. 

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Diante disto não poderíamos deixar de trazer para cena Karl Marx, as suas ideias e reflexões que continuam muito pertinentes na análise, partindo sempre do pressuposto que a história das sociedades continua sendo a história da luta de classes, com suas revoluções, contra-revoluções e intensa dialética. 

Na análise marxista, vale a pena ver de novo a obra clássica “O 18 Brumário de Luís Bonaparte”. Os aspectos do poder e a conjuntura na França da segunda metade do século XIX são muito parecidos com o Brasil de hoje, em pleno primeiro quarto do século XXI. Mais uma vez, em situação excepcional, o capital abre mão do seu poder político em troca da sua garantia econômica. Diante de situação adversa, os capitalistas não se importam de não exercer temporariamente o poder político se tiverem um tirano que lhes garanta seus rendimentos. 

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Ao analisar a crise vivida pelos franceses na segunda metade do século XIX depois da revolução de fevereiro de 1848 e a disputa pelo poder que surge entre as facções burguesas e monarquistas da Segunda República Francesa, Marx relata que só um aventureiro, um novo Napoleão, “pode salvar a sociedade burguesa; só o roubo pode salvar a propriedade; o perjúrio a religião; a bastardia a família; a desordem a ordem”. A eleição de Luís Bonaparte (Napoleão lll), em dezembro de 1848 na França, fez sucumbir a Constituição, a Assembleia Nacional, os partidos estabelecidos, a imprensa diária, toda literatura, os intelectuais de prestígio, o código civil e penal e os ideais da Revolução Burguesa. Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tudo isso desmoronou diante de uma suposta magia de um homem que não era reconhecido como mágico por seus adversários, mas sim uma figura política caricata. Foi como se o sufrágio universal tivesse feito seu último gesto de generosidade dizendo que tudo que havia sido construído até ali, até mesmo o próprio sufrágio universal, merecesse o fim.

Assim como no Brasil de hoje, a França daquela época vivia um momento que a “velha política” não dava conta de solucionar os desafios do seu tempo e o “verdadeiramente novo” não estava devidamente amadurecido para os novos desafios, daí a “única forma de governo possível num tempo em que a burguesia já tinha perdido a faculdade de governar a nação e a classe operária ainda não tinha adquirido”, o bonapartismo seria a opção possível na época, similar ao bolsonarismo do Brasil de hoje. 

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Luís Bonaparte, que foi eleito com 73% dos votos, deu um golpe e transformou a Segunda República Francesa em um Império se proclamando Napoleão lll. Apoiado pelos conservadores, pelos burgueses liberais que temiam as ideias do proletariado socialdemocrata e pelas forças armadas saudosas das glórias de guerra dos tempos do seu tio Napoleão, dissolveu a Assembleia Nacional, ganhou plenos poderes para editar uma nova Constituição e se declarou ditador por 10 anos. Pouco depois instituiu o Segundo Império francês e transformou-se em Imperador dos Franceses, estendendo seu reinado por 18 anos. O bonapartismo instaurou um Estado policial autoritário, perseguindo a oposição parlamentar e calando a imprensa. 

No Brasil, o impasse provocado pela crise política com as jornadas de junho de 2013, passando pelo golpe parlamentar de 2016, desembocou como única saída a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. A burguesia, uma vez mais, não conseguindo dirigir com seus plenos interesses a nação - após perder quatro eleições seguidas -, delega a um capataz aventureiro o governo, que na incapacidade de fazê-lo dentro das regras do jogo democrático, sinaliza utilizar, se necessário, punhos de ferro para sufocar as insatisfações populares, garantindo os lucros e os rendimentos aos capitalistas.

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É como se a eleição de Bolsonaro fizesse sucumbir a Constituição Federal de 1988, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, os partidos políticos tradicionais, a liberdade de imprensa, toda a literatura, as universidades e a ciência, o Estado Democrático de Direito e todo o pacto político-social construído pelo povo brasileiro após a Ditadura Militar, como se tudo isso desaparecesse diante de um mágico das fake news. Foi como se o direito ao voto conquistado na redemocratização, fosse exercido como golpe de misericórdia no jovem experimento democrático do Brasil.

Bolsonaro deseja dia e noite subverter a Constituição e a democracia para obter plenos poderes, avança no autoritarismo porque sente confiança que venceu as instituições da Nova República, avança porque encontrou a democracia em ruínas e tem o apoio da burguesia, dos conservadores e das Forças Armadas saudosas da Ditadura Militar.

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As mortes devido a pandemia do novo coronavírus não afetam Bolsonaro que aposta no caos e na desordem para colocar em marcha o seu golpe. Bolsonaro não paga o auxílio emergencial, induzindo o povo a sair do isolamento social e cair nos braços da morte. Bolsonaro segura os recursos de socorro aos estados e municípios para ver seus inimigos sangrando em praça pública. 

Não por acaso esta semana Bolsonaro citou Napoleão em uma conversa com a imprensa, ele disse: “Olha só. Tem uma máxima do Napoleão dizendo mais ou menos o seguinte: ‘enquanto o inimigo estiver fazendo um movimento errado, deixe-o à vontade’”. A França, no seu tempo histórico apropriado, se livrou dos seus Bonapartes para viver em definitivo a República e a democracia. Nós Brasileiros também nos livraremos dos nossos Bolsonaros e enterraremos de vez o passado autoritário que insiste, vez ou outra, em querer sufocar a nossa vida e a nossa liberdade. 

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